São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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Terror divide o mundo, diz Albright

DE WASHINGTON

Madeleine Albright, 66, secretária de Estado americana no governo Bill Clinton (1993-2001), afirma que a luta contra o terror não terá fim "tão cedo". ""Não chegará o dia em que poderemos comemorar seu término com paradas na rua", disse ela à Folha. (FCz)
 

Folha - Qual o impacto político da vitória do espanhol José Luis Rodríguez Zapatero para a Europa e sobre o combate ao terror?
Madeleine Albright -
Não quero evitar essa pergunta, mas é muito difícil dizer agora. Ainda restam dúvidas sobre se o que aconteceu na Espanha teve a ver mais com a participação do país na Guerra do Iraque ou com o modo condenável como o governo de José María Aznar controlou as informações sobre os atentados.
Mas o importante é que todos tenham em mente que o combate ao terrorismo é um problema que não será resolvido no curto prazo. Temos de estar cientes de que isso não vai acabar tão cedo. Nunca usei a expressão "guerra contra o terror" por não acreditar que chegará o dia em que todos poderemos comemorar o seu fim com paradas nas ruas. Não vejo isso acontecendo no futuro próximo.
É essencial que todo o mundo se engaje nessa luta para que os países tenham recursos e disposição para tentar reduzir o problema. O que me preocupa é que precisamos dessa união, e ela não existe hoje em nossa frente.
No limite, Osama bin Laden conseguiu o que décadas de comunismo não fizeram: dividir a Europa, os Estados Unidos e o resto do mundo islâmico.
Temos hoje um mundo completamente dividido. O que temos pela frente é o desafio de reduzir esse abismo.

Folha - Quais os resultados mais preocupantes da pesquisa do Pew sobre a rejeição aos EUA?
Albright -
A maioria dos países pesquisados acredita que os EUA estejam reagindo com mais força do que deveriam em relação à ameaça terrorista. Pessoalmente, acredito que eles estejam errados e espero que a tragédia espanhola faça com que mudem de opinião.
A mensagem geral em relação aos EUA é que nossa política internacional permanece altamente impopular. É desalentador verificar que apenas os norte-americanos acreditam que a Guerra do Iraque tenha ajudado na luta contra a Al Qaeda. A guerra também causou forte queda na confiança em relação ao compromisso norte-americano com a democracia.
O mais preocupante é que a psicologia da parceria entre os EUA e a Europa que sempre prevaleceu por décadas foi substituída por desprezo de um lado e competição do outro, o que é um erro, pois, para derrotar o terrorismo, temos de estar juntos.
A credibilidade dos EUA está afundando, e os números refletem que a população está convencida de que seus líderes estão mentindo, o que é incrivelmente sério. Quando você é uma superpotência, a coisa mais importante é a legitimidade de suas decisões. E isso foi atingido nos EUA.


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