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Terror divide o mundo, diz Albright
DE WASHINGTON
Madeleine Albright, 66, secretária de Estado americana no governo Bill Clinton (1993-2001), afirma que a luta contra o terror não
terá fim "tão cedo". ""Não chegará
o dia em que poderemos comemorar seu término com paradas
na rua", disse ela à Folha.
(FCz)
Folha - Qual o impacto político da
vitória do espanhol José Luis Rodríguez Zapatero para a Europa e sobre o combate ao terror?
Madeleine Albright - Não quero
evitar essa pergunta, mas é muito
difícil dizer agora. Ainda restam
dúvidas sobre se o que aconteceu
na Espanha teve a ver mais com a
participação do país na Guerra do
Iraque ou com o modo condenável como o governo de José María
Aznar controlou as informações
sobre os atentados.
Mas o importante é que todos
tenham em mente que o combate
ao terrorismo é um problema que
não será resolvido no curto prazo.
Temos de estar cientes de que isso
não vai acabar tão cedo. Nunca
usei a expressão "guerra contra o
terror" por não acreditar que chegará o dia em que todos poderemos comemorar o seu fim com
paradas nas ruas. Não vejo isso
acontecendo no futuro próximo.
É essencial que todo o mundo se
engaje nessa luta para que os países tenham recursos e disposição
para tentar reduzir o problema. O
que me preocupa é que precisamos dessa união, e ela não existe
hoje em nossa frente.
No limite, Osama bin Laden
conseguiu o que décadas de comunismo não fizeram: dividir a
Europa, os Estados Unidos e o
resto do mundo islâmico.
Temos hoje um mundo completamente dividido. O que temos
pela frente é o desafio de reduzir
esse abismo.
Folha - Quais os resultados mais
preocupantes da pesquisa do Pew
sobre a rejeição aos EUA?
Albright - A maioria dos países
pesquisados acredita que os EUA
estejam reagindo com mais força
do que deveriam em relação à
ameaça terrorista. Pessoalmente,
acredito que eles estejam errados
e espero que a tragédia espanhola
faça com que mudem de opinião.
A mensagem geral em relação
aos EUA é que nossa política internacional permanece altamente
impopular. É desalentador verificar que apenas os norte-americanos acreditam que a Guerra do
Iraque tenha ajudado na luta contra a Al Qaeda. A guerra também
causou forte queda na confiança
em relação ao compromisso norte-americano com a democracia.
O mais preocupante é que a psicologia da parceria entre os EUA e
a Europa que sempre prevaleceu
por décadas foi substituída por
desprezo de um lado e competição do outro, o que é um erro,
pois, para derrotar o terrorismo,
temos de estar juntos.
A credibilidade dos EUA está
afundando, e os números refletem que a população está convencida de que seus líderes estão
mentindo, o que é incrivelmente
sério. Quando você é uma superpotência, a coisa mais importante
é a legitimidade de suas decisões.
E isso foi atingido nos EUA.
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