São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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ATENTADOS EM MADRI

Pista marroquina mobiliza atenções da polícia e da força internacional que ajuda na investigação

Polícia busca mais 5 marroquinos suspeitos

JULIO GOMES FILHO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM MADRI

A polícia espanhola busca cinco marroquinos suspeitos de terem participado dos atentados da última quinta-feira, em Madri, que deixaram 201 mortos. As investigações apontam para oito marroquinos, sendo que três deles já estão detidos -os outros cinco, segundo fontes da polícia, já podem ter deixado o país.
Na localidade basca de San Sebastian, o argelino Ali Amrous foi preso devido a um depoimento dado à polícia dois meses atrás. Na ocasião, ele havia declarado que "a Espanha seria inundada de mortes", citando a estação ferroviária de Atocha e o Paseo de Castellana, uma das principais avenidas da cidade, como "alvos". A polícia acredita que o argelino não tenha relação com os atentados em si, mas possa ajudar com informações sobre os culpados.
Depois de apontar inicialmente o grupo terrorista basco ETA como autor dos atentados, o governo espanhol, derrotado nas eleições de domingo passado, já voltou suas atenções completamente para a Al Qaeda e seus braços espalhados pela África e a Europa.
Um dos três marroquinos atualmente detidos é Jamal Zougam, identificado por duas testemunhas que o teriam visto em um dos quatro trens alvos dos atentados. Zougam faria parte de grupos radicais islâmicos desde 1993 e estaria envolvido também em um ataque que deixou 45 mortos em abril do ano passado, na cidade marroquina de Casablanca. Os outros cinco marroquinos não tiveram suas identidades reveladas.
A pista marroquina está centralizando todas as atenções da polícia local e da força internacional que contribui com as investigações. Segundo a rádio Cadena Ser, suspeita-se que um argelino, Said Arel, e um jordaniano, Abu Mosad al Fakaui, tenham sido os articuladores dos ataques.
Abu Mosad al Fakaui, do grupo terrorista Ansar al Islam, braço da Al Qaeda, é apontado pelos serviços de inteligência dos EUA como "suspeito número um" dos atentados de agosto de 2003 contra a ONU no Iraque. A recompensa para sua captura é atualmente de US$ 10 milhões.
As investigações concentram-se também nos explosivos e detonadores usados nos atentados -uma das mochilas carregadas acabou não explodindo e vem sendo peça fundamental.
A gelatina explosiva utilizada tem procedência espanhola e, segundo a fabricante, a União Espanhola de Explosivos, não há relatos de desvios ou roubo recentemente. A polícia está consultando distribuidores em Marrocos e em outros países do norte da África.
Especialista em explosivos, a polícia espanhola vem recebendo ajuda internacional para solucionar o quebra-cabeças em que se transformou a investigação.
Estão sendo investigadas também listas de passageiros que chegaram à Espanha e saíram do país nas últimas semanas, especialmente de vôos procedentes de Marrocos. Isso porque há a possibilidade de que o grupo de terroristas tenha chegado pouco antes da ação ao país, saindo rapidamente após o episódio.
"Estamos avançando e estão aparecendo novos indícios. Agora é necessário deixar as forças de segurança trabalharem", disse o ministro do interior, Ángel Acebes, que ainda não se esqueceu do ETA: "Não de pode descartar nenhuma opção".
Foi confirmada ontem a morte de uma mulher de 45 anos que estava em um dos trens que explodiram em Atocha. Com isso, o total de mortos chegou a 201. Ainda há 203 feridos hospitalizados, seis deles em estado crítico.
Também ontem, uma missa foi celebrada na catedral Almudena em homenagem às vítimas. A celebração contou com a presença de mais de 3.000 pessoas, entre elas a rainha Sofia.
Em Marrocos, a chanceler da Espanha, Ana Palacio, compareceu a uma cerimônia religiosa em solidariedade aos espanhóis.


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