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RELIGIÃO
Usando dinheiro do dízimo, religioso norte-americano compra "tempo" de mulheres para lhes dar conselhos
Padre paga para "salvar" prostitutas
DIRK JOHNSON
do "The New York Times", em Chicago
Protegido pela escuridão da
noite nas ruas perigosas do bairro
de South Side, o padre católico
Michael Pfleger, 50, está à procura de prostitutas.
Vigário da igreja de Santa Sabina, Pfleger paga às mulheres em
dinheiro -a maioria cobra US$
50 por meia hora- e usa o tempo
comprado para conversar com
elas sobre maneiras de escapar da
"indignidade" e dos perigos inerentes ao sexo pago.
Equipes com três fiéis da paróquia de Santa Sabina, às vezes
sem Pfleger, fazem as rondas do
bairro para resgatar prostitutas.
Uma das que encontraram foi
Kathy Ellis, 40, viciada em drogas.
"Tenho vergonha da vida que levo", disse Ellis ao padre, "mas tenho seis filhos para criar e um
mundo de problemas. Não sei o
que mais fazer".
Pfleger disse a Ellis que a igreja a
ajudaria a conseguir aconselhamento psicológico para se afastar
das drogas e treinamento profissional. Lavaria suas roupas e até
lhe pagaria um corte de cabelo
num salão de beleza.
"Alguém se preocupa comigo",
disse Ellis, que hoje participa de
reuniões dos Narcóticos Anônimos. "É um sentimento que nunca antes tive. Quando você está lá
fora, nas ruas, se prostituindo,
não imagina que alguém possa
importar-se com você."
Usando dinheiro do dízimo para comprar tempo de prostitutas
e traficantes para lhes dar aconselhamento e apoio, Pfleger está
mais uma vez suscitando olhares
de reprovação dos líderes da arquidiocese de Chicago.
Ativista social ao estilo dos anos
60 e há muito crítico da hierarquia eclesiástica, Pfleger já organizou protestos em "sex shops" e
passou mãos de tinta branca sobre placas de propaganda de bebidas em bairros pobres.
Desde que a notícia da campanha se espalhou, pessoas que não
pertencem à igreja já enviaram
outros US$ 4.000.
Desde que o padre começou
seu trabalho na igreja de Santa
Sabina, há 25 anos, transformando uma paróquia católica irlandesa moribunda numa dinâmica
congregação negra, alguns dos líderes mais conservadores da arquidiocese o enxergam como
criador de problemas.
O cardeal Francis George, líder
conservador da arquidiocese de
Chicago -a maior do país-
nunca fez nenhum comentário
público acerca do trabalho de
Pfleger. O padre conta que cruzou com o cardeal recentemente
e que este "fez um comentário
que soou sarcástico".
A arquidiocese adotou como
norma repassar pedidos de informação sobre Pfleger ao bispo Joseph Perry, que qualifica a idéia
de um padre pagar prostitutas
como "um tanto quanto incomum". Mas o bispo disse que os
líderes da igreja, incluindo o cardeal George, não têm atitude hostil em relação a Pfleger e não duvidam de sua sinceridade.
Mas Pfleger se diz frustrado
com os líderes da igreja: "Recebo
telefonemas e ofertas de ajuda de
toda parte, menos de minha arquidiocese. O que estou fazendo
não é o que o Evangelho recomenda? Os líderes da Igreja falam
em evangelização. Bem, se isso
não é evangelização, então não
sei o que é".
No trabalho de rua que faz com
prostitutas e traficantes, Pfleger
organiza equipes de três pessoas
para vasculhar as ruas. Um dos
homens fica sentado num carro
equipado com rádio transmissor
e receptor, de prontidão no caso
de haver algum problema.
Elogios da polícia
A polícia de Chicago, que elogia
o trabalho do padre, também
acompanha sua missão nas ruas.
"O padre Pfleger trabalha em
cooperação com a polícia", disse
Dexter Yarbrough, agente da polícia comunitária de Chicago.
Yarbrough disse que já observou
Pfleger bater nas portas e avisar:
"O que vocês estão fazendo é errado. Vou usar o poder da oração
-e também do Departamento de
Polícia de Chicago, se for preciso- para acabar com isso".
Nos encontros que teve em 99
com líderes de gangues, Pfleger
conseguiu deles a promessa de
que os que quiserem abandonar
uma gangue poderão fazê-lo sem
sofrer represálias, desde que não
entrem numa gangue rival.
As prostitutas encontradas por
Pfleger são de todas as idades,
desde meninas de 13 anos até mulheres na casa dos 60. Em alguns
casos, contou ele, as mulheres vivem com medo dos cafetões que
as controlam. A igreja já ajudou
pelo menos duas dessas mulheres
a se mudar para outros bairros.
"Uma delas levantou a blusa para me mostrar como seu cafetão
havia queimado os bicos de seus
seios", contou Pfleger. "Parece
que certa noite ela voltou sem levar dinheiro suficiente."
Triste e irado, o padre abanou a
cabeça e soltou uma imprecação.
Tradução de Clara Allain
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