São Paulo, sábado, 17 de maio de 1997.



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Embaixada raciona comida e telefone

RENATA GIRALDI
da Sucursal de Brasília

A Embaixada do Zaire, em Brasília, é uma reprodução fiel da crise que se abateu sobre o país. O embaixador Boindombe Manzjia, 46, foi obrigado há um ano e meio a mudá-la de local. Motivo: não conseguia pagar o aluguel e as contas da representação diplomática.
Há dois anos o governo de Mobutu Sese Seko não paga os salários de seus funcionários na embaixada brasileira nem manda recursos para as despesas de manutenção.
A maioria dos funcionários da embaixada abandonou seus postos. Da equipe original, formada por dez pessoas, sobraram três: o embaixador, o secretário e o cozinheiro.
Quando os credores começaram a cobrar as contas e a denunciar as dívidas na imprensa de Brasília, o embaixador procurou um aluguel que não ultrapassasse os R$ 2.000 e transferiu a representação para uma casa menor do Lago Sul.
O consumo de água e luz e o uso do telefone estão sob severo controle. A comida é racionada. O lema é gastar o mínimo e fazer com que tudo renda o máximo -telefone, de preferência, só para receber ligações.
Sem dinheiro, os três empregados da embaixada se transformaram em profissionais de múltiplas funções. O embaixador é também motorista, o secretário da embaixada faz o papel de contínuo, e o cozinheiro se transforma em assistente, quando necessário.
Os três são unânimes ao defender a ação militar do líder rebelde Laurent-Desiré Kabila e ao atacar Mobutu.
"Ninguém aguenta mais ser escravo de Mobutu. Kabila é um herói", afirmou o cozinheiro "papa" (como no Zaire se chamam os homens de idade) Mobu.
"Sou radicalmente contra a ditadura. A democracia pode ter muitos defeitos, mas é o melhor dos regimes", disse o embaixador Boindombe.
Ele diz não temer represálias. Para o embaixador, o importante é que seja evitado um "banho de sangue" envolvendo a população. "O povo do Zaire parece o do Brasil. Nós gostamos de festas, alegria e diversão", disse Boindombe.


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