São Paulo, sábado, 17 de maio de 1997.



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Suíça suspende poder de Mobutu sobre mansão

das agências internacionais

O governo suíço congelou a posse de Mobutu Sese Seko sobre uma mansão sua no país. A ordem não se estende a suas contas bancárias. A decisão da Justiça Federal suíça se baseou em um pedido do promotor de Lubumbashi, ligado aos rebeldes.
Nesta semana, a Suíça anunciara que estava estudando o congelamento de todos os bens do ditador no país, inclusive o dinheiro eventualmente depositado em suas contas bancárias.
O conjunto de casas de Mobutu fica no cantão de Vaud (oeste) e está avaliado em US$ 2,5 milhões. Ele vai constar no registro imobiliário, a partir de agora, como "bloqueado", que "não pode ser transferido até nova determinação".
Apesar do valor elevado, a mansão não é o bem mais valioso de Mobutu no exterior. Em Portugal, por exemplo, Mobutu tem uma casa de 12 quartos no Algarve. A propriedade mais valiosa é um castelo na Bélgica, avaliado em US$ 11,3 milhões.
Segundo o jornal britânico "Financial Times", o patrimônio total de Mobutu chegou a US$ 4 bilhões em meados dos anos 80.
O presidente do Zaire é (ou, pelo menos, foi) proprietário de uma fazenda de café no Brasil, também segundo reportagem do "Financial Times", baseada em levantamento do patrimônio de Mobutu, angariado em quase 32 anos no poder.
A propriedade no Brasil foi provavelmente comprada por um testa-de-ferro do presidente.
O embaixador do Zaire no Brasil, Boindombe Manzjia, disse à Folha, após conhecer a reportagem do "Financial Times", que "é possível" que o ditador seja dono de uma fazenda de café no interior no país.
O embaixador vem fazendo críticas ao próprio governo. Disse que Mobutu provavelmente pôs pessoas da sua confiança para cuidar do assunto. Manzjia negou ter tratado sobre qualquer assunto pessoal com o presidente do Zaire, nos seus sete anos de Brasil.
Segundo o embaixador, o estilo de Mobutu consiste em manter pessoas de sua confiança cuidando de seus negócios, e ele não se considera um desses "eleitos". O ditador do Zaire visitou o Brasil apenas uma vez, em 1987.
Desvio
A maior parte do dinheiro do patrimônio de Mobutu foi desviado de doações e financiamentos dados ao Zaire por organizações e governos ocidentais.
Nos anos 70, o dinheiro obtido com as exportações do país era mantido em contas no exterior de pessoas ligadas ao regime.
Mobutu contou com a complacência de autoridades ocidentais para conseguir desviar o dinheiro. O presidente era considerado um aliado importante contra a ameaça comunista durante a Guerra Fria.
"Quando Angola começou a ser influenciada por Cuba, o Zaire era considerado uma fortaleza em que se podia confiar", disse Leo Tindemans, primeiro-ministro da Bélgica entre 1974 e 1978.
Com a guerra civil em uma Angola independente, a partir de 1975, o dinheiro que seria dado pelos EUA à Unita foi enviado a Mobutu, com a expectativa de que fosse transferido para o combate de guerrilheiros apoiados pela União Soviética.
Em 1982, o FMI (Fundo Monetário Internacional) recebeu um relatório denunciando a corrupção financeira no país.
O documento não só foi ignorado pelo FMI como a ajuda destinada pelo órgão ao Zaire aumentou.
Hoje, o Banco Mundial e o FMI calculam que a fortuna do presidente do Zaire, Mobutu Sese Seko, está na casa dos US$ 6 bilhões.
De acordo com estimativa do FMI, nos últimos anos, a fortuna pessoal de Mobutu teria aumentado cerca de 50%.



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