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HISTÓRIA
Zaire foi o centro do confronto entre Estados Unidos e União Soviética na África, durante a Guerra Fria
Riqueza dificultou o fim da colonização
da Reportagem Local
A descolonização da África
negra teve no
Zaire (ex-Congo
Belga) seu mais
violento e demorado capítulo. Duas razões
para isso.
Havia o que os técnicos europeus
designavam, com ironia, como
um "escândalo geológico": alta
concentração de minérios no país.
Em segundo lugar, o Zaire
-maior que o México, duas vezes
o tamanho da Bolívia- tornou-se
a partir de 1960 o epicentro do
confronto entre as duas superpotências, Estados Unidos e União
Soviética. Foi um dos pontos
quentes durante a Guerra Fria.
Em 1959, manifestações pela independência provocavam 42 mortos em Leopoldville (atual Kinshasa). Bruxelas recua e aceita a criação de um Estado. O Zaire nasce
em 39 de junho de 1960. Joseph Kazavubu é eleito presidente. Patrice
Lumumba é escolhido premiê.
Ambos se definem como socialistas e não-alinhados, o que, para
a Bélgica e os Estados Unidos, era
meio caminho andado para a repetição, na África, do mau exemplo
que Cuba daria no Caribe.
As Províncias ricas em minerais
do sul, região de Katanga, proclamam a independência, com a ajuda de Bruxelas e da CIA, a central
de inteligência norte-americana.
Lumumba apela para a ONU,
que envia 19 mil homens. Lança
outro apelo em direção à URSS, o
que lhe custa o cargo. Ele seria assassinado em janeiro de 1961.
Em outubro daquele ano, o secretário-geral da ONU, o sueco
Dag Hammarskjöld, morre em
acidente aeronáutico, sobre o qual
pesam até hoje suspeitas.
A Província separatista de Katanga volta ao Zaire em 1963. Outro separatista, Albert Kalongdji,
autoproclamado "imperador"
dos Balubas, é enquadrado.
As coisas só se normalizam
quando um oficial de 34 anos, chamado Mobutu Sese Seko, dá um
golpe com o apoio dos Estados
Unidos e inicia, em novembro de
1965, sua longa ditadura.
Não há estimativas confiáveis sobre o número de mortes, no Zaire,
durante o período de agitação
pós-independência. Poderão ter
sido 300 mil ou mais que isso.
Muito sangue também correu na
África do Norte. A Guerra da Argélia matou de 300 mil a 600 mil pessoas (não há tampouco, no caso,
estimativa mais precisa), antes que
aquela "província" da França se
tornasse independente, em 1962.
Na África negra, que assistiria
ainda a uma guerra civil em Angola, a França sufocou revoltas na
Costa do Marfim (1950) e nos Camarões (1955).
Não houve no continente africano um modelo único de descolonização. A própria colonização, a
partir do século 16, obedecera a receitas diferenciadas.
Começava, como no caso de
Portugal em Angola, com entrepostos litorâneos para a compra de
escravos ou matérias-primas, e
terminava em protetorado ou em
pura anexação territorial.
O que prevaleceu entre as potências coloniais -Reino Unido, Bélgica, Espanha, França, Itália e,
mais tardiamente, Portugal- foi a
descoberta de que o capitalismo
chegara a um ponto em que dispensava a manutenção institucionalizada de impérios coloniais.
Nos anos 50, a tecnologia agregada aos produtos das metrópoles
passou a ter um peso gradativamente maior. As "commodities"
poderiam ser obtidas por mecanismos de dominação mais sutis e
menos agressivos.
Muitos dos processos de independência foram pacíficos, como
o do Marrocos (1956), ex-protetorado francês, ou o do Quênia
(1963), ex-colônia britânica.
(JOÃO BATISTA NATALI)
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