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Guerrilha nega que faça recrutamento forçado
DA REDAÇÃO
Quando João França Pinheiro
foi preso, junto com um venezuelano, a imprensa colombiana e as
agências internacionais deram
com destaque. "Farc recrutam
guerrilheiros venezuelanos e brasileiros", dizia o diário "El Espectador", com texto da "Associated
Press". A agência "France Presse"
tinha o mesmo tom: "A guerrilha
Farc está recrutando brasileiros e
venezuelanos".
A "France Presse" citava o comandante da 4ª Divisão do Exército colombiano, general Arcesio
Barrero. Segundo o militar, Pinheiro teria dito que as Farc haviam recrutado vários brasileiros
e venezuelanos. A "Associated
Press" trazia declarações do comandante do Exército da Colômbia, general Jorge Enrique Mora:
"São pessoas recrutadas na fronteira e que terminam fazendo parte dessas organizações".
A notícia decerto agradou a
uma parte do Exército colombiano, ansiosa por envolvimento dos
vizinhos num conflito no qual militares, paramilitares e guerrilheiros já mataram mais de 35 mil
pessoas só nos últimos dez anos.
De acordo com o promotor do
caso de Pinheiro, porém, o rapaz
nada disse sobre recrutamento de
outros brasileiros e não há casos
semelhantes. A assessoria de imprensa do Exército colombiano
informou, por sua vez, que "não
há registros de uma atividade de
recrutamento de brasileiros por
parte das Farc". "Foi o único pronunciamento que [o comandante
Mora" fez sobre esse assunto, na
ocasião da captura dessa pessoa.
Não há mais dados sobre isso",
disse à Folha Enrique Hernández,
porta-voz do Exército.
A guerrilha afirma que histórias
como a de Pinheiro fazem parte
de uma campanha internacional
para acelerar o Plano Colômbia e
dar ensejo a uma intervenção militar no país. "Não há uma política
para recrutamento de estrangeiros", afirmou à Folha Mauricio
Valverde, integrante da comissão
internacional das Farc.
Valverde explica que as diretrizes da guerrilha são determinadas
em conferências periódicas. Foi
assim que se definiram as chamadas "normas de ingresso".
Em tese, para entrar nas Farc é
preciso que o candidato (homem
ou mulher maior de 15 anos) o faça voluntariamente, sem imposição de condições e com aceitação
de todas as regras ideológicas e
disciplinares da organização
-segundo as Farc, não há, por
exemplo, o compromisso de um
salário, pois os fundos obtidos são
divididos entre todos. "Não saímos por aí capturando pessoas.
Respeitamos as fronteiras, inclusive para que os países vizinhos
não intervenham na Colômbia",
disse Valverde.
A Polícia Federal afirma ter
apurado, junto a ex-colegas de Pinheiro no garimpo, que o rapaz
entrou na guerrilha porque quis.
O delegado Mauro Spósito, que
coordena operações da PF na
fronteira, nunca tinha ouvido falar de recrutamento forçado de
brasileiros pelas Farc. Para ele, a
guerrilha tem respeitado o território e os brasileiros.
Pinheiro teria aderido à guerrilha após uma briga com o dono
da balsa de garimpo de ouro por
causa de falta de pagamento. "Foi
seduzido. Estava bravo com o patrão e decidiu entrar para as
Farc", disse Spósito. "Prometem
mundos e fundos. Salários de US$
200 a US$ 250, assistência médica.
Se dão, não sei dizer."
A Anistia Internacional não conhece casos como o de Pinheiro,
mas em seu último relatório anual
diz que garotos de 13 anos continuam a ser recrutadas pelas Farc.
Para Edgar Téllez, chefe de redação da revista "Cambio", dirigida pelo escritor Gabriel García
Márquez, há denúncias de que os
guerrilheiros obrigam pessoas a
segui-los, e a versão de Pinheiro
pode ser verdadeira. "O recrutamento forçado não é uma fantasia", disse Téllez à Folha.
(RPM)
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