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Brasil é um dos mais avançados, diz Roland
DA REDAÇÃO
A psicóloga Edna Roland, escolhida pela ONU para verificar o
cumprimento de políticas aprovadas na Conferência contra o
Racismo (Durban, 2001), deu a seguinte entrevista por telefone à
Folha, de Brasília.
(FM)
Folha - Qual é a função dos monitores?
Edna Roland - Cada pessoa ficará
encarregada da sua região de origem. A maneira de trabalho do
grupo será determinada na primeira reunião, que será realizada
ainda neste ano. Creio que nós
trabalharemos com base no levantamento de informações, que
serão coletadas pelo Alto Comissariado para Direitos Humanos.
Folha - Qual será a sua função?
Roland - Eu vou acompanhar, na
América Latina e no Caribe, os
pontos aprovados em Durban,
avaliar criticamente essas informações, apontar áreas que não estão recebendo a devida atenção.
Folha - O que mudou na América
Latina desde Durban?
Roland - Houve um desenvolvimento desigual. Nos países em
que houve uma maior mobilização da sociedade, há notícias de
iniciativas para a implementação
de um programa de ação. Nesse
sentido, o Brasil é um dos países
que têm apresentado um maior
número de propostas. Também
temos notícias de implantação no
Uruguai e em Honduras.
Folha - O que pode acontecer caso
um país não implemente o que foi
acertado em Durban?
Roland -O plano de ação de Durban não é uma convenção nem
um tratado, acordos que obrigam
o país que assina o documento a
implementá-lo. No caso de uma
declaração e de um plano de ação,
o efeito é mais de ordem política,
ética e moral e, portanto, depende
do grau de mobilização na sociedade para que ele venha a ser implementado. A ONU não tem poder de sanção.
Folha - A conferência ficou marcada pela saída dos EUA e de Israel,
por discordâncias em relação ao
Oriente Médio. Como será a atuação dessa monitoria na região?
Roland -A região será discutida a
partir da temática do racismo e da
discriminação racial. Agora, o
problema do Oriente Médio ultrapassa isso. Há muitas outras
questões de ordem geopolítica.
Folha - O governo Lula criou a Secretaria Especial de Promoção da
Igualdade Racial, nomeou o primeiro ministro negro do Supremo
Tribunal Federal e tem quatro ministros negros, mas não definiu se
serão implantadas políticas de
ação afirmativa. O sra. considera
que faltam sinais mais concretos?
Roland - Essas ações são simbólicas, mas não apenas isso. Nós sabemos que faz muita diferença ter
um ministro negro ou não. É fundamental que existam negros nos
lugares de poder para que políticas públicas possam ser elaboradas a partir da perspectiva do negro. Por outro lado, foi muito importante a criação da secretaria,
mas ainda estamos aguardando
para ver as condições efetivas que
serão oferecidas em termos de orçamento e de condições técnicas.
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