UOL


São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil é um dos mais avançados, diz Roland

DA REDAÇÃO

A psicóloga Edna Roland, escolhida pela ONU para verificar o cumprimento de políticas aprovadas na Conferência contra o Racismo (Durban, 2001), deu a seguinte entrevista por telefone à Folha, de Brasília. (FM)
 

Folha - Qual é a função dos monitores?
Edna Roland -
Cada pessoa ficará encarregada da sua região de origem. A maneira de trabalho do grupo será determinada na primeira reunião, que será realizada ainda neste ano. Creio que nós trabalharemos com base no levantamento de informações, que serão coletadas pelo Alto Comissariado para Direitos Humanos.

Folha - Qual será a sua função?
Roland -
Eu vou acompanhar, na América Latina e no Caribe, os pontos aprovados em Durban, avaliar criticamente essas informações, apontar áreas que não estão recebendo a devida atenção.

Folha - O que mudou na América Latina desde Durban?
Roland -
Houve um desenvolvimento desigual. Nos países em que houve uma maior mobilização da sociedade, há notícias de iniciativas para a implementação de um programa de ação. Nesse sentido, o Brasil é um dos países que têm apresentado um maior número de propostas. Também temos notícias de implantação no Uruguai e em Honduras.

Folha - O que pode acontecer caso um país não implemente o que foi acertado em Durban?
Roland -
O plano de ação de Durban não é uma convenção nem um tratado, acordos que obrigam o país que assina o documento a implementá-lo. No caso de uma declaração e de um plano de ação, o efeito é mais de ordem política, ética e moral e, portanto, depende do grau de mobilização na sociedade para que ele venha a ser implementado. A ONU não tem poder de sanção.

Folha - A conferência ficou marcada pela saída dos EUA e de Israel, por discordâncias em relação ao Oriente Médio. Como será a atuação dessa monitoria na região?
Roland -
A região será discutida a partir da temática do racismo e da discriminação racial. Agora, o problema do Oriente Médio ultrapassa isso. Há muitas outras questões de ordem geopolítica.

Folha - O governo Lula criou a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, nomeou o primeiro ministro negro do Supremo Tribunal Federal e tem quatro ministros negros, mas não definiu se serão implantadas políticas de ação afirmativa. O sra. considera que faltam sinais mais concretos?
Roland -
Essas ações são simbólicas, mas não apenas isso. Nós sabemos que faz muita diferença ter um ministro negro ou não. É fundamental que existam negros nos lugares de poder para que políticas públicas possam ser elaboradas a partir da perspectiva do negro. Por outro lado, foi muito importante a criação da secretaria, mas ainda estamos aguardando para ver as condições efetivas que serão oferecidas em termos de orçamento e de condições técnicas.


Texto Anterior: Direitos humanos: Brasileira vai monitorar racismo para ONU
Próximo Texto: Diplomacia: Governo argentino vai reivindicar Malvinas
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.