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Prioridade é deter crimes atrozes, afirma promotor-chefe da corte
GABRIELA CAÑAS
DO "EL PAÍS", EM BRUXELAS
O advogado argentino Luis Moreno Ocampo, 50, promotor-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI) desde 16 de junho, dispõe apenas de uma equipe modesta para trabalhar no momento
-quatro funcionários, sete assistentes e seis ajudantes interinos.
Mas está disposto a investigar todos os crimes cometidos em Ituri,
Província do Congo onde o TPI
deve abrir o primeiro caso. Ontem, ele conversou por telefone
com o "El País" sobre suas primeiras iniciativas no cargo.
Pergunta - Dos EUA, um país que
está lutando contra o TPI, chegaram 70 denúncias. Só a Alemanha
apresentou um número mais elevado de denúncias, com 93. O que isso
significa para o senhor?
Luis Moreno Ocampo - Parece-me muito importante que haja interesse das pessoas, embora vivam em países que não fazem
parte do tribunal. E algumas das
organizações mais importantes,
de fato, trabalham nos Estados
Unidos, financiadas por verbas
norte-americanas. Trata-se de um
tribunal muito novo e muito especial, e é normal que haja medos
e desajustes. Precisamos de tempo para montá-lo. São instituições novas que estamos inventando para viver em um mundo novo
e mais complicado.
Pergunta - A União Européia
apoiou o TPI e enviou para o Congo
pela primeira vez sua Força de Deslocamento Rápido. Por isso, tudo
tem traços muito europeus.
Moreno Ocampo - Sim, no Congo
contamos com grande apoio da
comunidade internacional e, especialmente, da União Européia.
E acreditamos que o tribunal esteja pronto para agir.
Pergunta - Certamente existem
outros casos denunciados que devem ser investigados pelo TPI.
Moreno Ocampo - Sim, mas no
caso em questão [Congo] temos
pessoas morrendo em grande número. Há um crime atroz em curso, e é preciso impedir que isso
continue. A mensagem que os criminosos têm de receber é a de que
existe um promotor no TPI que
investigará seus crimes e as pessoas que os financiam.
Pergunta - Atuar em um país em
desenvolvimento é uma situação
esperada. Suponho que intervir
nos crimes dos países ricos seja
mais difícil.
Moreno Ocampo - Não. Há denúncias genéricas contra as tropas aliadas no Iraque, por exemplo, e muitos dos países que as enviaram são parte do TPI. Mas é
preciso definir como, diante de
uma denúncia específica, o sistema jurídico nacional tratará a
questão. Se ela for investigada seriamente, não há motivo para que
o TPI intervenha. Essa é a idéia. O
TPI seria como uma espécie de
corpo de bombeiros para emergências. Em Ituri não existe nada.
Por isso temos que intervir. Não é
que seja mais fácil. Pelo contrário.
É muito mais fácil investigar em
um país organizado do que em
um país desorganizado. Em lugares como Ituri é que o TPI faz falta.
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