São Paulo, Domingo, 17 de Outubro de 1999
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O GOVERNISTA
Argentina: continuidade e renovação

EDUARDO DUHALDE
especial para a Folha

Sou o candidato a Presidente da Argentina do Partido Justicialista. Após ter acompanhado o Dr. Carlos Menem como vice-presidente entre 1989 e 1991, governei a Província de Buenos Aires durante os últimos oito anos. Ela é a principal Província argentina, concentra quase 40% da população, da produção e das exportações. De 83 a 89 seu Produto Interno Bruto (PIB) havia caído cerca de 5%, e consegui fazê-lo crescer 49%.
Governei com equilíbrio e solvência fiscal. Consegui incrementar a arrecadação fiscal e reduzir os impostos para a produção. Segui uma política de privatização orientada por critérios próprios. Consegui reduzir a dívida pública e durante minha gestão o investimento público superou todos os recordes históricos.
Durante meu governo, apoiou-se o crescimento das pequenas e médias empresas, duplicou-se o investimento em educação e implementou-se uma profunda reforma educativa. Tudo isto, colocando os organismos de controle dos atos do governo nas mãos da oposição política.
Um dos eixos de meu governo foi a assistência aos mais necessitados. E, durante a última etapa, encarei com força as chamadas reformas de segunda geração, que, sem dúvida, serão continuadas por quem me suceder.
Esses antecedentes são minha principal carta de apresentação. Minha proposta de governo tem como eixo um diagnóstico da crise que o país atravessa como resultado da chegada sucessiva de quatro crises externas.
O principal resultado dessas crises foi um incessante aumento do desemprego e do subemprego, tornando o trabalho a principal demanda dos cidadãos.
Fiz dessa demanda o principal eixo de minha campanha.
A Argentina só poderá sair da crise defendendo as conquistas da gestão anterior: a convertibilidade monetária e a estabilidade, a produção e o trabalho. Por sua vez, a proposta elevará a competitividade das empresas e melhorará a distribuição de renda.
Com ela vamos produzir um choque produtivo, que, dada a enorme capacidade de reação que a economia argentina provou ter, fará com que os índices de desemprego baixem drasticamente nos próximos anos.
Mas a recuperação é muito mais que um pacote de medidas para sair de uma conjuntura recessiva. É uma nova forma de governar na nova realidade mundial que nasceu após a aplicação das receitas de ajuste macroeconômico. A prova de seu êxito foram Chile, Holanda e Espanha.
São propostas claras e factíveis. Já estão sendo debatidas no Congresso. A profundidade da crise faz com que a adoção das medidas não possa esperar até que o próximo governo assuma.
A Argentina teve uma política de relações exteriores errática e circunstancial. É preciso que as forças políticas mais representativas estabeleçam ações no curto e no médio prazo e que elas sejam assumidas como um compromisso nacional.
São indispensáveis os seguintes pontos:
A revitalização das Nações Unidas como agente para conseguir uma democracia mundial que garantisse os princípios básicos de não-intervenção e respeito à vontade soberana dos Estados.
A inclusão da América Latina de forma permanente no Conselho de Segurança.
A continuidade e o aprofundamento da aliança estratégica cristalizada no Mercosul. A formação de um grande pólo de poder político, de desenvolvimento econômico e de crescimento cultural autônomo em nossa América Latina, utilizando essa aliança regional como ponto de partida.
Estou convencido de que a relação de amizade com os Estados Unidos, a maior potência do Ocidente, deve ser entendida como um bem adquirido e vou impulsioná-la o quanto for possível.
A sensível melhoria das relações com o Reino Unido deve ser incrementada. A Argentina avançou muito na política referente às ilhas Malvinas. É preciso avançar no tema pendente da soberania argentina sobre as ilhas por meio de uma diplomacia ativa.
Finalmente, a tradicional diplomacia de cooperação e amizade da Argentina para o mundo deverá estender-se a uma diplomacia continental mais ativa, sobretudo no que concerne ao desenvolvimento de nossa cultura e identidade regional latino-americana.


Eduardo Duhalde, governador da Província de Buenos Aires, é candidato à Presidência pelo Partido Justicialista. (IPS)


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