São Paulo, quarta-feira, 17 de outubro de 2001

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Chinês é preso por defender Taleban

DO ENVIADO A JABAL-SARAJ

Ao contrário dos fundamentalistas de encomenda apresentados pela Aliança do Norte, o chinês Abdul Jalil é um exemplo de como o Taleban conquista mentes. Prisioneiro em Doo-Ab, a cadeia onde ficam os soldados capturados pelos rebeldes, ele dá um depoimento que soa verdadeiro.
Dessa vez, não foi o diretor da prisão, Abdul Qauen, quem escolheu o entrevistado. Qauen aceitou o pedido para apresentar um dos dois chineses presos em Doo-Ab. Entre os estrangeiros, há mais 19 detentos: 14 paquistaneses, 3 iraquianos, 1 do Iêmen e 1 de Bahrein. Trezentos e cinquenta e nove são afegãos que lutavam no Exército do Taleban.
Nascido na Província chinesa de Xinjiang, onde há forte presença muçulmana, Jalil foi estudar em Cabul em 1997. "Eu vim para o Afeganistão porque o Taleban tem o mais verdadeiro estado islâmico", diz o rapaz de 22 anos e preso desde 1999.
Numa madrassa [escola islâmica", ele e mais cinco turcos estudavam o Alcorão quando foram incentivados pelo professor a pegar em armas para defender o islã e enfrentar "os maus muçulmanos" da Aliança do Norte. O nome de Osama bin Laden foi mencionado algumas vezes na madrassa.
Para ir para o campo de batalha, Jalil conta que treinou durante 20 dias. Esse tipo de treinamento com jovens que sofrem uma espécie de lavagem cerebral é um exemplo dos exércitos de camponeses que são o Taleban e a Aliança do Norte. Os dois lados mentem quando falam ter um número elevado de soldados treinados. A maioria é despreparada.
Jalil foi capturado pela Aliança do Norte em 1999, na frente de combate de Sarak-e-Kona, distante menos de 30 km de Cabul.
Jalil conta que ficou frustrado com o Taleban porque esperava ser socorrido pelos colegas. Tem esperança de que, terminada a guerra, com a derrota do grupo extremista que governa o Afeganistão, possa ser aceito por algum país. "Não quero voltar para a China", diz, achando que não seria bem recebido no seu país por ter sido preso no Afeganistão.
O grande sonho de Jalil não é difícil de ser adivinhado. Ele diz que há noites em que sonha que está livre. "Mas, de manhã, vejo que não estou livre e tenho de aceitar isso." (KA)


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