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São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2003

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JUBILEU

Desde 1981, João Paulo 2º vem descrevendo eventos que abalaram sua saúde como sacrifícios pela Igreja Católica

Vaticano alimenta imagem de mártir

Paolo Cocco/ France Presse
João Paulo 2° faz expressão de dor ao final da missa para comemorar o 25º aniversário de seu pontificado, no Vaticano


DO ENVIADO ESPECIAL

A crescente fragilidade do papa João Paulo 2º, 83, vem fortalecendo a imagem de mártir e peregrino incansável (apesar das contrariedades) que o Vaticano cultiva.
Para o teólogo polonês Jan Drabina, o sofrimento físico do papa atrai a admiração dos católicos, que o vêem se sacrificando sem limites em prol da igreja.
Desde que sofreu um grave atentado a tiros que quase o matou em 1981, somente três anos depois de sua eleição, João Paulo 2º vem descrevendo alguns eventos que abalaram sua saúde como um sacrifício em nome da Igreja Católica.
Em 1994, quando fraturou o fêmur, disse, com espírito místico: "Talvez isso fosse necessário para o Ano da Família", querendo dizer que seu sofrimento podia ser visto como um sacrifício especial pela causa dos valores familiares.
Estimulando essa atmosfera de sacrifício e misticismo, a Rádio Vaticano anunciou: "Mais uma vez, o papa é um peregrino pelo mundo do sofrimento, do seu próprio sofrimento, ele que já carrega sobre os ombros o fardo das mágoas da humanidade".
Ontem, o médico italiano que operou João Paulo 2º em 1994 disse que "o papa sempre teve consciência da importância de sacrificar-se pela humanidade".
Ter de usar uma bengala ou outros instrumentos para se locomover e constatar as crescentes dificuldades físicas foi um golpe para o papa.
Depois de sua eleição, ele se comparou a um pinheiro transplantado de sua terra natal: triste por ter de deixar as montanhas de origem, mas ainda uma árvore poderosa. À época, era exaltado como um grande atleta e por seu vigor físico.
Agora, o líder católico se tornou dependente de máquinas -um elevador de carga poupa-lhe o esforço de subir degraus, e cadeiras especiais, mecânicas ou com rodas adaptadas, facilitam sua locomoção- e de pessoas para poder fazer suas atividades mais simples. Leituras, muitas vezes, precisam ser interrompidas, e compromissos, cancelados.

Ideologia do sofrimento
A Igreja Católica vem enfatizando essa ideologia do sofrimento, o fato de que o papa de certa forma está arriscando a vida através de esforços excessivos -em viagens longas apesar da fadiga, por exemplo- e mantém uma rotina de oração e dedicação.
Essa conexão mística entre o sofrimento e a missão de liderar a igreja é, de fato, uma das marcas deste pontificado.
"Ele está se doando mesmo com todo o sacrifício que isso significa. Sentimos que é uma espécie de despedida, e dizem que estas são as últimas aparições públicas dele. É um privilégio vivenciar esses momentos", afirma Pery Coelho. brasileiro que veio a Roma especialmente para participar das celebrações do 25º aniversário do pontificado.
(PAULO DANIEL FARAH)

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