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ANÁLISE
Papa é um dos maiores líderes de seu tempo
DO ENVIADO ESPECIAL
Nos últimos 25 anos, o papa definiu o seu tempo como talvez nenhum outro líder -religioso ou
político- o tenha feito, e o próximo conclave (reunião a portas fechadas para eleger o líder da Igreja Católica) deve se iniciar com
uma análise do pontificado de
João Paulo 2º, 83.
Internacionalização da igreja
(no Vaticano, não se estranha
mais a presença de colombianos,
vietnamitas, nigerianos ou nacionais de qualquer outro localidade), defesa dos direitos humanos,
oposição veemente às guerras,
apelo em prol do desarmamento e
aproximação com outras religiões. Esses são alguns dos pontos
positivos que marcaram a igreja
sob a liderança de João Paulo 2º.
O papa chegou a ser cotado como um dos principais favoritos
do Nobel da Paz na semana passada, mas o prêmio foi concedido à
advogada iraniana Shirin Ebadi.
De acordo com especialistas, críticas ao uso do preservativo e ao sexo fora do casamento estariam
entre as razões que vetaram seu
nome.
"Teria sido um belo presente
para os 25 anos do pontificado",
diz Enzo Fortunato, responsável
pelo convento franciscano de Assis.
Clero em crise, redução das vocações, teólogos em rebelião e o
princípio da autoridade desafiado. Alguns dos problemas deste
pontificado, como os acima citados, mantêm-se bastante semelhantes aos presentes no final da
década de 70, segundo o vaticanista Marco Politi. As principais
diferenças dizem respeito à queda
do comunismo em quase todo o
mundo e à diminuição das perseguições religiosas -que eram
muito freqüentes- em países
que adotavam esse regime.
A favor do celibato clerical
Desde os primeiros dias de seu
pontificado, João Paulo 2º defendeu energicamente o celibato clerical e a indissolubilidade do casamento e exaltou as mulheres que
se recusavam a fazer aborto mesmo quando sua vida estava em
perigo. "O planejamento familiar
só pode ser feito de acordo com as
leis morais, espirituais e naturais", declarou o papa para Nafis
Sadik, subsecretária da ONU para
População e Desenvolvimento,
em 1994.
Sobre o que o cardeal López
Trujillo definiu como "ataque criminoso" da ONU "contra a família no campo do controle da natalidade", o Vaticano disse: "Nenhuma instituição pública internacional tem o direito de pressionar os Estados para que imponham diretrizes que são incompatíveis com o respeito pela pessoa, pelas famílias ou pela independência nacional". O papa
enviou cartas e telefonou para o
secretário-geral da ONU Boutros
Boutros-Ghali e para o presidente
dos EUA Bill Clinton para argumentar que decisões tomadas na
Conferência sobre População e
Desenvolvimento (realizada no
Cairo entre 5 e 13 de setembro de
1994) poderiam provocar o "declínio moral da humanidade".
Manteve-se firme na condenação ao uso do preservativo, após
das cerca de 3 milhões de mortes
por ano, segundo a ONU.
Ainda nos primeiros meses
após o conclave, quando lhe perguntaram sobre a ordenação de
mulheres, respondeu: "A Virgem
preferiu se manter ao pé da cruz".
Contra a guerra
A condição polonesa de Karol
Wojtyla (nome de batismo do papa) tornou-se parte central de sua
política. No trono de são Pedro,
João Paulo 2º se dedicou a mudar
a situação da "igreja do silêncio"
-a igreja oprimida por trás da
Cortina de Ferro- e recordou
aos regimes comunistas que havia
cristãos que não tinham liberdade
de expressão ou de prática religiosa.
Nas palavras do ex-presidente
soviético Mikhail Gorbatchov,
"pode-se dizer que tudo o que
aconteceu na Europa Oriental nos
últimos anos teria sido impossível
sem os esforços do papa e o enorme papel, inclusive político, que
ele desempenhou na arena mundial".
Além disso, entre as iniciativas
mais importantes que João Paulo
2º encabeçou, está a aproximação
com outras denominações cristãs
e com outras religiões (especialmente o judaísmo). Foi o primeiro líder católico a visitar uma sinagoga e uma mesquita e pediu
perdão por erros cometidos no
passado.
João Paulo 2º defendeu o perdão da dívida externa de países
em desenvolvimento e classificou
Guerra do Iraque de "imoral e injusta".
"Quando uma guerra, como a
que ocorre no Iraque, ameaça o
destino da humanidade, é urgente
que proclamemos, com uma voz
forte e decidida, que somente a
paz é o caminho a ser seguido para construir uma sociedade mais
justa e mais unida", afirmou.
Sua voz foi ouvida por muitos
católicos, mas não impediu a deflagração do conflito.
Quando Wojtyla disse "sim" e
aceitou sua eleição como papa,
em 16 de outubro de 1978, acrescentou uma frase que não fazia
parte da tradição: "Com a obediência na fé em Cristo, meu Senhor, e minha confiança na mãe
de Cristo e da igreja, a despeito
das grandes dificuldades".
Pouco antes, quando seu nome
adquiria mais força a cada escrutínio do conclave, mostrou-se
tenso e pôs-se a chorar, segundo
relatos, ao ponto de alguns cardeais questionarem se ele recusaria a indicação.(PDF)
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