São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 2005

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Bagdá investiga tortura de sunitas

DA REDAÇÃO

Uma equipe de investigação começou ontem a examinar um calabouço secreto supostamente mantido pelo Ministério do Interior iraquiano no centro de Bagdá onde estavam presos mais de 170 homens e adolescentes, alguns com marcas claras de tortura.
Políticos sunitas, que acusam milícias xiitas de manter a prisão e de torturar detentos sunitas com apoio do governo, exigiram uma investigação internacional -a atual cabe ao governo iraquiano.
O Partido Islâmico do Iraque, importante organização sunita, disse que a maior parte dos prisioneiros é sunita e acusou o governo de promover uma campanha para marginalizar essa minoria, da qual fariam parte violações de direitos humanos. Os árabes sunitas perfazem 20% dos iraquianos e foram privilegiados durante a ditadura de Saddam Hussein (1979-2003), enquanto os xiitas, 60% da população, eram reprimidos.
"O Partido Islâmico apela à ONU, à Organização da Conferência Islâmica, à Liga Árabe e às organizações de direitos humanos do mundo todo para que condenem as flagrantes violações sob o atual governo e as exorta a abrir uma investigação internacional", diz o comunicado emitido ontem.
A milícia Badr, organização xiita ligado ao Irã, negou ter envolvimento no caso e disse que a prisão é mantida pelo governo iraquiano sob anuência dos EUA.
O calabouço foi descoberto por soldados americanos durante uma ação para conter as tensões sectárias na capital na madrugada da última segunda. As instalações ficam em um prédio que pertence ao Ministério do Interior. Anteontem, o premiê iraquiano, Ibrahim al Jaafari, confirmou a existência da prisão e anunciou que daria início à investigação.

Rotina
Um dos 173 prisioneiros, entrevistado pelo jornal "The New York Times", disse que todos os detentos eram árabes sunitas e que espancamentos e choques eram rotineiros. O homem diz ter passado três meses no calabouço permanentemente vendado.
A descoberta põe em situação delicada o atual governo iraquiano, apoiado pelos EUA e dominado por uma aliança de xiitas e curdos. O gabinete de Al Jaafari se comprometeu, ao assumir após 24 anos de uma sangrenta ditadura, a honrar os direitos humanos.
Também cria um entrave para os EUA, que para sair do país precisam passar o controle da segurança às forças iraquianas, mas que, após terem seus próprios militares acusados de torturar prisioneiros iraquianos e afegãos, vêm condenado veementemente a prática em discursos oficiais.
Além disso, o ocorrido alimenta as já crescentes tensões sectárias no país a um mês das eleições para escolher um governo definitivo -o atual é provisório.


Com agências internacionais e "The New York Times"

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