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Bagdá investiga tortura de sunitas
DA REDAÇÃO
Uma equipe de investigação começou ontem a examinar um calabouço secreto supostamente
mantido pelo Ministério do Interior iraquiano no centro de Bagdá
onde estavam presos mais de 170
homens e adolescentes, alguns
com marcas claras de tortura.
Políticos sunitas, que acusam
milícias xiitas de manter a prisão e
de torturar detentos sunitas com
apoio do governo, exigiram uma
investigação internacional -a
atual cabe ao governo iraquiano.
O Partido Islâmico do Iraque,
importante organização sunita,
disse que a maior parte dos prisioneiros é sunita e acusou o governo
de promover uma campanha para marginalizar essa minoria, da
qual fariam parte violações de direitos humanos. Os árabes sunitas
perfazem 20% dos iraquianos e
foram privilegiados durante a ditadura de Saddam Hussein (1979-2003), enquanto os xiitas, 60% da
população, eram reprimidos.
"O Partido Islâmico apela à
ONU, à Organização da Conferência Islâmica, à Liga Árabe e às
organizações de direitos humanos do mundo todo para que condenem as flagrantes violações sob
o atual governo e as exorta a abrir
uma investigação internacional",
diz o comunicado emitido ontem.
A milícia Badr, organização xiita ligado ao Irã, negou ter envolvimento no caso e disse que a prisão
é mantida pelo governo iraquiano
sob anuência dos EUA.
O calabouço foi descoberto por
soldados americanos durante
uma ação para conter as tensões
sectárias na capital na madrugada
da última segunda. As instalações
ficam em um prédio que pertence
ao Ministério do Interior. Anteontem, o premiê iraquiano,
Ibrahim al Jaafari, confirmou a
existência da prisão e anunciou
que daria início à investigação.
Rotina
Um dos 173 prisioneiros, entrevistado pelo jornal "The New
York Times", disse que todos os
detentos eram árabes sunitas e
que espancamentos e choques
eram rotineiros. O homem diz ter
passado três meses no calabouço
permanentemente vendado.
A descoberta põe em situação
delicada o atual governo iraquiano, apoiado pelos EUA e dominado por uma aliança de xiitas e curdos. O gabinete de Al Jaafari se
comprometeu, ao assumir após
24 anos de uma sangrenta ditadura, a honrar os direitos humanos.
Também cria um entrave para
os EUA, que para sair do país precisam passar o controle da segurança às forças iraquianas, mas
que, após terem seus próprios militares acusados de torturar prisioneiros iraquianos e afegãos,
vêm condenado veementemente
a prática em discursos oficiais.
Além disso, o ocorrido alimenta
as já crescentes tensões sectárias
no país a um mês das eleições para escolher um governo definitivo
-o atual é provisório.
Com agências internacionais e "The New York Times"
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