São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 2006

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ARTIGO

Negociar com o Irã é a questão

NEWTON CARLOS

Num bate-boca com Israel, envolvendo armas nucleares, o Estado judaico já de posse e o Irã islâmico sob suspeita de ambicioná-las, um porta-voz do Ministério do Exterior iraniano adotou tom conciliatório. Disse que será "considerado" um pedido formal para que Irã e EUA discutam a situação de segurança no Iraque. A Casa Branca de início reagiu em tom parecido. Mas Bush, que tratou do Irã com o premiê israelense, acabou acrescentando um "sob condições" em seu encontro com o Grupo de Estudo do Iraque e o ambiente escureceu.
A comissão bipartidária que procura meios de tirar os EUA do lodaçal do Iraque já deu sinais de que pensa numa conferência regional, no Oriente Médio, na qual americanos e iranianos seriam personagens de ponta. Seu chefe, James Baker, um "realista", em oposição aos "ideólogos" que dominaram a política externa de Bush, fez sondagens a respeito.
Um diálogo direto entre EUA e Irã tem sido comparado com a guinada diplomática que resultou no estabelecimento de relações com a China comunista, nos anos 1970. O realista Henry Kissinger, conselheiro de Segurança Nacional na época, tratou de golpear a então União Soviética, numa jogada de Guerra Fria, mas a aproximação dos chineses também repercutiu nas negociações de paz com o Vietnã.
Os EUA não mantêm relações com o Irã desde a Revolução Islâmica de 1979. O interesse por um diálogo teve causas definidas pelo embaixador de Bush no Iraque, Zalmay Khalilzad. Ele acusou o Irã de fornecer "armas, treinamento e outros tipos de apoio a milícias e grupos insurgentes iraquianos". A ajuda, segundo Khalilzad, é parte de "ampla estratégia" de um Irã em busca de "proeminência regional".
No Iraque, onde os xiitas são majoritários, os iranianos contam com o Conselho Supremo da Revolução Islâmica no Iraque e o partido al-Daawa, os dois principais movimentos políticos xiitas. Especialistas estão convencidos de que a "disputa maior", tanto para Teerã como para Washington, se situa no Iraque. A idéia de um diálogo não é de agora. No começo de 2006, o governo Bush ensaiou estabelecê-lo, limitado à "questão iraquiana". Mas dificuldades de agenda impediram que a idéia fosse adiante.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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