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ARTIGO
Negociar com o Irã é a questão
NEWTON CARLOS
Num bate-boca com Israel,
envolvendo armas nucleares, o
Estado judaico já de posse e o
Irã islâmico sob suspeita de
ambicioná-las, um porta-voz
do Ministério do Exterior iraniano adotou tom conciliatório. Disse que será "considerado" um pedido formal para que
Irã e EUA discutam a situação
de segurança no Iraque. A Casa
Branca de início reagiu em tom
parecido. Mas Bush, que tratou
do Irã com o premiê israelense,
acabou acrescentando um "sob
condições" em seu encontro
com o Grupo de Estudo do Iraque e o ambiente escureceu.
A comissão bipartidária que
procura meios de tirar os EUA
do lodaçal do Iraque já deu sinais de que pensa numa conferência regional, no Oriente Médio, na qual americanos e iranianos seriam personagens de
ponta. Seu chefe, James Baker,
um "realista", em oposição aos
"ideólogos" que dominaram a
política externa de Bush, fez
sondagens a respeito.
Um diálogo direto entre EUA
e Irã tem sido comparado com
a guinada diplomática que resultou no estabelecimento de
relações com a China comunista, nos anos 1970. O realista
Henry Kissinger, conselheiro
de Segurança Nacional na época, tratou de golpear a então
União Soviética, numa jogada
de Guerra Fria, mas a aproximação dos chineses também
repercutiu nas negociações de
paz com o Vietnã.
Os EUA não mantêm relações com o Irã desde a Revolução Islâmica de 1979. O interesse por um diálogo teve causas
definidas pelo embaixador de
Bush no Iraque, Zalmay Khalilzad. Ele acusou o Irã de fornecer "armas, treinamento e outros tipos de apoio a milícias e
grupos insurgentes iraquianos". A ajuda, segundo Khalilzad, é parte de "ampla estratégia" de um Irã em busca de
"proeminência regional".
No Iraque, onde os xiitas são
majoritários, os iranianos contam com o Conselho Supremo
da Revolução Islâmica no Iraque e o partido al-Daawa, os
dois principais movimentos
políticos xiitas. Especialistas
estão convencidos de que a
"disputa maior", tanto para
Teerã como para Washington,
se situa no Iraque. A idéia de
um diálogo não é de agora. No
começo de 2006, o governo
Bush ensaiou estabelecê-lo, limitado à "questão iraquiana".
Mas dificuldades de agenda impediram que a idéia fosse
adiante.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
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