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Venezuelanos descrevem dificuldades no dia-a-dia
GINGER THOMPSON
DO "THE NEW YORK TIMES", EM CARACAS
O sinal na porta diz "fechado".
Há pouca luz. Os funcionários estão sem uniforme. Mais de 45 dias
após o início da greve na Venezuela, a rede de videolocadoras
Blockbuster vem mantendo abertas pelo menos duas lojas populares às escondidas em Caracas (capital).
Os funcionários e a gerência se
recusaram a se identificar e a informar o horário de funcionamentos das lojas. Apesar disso, a
gerente de uma das lojas, que se
identificou apenas como Eugenia,
disse que a decisão de abrir a locadora não foi fácil. "É difícil trabalhar", afirmou. "Mas é mais difícil
ainda não trabalhar."
A greve, que deixou a maior
parte das áreas comerciais da cidade escura e abandonada -a
um custo de mais de US$ 50 milhões por dia-, agora é uma colagem de contrastes: shopping centers abandonados e camelôs agitados, filas imensas em postos de
gasolina e tráfico intenso.
A cerveja venezuelana foi substituída pela mexicana e pela alemã. Os cinemas estão fechados,
mas algumas pessoas vêm instalando telões em parques e praças.
Desde seu início, em 2 de dezembro, a greve vem dividindo a
população em dois campos rivais.
Até agora, a oposição não conseguiu seu objetivo de forçar o
presidente Hugo Chávez a convocar novas eleições ou renunciar.
Na guerra entre Chávez e seus
opositores, a população venezuelana começou a arcar com as consequências. A economia está em
frangalhos. Um país que já possui
um dos índices de crimes violentos mais altos no continente
-dezenas de pessoas são mortas
nos finais de semana na região de
Caracas- agora está à beira de
uma guerra civil.
Chávez não mostra nenhum sinal de que vá abandonar o poder.
Em alguns locais, a greve se mantém firme, particularmente na
empresa petrolífera estatal, que
sustenta a economia venezuelana
e é um importante fornecedor dos
EUA. Cerca de 30 mil funcionários da PDVSA pararam de trabalhar logo após o início da greve, o
que vem afetando o fornecimento
de petróleo no mundo.
Manifestações anti-Chávez, em
ondas de cor vermelha, azul e
amarela, vêm acontecendo praticamente todos os dias, no que seria a demonstração mais vibrante,
segundo alguns analistas, da politização de uma classe média que
considerava a política uma atividade frívola.
Em um jornal local, o poeta Rafael Arraiz Lucca descreveu o clima: "Os venezuelanos estão vivendo uma hipnose coletiva muito próxima à histeria".
Algumas escolas particulares e
públicas ainda estão fechadas.
Outras abriram com a ajuda de
voluntários. Bancos e supermercados abrem em horários limitados. O metrô e os ônibus continuam a funcionar normalmente.
Gonzalo Garcia, proprietário de
uma lanchonete Subway, já perdeu mais de US$ 30 mil desde o
início da greve. Ele diz que, se o
governo Chávez se mantiver no
poder, ele e sua família vão abandonar o país. "Gostaria de recuperar minha loja e até abrir outras,
mas eu não posso permitir que
meus filhos cresçam em um clima
de violência", afirma Garcia.
Nicolasa Veita, enfermeira no
Centro Médico de Caracas, explica que esse hospital particular só
mantém o serviço de emergência
aberto e que os funcionários estão
sem receber.
"Não é uma greve que vai ser
suspensa", diz o colunista Ibsen
Martinez. "É uma greve que vai
acabar vagarosamente."
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