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AMÉRICA LATINA
Em entrevista à Folha, ministra da Defesa pede participação mais ativa de vizinhos contra grupos armados do país
Colômbia cobra ajuda do Brasil contra "terror"
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
Abalada nas últimas semanas
por dois grandes atentados -um
em Bogotá, no dia 7, que matou
35 pessoas, e outro em Neiva, no
sul do país, que matou 18 na sexta-feira passada-, a Colômbia
quer que o Brasil e os demais países vizinhos se comprometam
mais em ajudar o país a enfrentar
seu conflito interno.
"O conflito colombiano tem
consequências e relações de causalidade em nível global que a comunidade internacional não pode omitir", afirmou, em entrevista à Folha, a ministra da Defesa, Marta Lucía Ramírez. "Se acabarmos com o narcotráfico na Colômbia, ele poderá facilmente passar a qualquer um dos países
vizinhos se eles não tiverem tomado a mesma decisão de combater o problema", diz.
Os atentados das últimas semanas são atribuídos às Farc (Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia), principal guerrilha de esquerda do país, acusadas, como
outros grupos armados, de se financiar por meio do narcotráfico.
A ministra cita problemas como
a entrada ilegal de armas e de insumos para a produção de drogas
pelas fronteiras e a demanda internacional pela cocaína e pela heroína produzidas no país como
argumentos para justificar a idéia
de que o conflito não diz respeito
apenas à Colômbia.
Em relação ao Brasil, ela cita a
ajuda que a Colômbia deu ao
prender no país o narcotraficante
brasileiro Fernandinho Beira-Mar, em 2001, e pede uma retribuição. "Queremos que esse tipo
de cooperação se amplie", disse.
Questionada sobre as críticas ao
Plano Colômbia (plano de combate ao narcotráfico financiado
pelos EUA) expressas por Marco
Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
em uma palestra na semana passada, a ministra evitou polemizar,
dizendo não conhecer o contexto
no qual foram feitas.
Ainda assim, ela disse que eventuais críticas poderiam fazer sentido há dois anos, mas que, agora,
o Plano Colômbia é algo "superado". "Temos hoje algo que vai
muito além. O Plano Colômbia tinha uma meta de reduzir em 50%
o narcotráfico, mas agora queremos a eliminação total, porque
sabemos que só assim poderemos
debilitar e, tomara, eliminar o terrorismo na Colômbia", afirmou.
Ofensiva diplomática
Ramírez, assim como outros integrantes do alto escalão do governo colombiano, lançaram-se
na semana passada, após o atentado em Bogotá, em uma grande
ofensiva diplomática em busca de
ajuda internacional.
O principal objetivo é caracterizar a guerrilha colombiana como
"grupo terrorista internacional" e
conseguir, com isso, a aplicação
das normas que exigem o bloqueio de bens do grupo no exterior e a restrição à livre circulação
de seus membros.
Por se tratar supostamente de
um grupo com reivindicações políticas, muitos países se esquivam
de tratá-lo como terrorista. Durante a vigência do processo de
paz com as Farc, no governo Andrés Pastrana (1998-2002), o grupo manteve escritórios de representação em diversos países.
"Sabemos que vários membros
desses grupos ainda se movimentam livremente em vários países
próximos ou vizinhos à Colômbia", disse Ramírez. "O que o presidente Álvaro Uribe quer é que
os países latino-americanos e,
principalmente, nossos vizinhos
classifiquem esses grupos como
terroristas e, em consequência,
apliquem a resolução da ONU segundo a qual os grupos terroristas
estão sujeitos a congelamento de
bens e veto à livre circulação de
seus membros", afirmou.
Ela elogiou a carta enviada por
Lula na sexta-feira ao secretário-geral da ONU, Kofi Annan, pedindo apoio à Colômbia. "Essa
carta é muito importante, porque
coincide plenamente com o que
propôs o presidente Uribe, pedindo intermediação da ONU no
contato com a guerrilha. Nós não
confiamos mais na palavra desses
grupos, sabemos que quando não
há uma terceira parte envolvida
eles simplesmente fazem o que fizeram nos últimos anos", disse
Ramírez. "Se a carta de Lula puder nos ajudar a ter uma maior
participação da ONU nisso, estamos plenamente de acordo com
ela e com os seus objetivos."
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