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ANÁLISE
Terrorismo islâmico não se resume à Al Qaeda
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Os EUA afirmaram ontem que
havia fortes indícios de que o
atentado terrorista em Bagdá tivesse sido cometido por extremistas islâmicos. Para um chefe militar americano, a ação "se encaixa
no perfil" de organizações terroristas islâmicas como o Ansar al
Islam e o grupo do jordaniano
Abu Musab al Zarqawi, acusados
de ter ligação com a Al Qaeda.
Desde o 11 de Setembro, uma
miríade de atentados mais ou menos sangrentos foram atribuídos
à rede comandada pelo saudita
Osama bin Laden. De Bali, na Indonésia, a Madri, passando por
Casablanca, em Marrocos, a Al
Qaeda seria responsável por ataques a interesses ocidentais, sobretudo relacionados aos EUA.
Segundo especialistas ouvidos
pela Folha, contudo, não se pode
dizer que a rede terrorista responsável pelo massacre de 11 de setembro de 2001 esteja ativamente
por trás de todos esses atentados
por razões práticas: caçada pelas
forças lideradas por Washington
nos quatro cantos do planeta
(principalmente na fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão), a
Al Qaeda simplesmente não conseguiria orquestrar ataques em locais distantes com facilidade.
"A Al Qaeda sempre foi uma rede difusa, cujas células agem de
modo quase independente de seu
comando central, já que, para ela,
é essencial manter o sigilo para
evitar que suas intenções sejam
descobertas pelos serviços secretos dos países que a perseguem",
explicou o ex-embaixador Philip
Wilcox, que chefiou o setor de
contraterrorismo do Departamento de Estado dos EUA.
"Como foram bem-sucedidas
aos olhos dos extremistas islâmicos, suas ações inspiram outros
grupos. Muitos dos ataques posteriores ao 11 de Setembro, ademais, foram bem planejados, o
que implica conhecimento do
"terrorismo-catástrofe". E inúmeros terroristas que estão espalhados pelo mundo foram treinados
em campos da Al Qaeda no Sudão
ou no Afeganistão e, portanto, tiveram elo com a rede", afirmou.
Com efeito, vários grupos terroristas que, segundo o Pentágono,
têm ligação com a Al Qaeda, como o Abu Sayyaf filipino ou as
Brigadas dos Mártires de Abu
Hafs al Masri (que reivindicaram
os atentados de Madri), contam
com militantes que estiveram nos
campos de treinamento comandados por Bin Laden. Porém, como ressaltou Amatzia Baram, especialista em terror da Universidade de Haifa (Israel), o grau de
envolvimento da Al Qaeda em
certos atentados "é mínimo".
"A Al Qaeda tornou-se um tipo
de guarda-chuva. Extremistas islâmicos de todo o planeta compartilham seu objetivo, que é derrotar os infiéis que maculam a terra santa [Arábia Saudita, país em
que estão Meca e Medina, cidades
sagradas do islamismo], e o estilo
de vida difundido pelos infiéis,
que, para os extremistas, é contrário ao pensamento islâmico."
"Os terroristas também compartilham a interpretação radical
do islã que foi propagada pelo wahabismo saudita. Esta é similar à
visão de Bin Laden. Ademais, eles
passaram a crer nos métodos da
Al Qaeda, pois eles chamaram a
atenção do Ocidente como jamais
havia ocorrido", avaliou Baram.
A rede plantou uma semente
que gerou frutos, não precisando
mais estar na linha de frente. Ou
seja, o mundo está diante de uma
ameaça ainda mais profunda, e a
morte ou a prisão de Bin Laden
não resolverá o problema.
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