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No cinema, Moore e "Elefante" investigam chave de massacres
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
"Para mim, "high school" é como o inferno", diz Alex Frost.
"Você acorda e vai para o inferno todo dia." Não se trata de
personagem de ficção: ele é um
dos atores de "Elefante"
(2003), do norte-americano
Gus Van Sant. Sua impiedosa
avaliação da falta de sintonia
entre adolescência e escolas de
ensino médio está no documentário que acompanha o filme na versão em DVD.
A declaração do ator se confunde de maneira perturbadora com a natureza de seu personagem: Alex interpreta um dos
assassinos seriais nessa estilizada recriação do massacre da
escola Columbine, em Littleton (Colorado), em 1999.
Prêmio de melhor filme e de
melhor direção no Festival de
Cannes, "Elefante" é a antítese
de "Tiros em Columbine"
(2002), documentário de Michael Moore que, ao tomar como referência o massacre de
Littleton, investe contra a indústria de armas e atribui a
uma permanente (e, segundo
ele, construída socialmente) atmosfera de medo os recorrentes episódios de violência.
Van Sant, ao contrário, só
lança perguntas no ar, ao reconstituir de maneira entrecortada algumas horas na vida
de jovens, suas famílias e professores de uma imensa "high
school", em um dia que começa
como outro qualquer e se
transforma em inexplicável banho de sangue.
Van Sant diz que optou pelo
título depois de assistir a um
documentário de 1989 com esse nome, dirigido por Alan
Clarke para a BBC, sobre o conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte. A
atmosfera de violência, ali, seria equivalente a um elefante
na sala de estar, cuja presença
ninguém quer reconhecer. Curiosamente, Van Sant acreditava que o título se referia a uma
parábola em que cegos examinam as partes de um elefante e,
sem apreender o todo, acreditam conhecer o animal.
As duas idéias são coerentes
com esse filme admirável que,
feito para iluminar Columbine,
talvez contribua agora para entender um pouco do que ocorreu no Virginia Tech.
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