São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2007

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"Ser mais francês" vira tema eleitoral

Le Pen, da extrema direita, polemiza com Nicolas Sarkozy, de centro-direita, porque ele é filho de imigrantes húngaros

Le Pen procura recuperar as intenções de voto que o seu adversário atraiu, ao pregar política menos tolerante e seletiva com a imigração

CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Na reta final da campanha para o primeiro turno da eleição presidencial na França, os candidatos Nicolas Sarkozy, do bloco de centro-direita, e Jean Marie Le Pen, de extrema direita, que chegaram a ensaiar uma aliança, travam agora uma disputa de caráter pessoal: quem é entre os dois "o mais francês".
Em entrevista ao jornal "Le Parisien" de domingo, Le Pen foi enfático em seu ataque ao adversário.
"Uma nação é um passado vivido, lutas, um presente, um futuro e um desejo de viver juntos. Digo ao sr. Sarkozy que ele não tem esse passado que constitui a estrutura de uma nação", afirmou. O líder da Frente Nacional também disse que "um presidente da República não é um homem político como os outros. Em algum momento, ele deverá encarnar o povo e a nação". Sarkozy é filho de imigrantes húngaros, judeus convertidos. Le Pen argumenta que as raízes francesas de sua família remontam ao século 17.
O ataque de Le Pen atinge justamente um dos pilares da campanha de Sarkozy, que construiu um discurso em torno da defesa de valores republicanos, da importância da tradição da cultura cristã e da valorização da identidade francesa.

Imigração seria pasta
Uma das promessas dele é a de criar um Ministério da Identidade Nacional e da Imigração. Entre as atribuições desse ministério estaria a criação de uma espécie de prova de idioma e valores franceses como condição para a naturalização, além do recrudescimento da política de "imigração seletiva", instituída por ele quando ministro do Interior.
O projeto desse novo ministério e a freqüente defesa do fechamento das fronteiras da França a correntes de imigração têm sido considerados pelos seus opositores como tentativas de flertar com o eleitorado de extrema direita, o que lhe valeu o apelido de "Sarkopen".
"Sarkozy fez o cálculo de que não conseguirá ganhar no segundo turno sem os votos que vão para a Frente Nacional", disse Daniel Lindenberg, historiador e professor da Universidade Paris 8. Sarkozy tem declarado que se interessa pelos eleitores da FN, mas rechaça as idéias de Le Pen.
Segundo analistas, ao ressaltar as origens estrangeiras de Sarkozy, Le Pen busca frear o avanço dele no seu terreno eleitoral, na semana que antecede a votação. Com cerca de 40% de eleitores ainda indecisos, Le Pen, que está em quarto lugar nas pesquisas de intenção de voto, luta para, como em 2002, chegar ao segundo turno.
Além de tentar impedir a migração de seus eleitores para o candidato de centro direita, Le Pen também tenta inflar o sentimento anti-Sarkozy. Num comício em Paris no último domingo, Le Pen qualificou Sarkozy de "racaille politique" (ralé política). A utilização da expressão francesa "racaille" (ralé) é uma provocação direta a Sarkozy. Em 2005, em meio à onda de violência nas periferias francesas, o então ministro do Interior chamou os jovens dessas áreas, a maioria descendente de imigrantes, de "ralé".
Para se defender dos ataques do seu oponente, Sarkozy resolveu conclamar à união o eleitorado. "Eu me dirijo a todos os franceses sem exceção."

Novas promessas
Sarkozy, diz o "Financial Times", disse estar preparando medidas de impacto a partir de julho, caso se eleja presidente.
Entre elas, a adoção de uma pena mínima para réus reincidentes e a proibição de os desempregados recusarem mais de duas ofertas de trabalho, caso pretendam continuar a receber suas pensões.
Também disse que imporia a obrigação de manutenção de um serviço mínimo dos setores públicos que entrem em greve.


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