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"Ser mais francês" vira tema eleitoral
Le Pen, da extrema direita, polemiza com Nicolas Sarkozy, de centro-direita, porque ele é filho de imigrantes húngaros
Le Pen procura recuperar as
intenções de voto que o seu
adversário atraiu, ao pregar
política menos tolerante
e seletiva com a imigração
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Na reta final da campanha
para o primeiro turno da eleição presidencial na França, os
candidatos Nicolas Sarkozy, do
bloco de centro-direita, e Jean
Marie Le Pen, de extrema direita, que chegaram a ensaiar uma
aliança, travam agora uma disputa de caráter pessoal: quem é
entre os dois "o mais francês".
Em entrevista ao jornal "Le
Parisien" de domingo, Le Pen
foi enfático em seu ataque ao
adversário.
"Uma nação é um passado vivido, lutas, um presente, um futuro e um desejo de viver juntos. Digo ao sr. Sarkozy que ele
não tem esse passado que constitui a estrutura de uma nação",
afirmou. O líder da Frente Nacional também disse que "um
presidente da República não é
um homem político como os
outros. Em algum momento,
ele deverá encarnar o povo e a
nação". Sarkozy é filho de imigrantes húngaros, judeus convertidos. Le Pen argumenta
que as raízes francesas de sua
família remontam ao século 17.
O ataque de Le Pen atinge
justamente um dos pilares da
campanha de Sarkozy, que
construiu um discurso em torno da defesa de valores republicanos, da importância da tradição da cultura cristã e da valorização da identidade francesa.
Imigração seria pasta
Uma das promessas dele é a
de criar um Ministério da Identidade Nacional e da Imigração.
Entre as atribuições desse ministério estaria a criação de
uma espécie de prova de idioma e valores franceses como
condição para a naturalização,
além do recrudescimento da
política de "imigração seletiva",
instituída por ele quando ministro do Interior.
O projeto desse novo ministério e a freqüente defesa do fechamento das fronteiras da
França a correntes de imigração têm sido considerados pelos seus opositores como tentativas de flertar com o eleitorado
de extrema direita, o que lhe
valeu o apelido de "Sarkopen".
"Sarkozy fez o cálculo de que
não conseguirá ganhar no segundo turno sem os votos que
vão para a Frente Nacional",
disse Daniel Lindenberg, historiador e professor da Universidade Paris 8. Sarkozy tem declarado que se interessa pelos
eleitores da FN, mas rechaça as
idéias de Le Pen.
Segundo analistas, ao ressaltar as origens estrangeiras de
Sarkozy, Le Pen busca frear o
avanço dele no seu terreno eleitoral, na semana que antecede
a votação. Com cerca de 40% de
eleitores ainda indecisos, Le
Pen, que está em quarto lugar
nas pesquisas de intenção de
voto, luta para, como em 2002,
chegar ao segundo turno.
Além de tentar impedir a migração de seus eleitores para o
candidato de centro direita, Le
Pen também tenta inflar o sentimento anti-Sarkozy. Num comício em Paris no último domingo, Le Pen qualificou Sarkozy de "racaille politique" (ralé política). A utilização da expressão francesa "racaille" (ralé) é uma provocação direta a
Sarkozy. Em 2005, em meio à
onda de violência nas periferias
francesas, o então ministro do
Interior chamou os jovens dessas áreas, a maioria descendente de imigrantes, de "ralé".
Para se defender dos ataques
do seu oponente, Sarkozy resolveu conclamar à união o
eleitorado. "Eu me dirijo a todos os franceses sem exceção."
Novas promessas
Sarkozy, diz o "Financial Times", disse estar preparando
medidas de impacto a partir de
julho, caso se eleja presidente.
Entre elas, a adoção de uma
pena mínima para réus reincidentes e a proibição de os desempregados recusarem mais
de duas ofertas de trabalho, caso pretendam continuar a receber suas pensões.
Também disse que imporia a
obrigação de manutenção de
um serviço mínimo dos setores
públicos que entrem em greve.
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