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Café celebra "nova ordem mundial"
DOS ENVIADOS A TEERÃ
O café da manhã entre
os presidentes que selou o
acordo nuclear entre Brasil, Turquia e Irã foi marcado por discursos afinados de repúdio à pressão
americana e promessas de
uma nova ordem mundial.
A Folha acompanhou
parte do encontro a portas
fechadas, no qual Lula, o
presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e o
premiê da Turquia, Recep
Tayyp Erdogan, se dividiram entre o cardápio de
bolos, pães e frutas secas e
os últimos retoques na declaração conjunta.
À vontade, Lula passou
a reunião manipulando
entre os dedos um "masbaha" (terço muçulmano)
e trocando impressões e
anotações com o chanceler Celso Amorim. Numa
delas, o ministro escreveu
ao presidente que a importância do acordo era
criar "um mecanismo de
criação de confiança".
Lula contou que, nos
dias que antecederam sua
chegada a Teerã, "sofreu
pressão de todos os lados"
para desistir das negociações com o Irã, deixando
claro que se referia ao governo americano. Contou
com indisfarçável orgulho
aos colegas que resistiu ao
lobby anti-Irã e criticou
quem recorre a sanções
antes de tentar o diálogo.
Aproveitando a deixa,
Ahmadinejad voltou ao
discurso feito no dia anterior, em que disse, ao lado
de Lula, que Irã, Brasil e
Turquia estavam se unindo para construir uma
"nova ordem mundial". E
exaltou os esforços dos
dois aliados em repúdio a
sanções.
"Quando a ameaça de
uso da força e de punições
é substituída por respeito,
como fizeram Brasil e
Turquia, os resultados
aparecem", disse o presidente, sentado entre o
chanceler Manouchehr
Mottaki e o chefe da agência de energia atômica do
Irã, Ali Akbar Salehi.
O turco Erdogan revelou que também resistiu a
pressões múltiplas para
desistir da negociação
com o Irã. Ele desembarcou em Teerã somente na
última hora, quando o
acordo já estava praticamente pronto, na madrugada de segunda.
Para Erdogan, a perspectiva de uma solução
para o impasse nuclear
também pode "criar um
ambiente favorável para
toda a região" e abre caminho para avanços no conflito entre Israel e os palestinos.
"No futuro a comunidade internacional vai se dar
conta da importância dessa reunião trilateral", previu Erdogan. Enquanto
ele falava, uma mesa era
preparada para a assinatura do acordo e um batalhão de fotógrafos e cinegrafistas se aglomerava do
lado de fora, à espera de
um desfecho.
Questionado pela Folha
se o acordo poderia gerar
uma aliança para além do
tema nuclear, uma espécie
de "G3", o chanceler turco,
Ahmet Davutoglu, não
descartou: "É, quem sabe?"
(MN E SA)
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