São Paulo, Terça-feira, 18 de Maio de 1999
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COMENTÁRIO
"Bibi" concretizou o sonho de seus rivais

JAIME SPITZCOVSKY
Editor de Mundo

""Bibi" Netanyahu conseguiu, em três anos, realizar o que o trabalhismo israelense não conseguiu em mais de três décadas. O político que iniciou sua carreira com a aura de ""o mágico da comunicação" deixa a seguinte herança: despedaçou o Likud e deixou-o com uma das menores bancadas parlamentares de sua história, apagou do ideário da direita israelense o sonho do ""Grande Israel" e ainda permitiu um resultado que parece cristalizar uma aliança dos setores laicos em Israel.
Foi um verdadeiro ""autonocaute". ""Bibi", montado em sua arrogância, no mote ""dividir para reinar" e numa visão de curto prazo, sai do cenário político com a mesma velocidade com que entrou: a de um meteorito.
Com seu personalismo, criou atritos com os outros líderes do Likud. Abandonaram o barco o ex-chanceler David Levy, o ex-prefeito de Tel Aviv, Rony Milo, o ex-ministro das Finanças, Dan Meridor, e o ex-ministro da Defesa, Yitzhak Mordechai.
Netanyahu vendia a imagem de ""duro nas negociações" e de ""desconfiado dos árabes". Mas foi ele quem aceitou, embora sob a pressão de Washington, o acordo de Wye Plantation em 98, um passo das negociações de paz que significa abrir mão do sonho do ""Grande Israel".
Nessa visão, o Estado judeu teria direito aos territórios ocupados. "Bibi" promoveu uma guinada histórica no ideário da direita ao aceitar autonomia palestina na Cisjordânia.
Netanyahu também esfarelou a tradicional aliança entre religiosos e direitistas laicos. Estes preferiram aproximar-se dos trabalhistas à medida que ""Bibi" fazia mais concessões aos judeus ortodoxos, cerca de 15% da população israelense.
Menachem Begin, o líder histórico do Likud e arquiteto da paz com o Egito, morreu em 92, muito deprimido. Talvez ele já antevisse que um ""mágico" iria destruir parte de sua herança.


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