São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Departamento de Imigração nega acusação de Darwich, que foi detido após os atentados de 11 de setembro

Brasileiro deportado dos EUA diz ter sofrido tortura

GUSTAVO CHACRA
DA REDAÇÃO

O brasileiro Khaled Darwich, 21, chegou ao Brasil ontem após ter ficado quase dez meses detido nos EUA. Deportado, ele desembarcou no aeroporto de Guarulhos em vôo proveniente de Atlanta carregando apenas uma caixa com cartas recebidas no período em que esteve detido.
Filho de egípcios e vivendo em Memphis (Tennessee), Darwich foi levado para a prisão no dia 20 de setembro do ano passado. Cerca de outras 800 pessoas de origem árabe foram detidas no país na mesma época pelo governo dos EUA.
No período em que esteve preso, ele afirma ter sido vítima de tortura psicológica. "Os americanos sabem torturar. Sofri tortura psicológica. Deixavam-me só, não davam comida, me faziam passar frio. Mas não houve agressão", disse Darwich à Folha logo após desembarcar.
O Departamento de Imigração dos EUA, por meio do consulado do país em São Paulo, negou que Darwich tenha sofrido tortura. Darwich era suspeito de envolvimento com os terroristas que cometeram os atentados de 11 de setembro, mas nada foi provado contra ele.
A suspeita era reforçada pelo fato de seu sogro ser Sayyd Nosair, condenado à prisão perpétua em 1996 pelo assassinato do rabino extremista israelense Meir Kahane, em 1990, nos EUA. Além disso, Nosair esteve envolvido no primeiro atentado contra o World Trade Center, em 1993.
Darwich nega envolvimento com atividades terroristas e afirma que seu sogro ligava para a sua mulher às vezes, mas que não há contato entre eles.
Segundo o Departamento de Imigração, o brasileiro estava detido por estar ilegal nos EUA desde 1995. Ele também trabalhou irregularmente como taxista e açougueiro. Mesmo sendo casado com uma americana, não obteve visto de permanência no país.
O motivo da demora para a sua deportação ser efetivada, segundo o Departamento de Imigração, foi uma pendência com a Justiça americana. Darwich era acusado de ter agredido a mulher, que continua nos EUA.
Engenheiro eletrônico, ele tentará arrumar um emprego no Brasil antes de trazer a mulher para o país. Como não possui família aqui, Darwich viverá na casa de amigos. A comunidade muçulmana de São Paulo promete auxiliá-lo em sua adaptação ao Brasil, país em que viveu até os 11 anos.
Segundo Darwich, os americanos não consideravam a sua cidadania. "Ignoravam o fato de eu ser brasileiro, de meu passaporte ser brasileiro. Eles prestavam atenção apenas no meu nome, que é árabe", disse Darwich, que tem dificuldade para se lembrar de algumas palavras em português.
Darwich não sabe dizer se o governo brasileiro o ajudou ou não. "Pessoas de outros países que estavam detidas saíram após dois meses. Eu fiquei lá até ontem."



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