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GUERRA SEM LIMITES
Departamento de Imigração nega acusação de Darwich, que foi detido após os atentados de 11 de setembro
Brasileiro deportado dos EUA diz ter sofrido tortura
GUSTAVO CHACRA
DA REDAÇÃO
O brasileiro Khaled Darwich, 21,
chegou ao Brasil ontem após ter
ficado quase dez meses detido nos
EUA. Deportado, ele desembarcou no aeroporto de Guarulhos
em vôo proveniente de Atlanta
carregando apenas uma caixa
com cartas recebidas no período
em que esteve detido.
Filho de egípcios e vivendo em
Memphis (Tennessee), Darwich
foi levado para a prisão no dia 20
de setembro do ano passado. Cerca de outras 800 pessoas de origem árabe foram detidas no país
na mesma época pelo governo
dos EUA.
No período em que esteve preso, ele afirma ter sido vítima de
tortura psicológica. "Os americanos sabem torturar. Sofri tortura
psicológica. Deixavam-me só,
não davam comida, me faziam
passar frio. Mas não houve agressão", disse Darwich à Folha logo
após desembarcar.
O Departamento de Imigração
dos EUA, por meio do consulado
do país em São Paulo, negou que
Darwich tenha sofrido tortura.
Darwich era suspeito de envolvimento com os terroristas que cometeram os atentados de 11 de setembro, mas nada foi provado
contra ele.
A suspeita era reforçada pelo fato de seu sogro ser Sayyd Nosair,
condenado à prisão perpétua em
1996 pelo assassinato do rabino
extremista israelense Meir Kahane, em 1990, nos EUA. Além disso, Nosair esteve envolvido no
primeiro atentado contra o
World Trade Center, em 1993.
Darwich nega envolvimento
com atividades terroristas e afirma que seu sogro ligava para a sua
mulher às vezes, mas que não há
contato entre eles.
Segundo o Departamento de
Imigração, o brasileiro estava detido por estar ilegal nos EUA desde 1995. Ele também trabalhou irregularmente como taxista e
açougueiro. Mesmo sendo casado
com uma americana, não obteve
visto de permanência no país.
O motivo da demora para a sua
deportação ser efetivada, segundo
o Departamento de Imigração, foi
uma pendência com a Justiça
americana. Darwich era acusado
de ter agredido a mulher, que
continua nos EUA.
Engenheiro eletrônico, ele tentará arrumar um emprego no
Brasil antes de trazer a mulher para o país. Como não possui família aqui, Darwich viverá na casa de
amigos. A comunidade muçulmana de São Paulo promete auxiliá-lo em sua adaptação ao Brasil,
país em que viveu até os 11 anos.
Segundo Darwich, os americanos não consideravam a sua cidadania. "Ignoravam o fato de eu ser
brasileiro, de meu passaporte ser
brasileiro. Eles prestavam atenção
apenas no meu nome, que é árabe", disse Darwich, que tem dificuldade para se lembrar de algumas palavras em português.
Darwich não sabe dizer se o governo brasileiro o ajudou ou não.
"Pessoas de outros países que estavam detidas saíram após dois
meses. Eu fiquei lá até ontem."
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