São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 2002

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Iraque diz ter "eliminado todas as razões" para ataque americano

DA REDAÇÃO

O Iraque afirmou ontem que havia eliminado todas as razões dos EUA para declarar guerra ao país ao concordar em readmitir inspetores de armas da ONU.
Segundo o Iraque, a decisão de permitir que inspetores da ONU retomassem sua busca por armas de destruição em massa, que havia sido suspensa em 1998, deveria interromper quaisquer planos dos EUA de atacar o país.
"Todas as razões para um ataque foram eliminadas", disse o vice-premiê do Iraque, Tareq Aziz.
Para a oposição e os iraquianos nas ruas de Bagdá, contudo, a oferta do governo não pareceu ter sido recebida como uma garantia de que o país não será atacado.
O general Tawfik al Yassiri, líder da oposição a Saddam Hussein, disse que o ditador iraquiano está "ganhando tempo" e que os EUA estão deixando que isso aconteça.
Segundo ele, os EUA não conseguirão depor Saddam a menos que uma eventual resolução do Conselho de Segurança requerendo o desarmamento do Iraque também inclua exigências de que Bagdá permita a entrada de monitores de direitos humanos, investigue crimes de guerra e se comprometa a realizar eleições livres.
"É a democracia que significaria o fim de Saddam", disse o general. "O Iraque é um país grande, e não será fácil achar armas químicas e biológicas, pelas quais Saddam é obcecado. Ele nunca vai deixar que elas sejam todas confiscadas."
Não há sinal de uma guerra iminente na capital iraquiana. A cidade parece até ter se tornado mais movimentada recentemente. As lojas estão cheias, há um engarrafamento constante no centro de Bagdá e restaurantes da moda permanecem lotados de clientes. Há poucos sinais de medidas adicionais de segurança, muito menos de atividades militares.
Ainda assim, poucos iraquianos pareciam acreditar ontem que a nova oferta do Iraque significaria uma paz duradoura no país.
"É uma atitude corajosa e sábia", disse Mudhafar al Adhami, um professor universitário de Bagdá. "Contudo não acho que os EUA venham a parar de ameaçar o Iraque porque seu objetivo real é derrubar o governo e instalar um regime de marionetes."
Amira Mohsin, professora primária, disse, enquanto comprava roupas para sua filha de dois anos: "Estamos tentando levar uma vida normal. Não se pode passar o tempo todo com medo ou se enlouquece. Mas sabemos que o que oferecemos não vai manter os americanos longe daqui. Eles vão pensar em outro pretexto para nos bombardear".
Um colega de trabalho de Mohsin que a acompanhava, Shakeen Firoz, acrescentou: "Fomos condicionados a pensar duas coisas: que as sanções [da ONU" jamais serão suspensas e que, mais cedo ou mais tarde, seremos atacados".


Com "The Independent" e agências internacionais


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