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ÁSIA
Tóquio obtém avanço diplomático em troca de doações, créditos de longo prazo e assistência humanitária a Pyongyang
Japão e Coréia do Norte estreitam relações
HOWARD W. FRENCH
DO ""THE NEW YORK TIMES"
O Japão e a Coréia do Norte realizaram ontem uma reunião de cúpula em Pyongyang (Coréia do Norte) na qual concordaram em dar início à normalização das relações entre os dois países.
A Coréia do Norte abriu caminho para as conversações sobre a
normalização, que devem começar em outubro, com uma admissão extraordinária de culpa de seu
governo ao reconhecer que seus
agentes participaram do desaparecimento de 11 cidadãos japoneses cujo destino é desconhecido
desde o final dos anos 70.
Numa tentativa de abrandar as críticas dos EUA, que vêem a Coréia do Norte como ameaça à segurança internacional, o líder norte-coreano, Kim Jong Il, prometeu respeitar indefinidamente a moratória auto-imposta a testes de mísseis balísticos, prevista para ter terminado em 2001.
Kim pediu ao premiê japonês, Junichiro Koizumi, que transmitisse ao governo Bush a mensagem de que a porta de seu governo está aberta ao diálogo.
O avanço diplomático foi obtido pelo Japão em troca de uma
quantia ainda não revelada a ser
concedida em ""doações, créditos
de longo prazo e assistência humanitária". Segundo a imprensa
japonesa, o valor da assistência
pode ser de US$ 8 bilhões a US$ 10
bilhões. As cifras, que não foram
oficialmente confirmadas, baseiam-se na fórmula usada pelo
Japão ao normalizar suas relações
com a Coréia do Sul, em 1965.
Em nota divulgada ontem, o Japão basicamente repetiu o pedido
de desculpas que fez à Coréia do
Sul pelos sofrimentos causados
por 35 anos de governo colonial.
Os acordos refletiram um raro
momento de afirmação diplomática própria por parte do Japão,
que tradicionalmente segue a deixa de seu aliado principal, os
EUA, em assuntos internacionais.
A assinatura da declaração conjunta e o recebimento de notícias
detalhadas sobre o paradeiro dos
japoneses desaparecidos parecem
ter justificado a decisão politicamente arriscada tomada por Koizumi ao visitar um país descrito
pelo presidente Bush como parte
do chamado ""eixo do mal".
Diplomatas em Pyongyang disseram que o fato de Kim ter concordado com as principais exigências japonesas sem resistência
aparente reflete a urgência que a
Coréia do Norte tem de receber
divisas para afastar a ameaça do
colapso econômico e seu interesse
em abrandar as relações com os
EUA.
Desde o primeiro momento, o
governo japonês determinou que
o destino dos desaparecidos era a
questão mais importante que se
colocava entre os dois países.
E as semanas de intensa cobertura da imprensa à questão tornaram o problema ainda mais urgente para o primeiro-ministro
japonês.
De acordo com diplomatas japoneses, Kim Jong Il disse que os
sequestros, ocorridos em áreas
costeiras do Japão e na Europa,
foram realizados por membros
das forças de segurança norte-coreanas que queriam empregar japoneses para ensinar a língua aos
agentes dos serviços de inteligência da Coréia do Norte.
Ao mesmo tempo em que Koizumi enfrentou pressões internas
para que destacasse a questão dos
desaparecidos, os EUA o pressionaram para que não deixasse de
mencionar questões de segurança
ligadas às vendas internacionais
de mísseis coreanos e às armas
nucleares, químicas e biológicas.
Em Washington, anteontem,
pouco depois de se reunir com o
chanceler japonês, Yoriko Kawaguchi, o secretário da Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld,
disse que a Coréia do Norte é
"uma das piores proliferadoras de
armas do mundo" e que o país
vem ""desenvolvendo armas nucleares de maneira agressiva".
Kim declarou, em termos vagos,
que seu país vai respeitar os acordos internacionais relativos a armas nucleares. Mas, entre as concessões feitas ontem em Pyongyang, ficou faltando uma menção
a algo que os EUA e o Japão buscam: uma autorização para que
inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica operem
livremente no país.
Manifestando uma diferença
inegável de tom e de conteúdo em
relação ao governo Bush, o premiê Koizumi defendeu o diálogo
com Kim, dizendo que, ""a não ser
que se dê início ao processo de negociações, não haverá avanços".
"O avanço nas relações entre Japão e Coréia do Norte não beneficia apenas os dois países", acrescentou Koizumi. ""Afeta a paz na
península coreana e em todo o
nordeste asiático. Também contribui em muito para a paz e estabilidade da Coréia do Sul, dos EUA, da Rússia, da China, de outros países vizinhos e de toda a comunidade internacional."
Tradução de Clara Allain
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