São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 2002

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ÁSIA

Tóquio obtém avanço diplomático em troca de doações, créditos de longo prazo e assistência humanitária a Pyongyang

Japão e Coréia do Norte estreitam relações

HOWARD W. FRENCH
DO ""THE NEW YORK TIMES"

O Japão e a Coréia do Norte realizaram ontem uma reunião de cúpula em Pyongyang (Coréia do Norte) na qual concordaram em dar início à normalização das relações entre os dois países.
A Coréia do Norte abriu caminho para as conversações sobre a normalização, que devem começar em outubro, com uma admissão extraordinária de culpa de seu governo ao reconhecer que seus agentes participaram do desaparecimento de 11 cidadãos japoneses cujo destino é desconhecido desde o final dos anos 70.
Numa tentativa de abrandar as críticas dos EUA, que vêem a Coréia do Norte como ameaça à segurança internacional, o líder norte-coreano, Kim Jong Il, prometeu respeitar indefinidamente a moratória auto-imposta a testes de mísseis balísticos, prevista para ter terminado em 2001.
Kim pediu ao premiê japonês, Junichiro Koizumi, que transmitisse ao governo Bush a mensagem de que a porta de seu governo está aberta ao diálogo.
O avanço diplomático foi obtido pelo Japão em troca de uma quantia ainda não revelada a ser concedida em ""doações, créditos de longo prazo e assistência humanitária". Segundo a imprensa japonesa, o valor da assistência pode ser de US$ 8 bilhões a US$ 10 bilhões. As cifras, que não foram oficialmente confirmadas, baseiam-se na fórmula usada pelo Japão ao normalizar suas relações com a Coréia do Sul, em 1965.
Em nota divulgada ontem, o Japão basicamente repetiu o pedido de desculpas que fez à Coréia do Sul pelos sofrimentos causados por 35 anos de governo colonial.
Os acordos refletiram um raro momento de afirmação diplomática própria por parte do Japão, que tradicionalmente segue a deixa de seu aliado principal, os EUA, em assuntos internacionais.
A assinatura da declaração conjunta e o recebimento de notícias detalhadas sobre o paradeiro dos japoneses desaparecidos parecem ter justificado a decisão politicamente arriscada tomada por Koizumi ao visitar um país descrito pelo presidente Bush como parte do chamado ""eixo do mal".
Diplomatas em Pyongyang disseram que o fato de Kim ter concordado com as principais exigências japonesas sem resistência aparente reflete a urgência que a Coréia do Norte tem de receber divisas para afastar a ameaça do colapso econômico e seu interesse em abrandar as relações com os EUA.
Desde o primeiro momento, o governo japonês determinou que o destino dos desaparecidos era a questão mais importante que se colocava entre os dois países.
E as semanas de intensa cobertura da imprensa à questão tornaram o problema ainda mais urgente para o primeiro-ministro japonês.
De acordo com diplomatas japoneses, Kim Jong Il disse que os sequestros, ocorridos em áreas costeiras do Japão e na Europa, foram realizados por membros das forças de segurança norte-coreanas que queriam empregar japoneses para ensinar a língua aos agentes dos serviços de inteligência da Coréia do Norte.
Ao mesmo tempo em que Koizumi enfrentou pressões internas para que destacasse a questão dos desaparecidos, os EUA o pressionaram para que não deixasse de mencionar questões de segurança ligadas às vendas internacionais de mísseis coreanos e às armas nucleares, químicas e biológicas.
Em Washington, anteontem, pouco depois de se reunir com o chanceler japonês, Yoriko Kawaguchi, o secretário da Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld, disse que a Coréia do Norte é "uma das piores proliferadoras de armas do mundo" e que o país vem ""desenvolvendo armas nucleares de maneira agressiva".
Kim declarou, em termos vagos, que seu país vai respeitar os acordos internacionais relativos a armas nucleares. Mas, entre as concessões feitas ontem em Pyongyang, ficou faltando uma menção a algo que os EUA e o Japão buscam: uma autorização para que inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica operem livremente no país.
Manifestando uma diferença inegável de tom e de conteúdo em relação ao governo Bush, o premiê Koizumi defendeu o diálogo com Kim, dizendo que, ""a não ser que se dê início ao processo de negociações, não haverá avanços".
"O avanço nas relações entre Japão e Coréia do Norte não beneficia apenas os dois países", acrescentou Koizumi. ""Afeta a paz na península coreana e em todo o nordeste asiático. Também contribui em muito para a paz e estabilidade da Coréia do Sul, dos EUA, da Rússia, da China, de outros países vizinhos e de toda a comunidade internacional."


Tradução de Clara Allain


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