São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2004

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A FESTA DO CARINHO

Nova onda em Nova York é festa em que, vestidos a caráter, participantes se abraçam no chão

De pijama, americanos trocam afagos

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

Deve ter algo a ver com duas décadas de pedagogia pelo sexo seguro, ou então é o café sem cafeína que tomam de manhã, mas os americanos acabaram de inventar a festa em que, vestidos de pijama, se esparramam pelo chão, abraçando estranhos, fazendo carinho, cafuné -só não vale passar disso.
Devidamente trajada, a reportagem da Folha participou da mãe de todas as "cuddle parties" (algo como "festa do carinho/abraço"), inventada pelo terapeuta corporal Reid Mihalko, 36. "Participar" é modo de dizer. O repórter observou a festa. A seguir, o relato.
"Eu e meus amigos massagistas nos reuníamos e fazíamos a festa da massagem. Alguns amigos, não-massagistas, pediram para participar e resolvemos inventar a "festa do abraço'", explicou Mihalko, enquanto os participantes, naquele domingo de manhã nublada, formavam a rodinha de bate-papo que antecede a ação.
Sentados no chão do apartamento do terapeuta, cada participante havia deixado US$ 20 num pote ao lado da porta. Entre ela e o tapete, um aquário com uma jibóia de dois metros.
Debaixo de um quadro onde se lê "o diabo era uma lésbica", começam as apresentações. Primeiro a falar, "Ed" -deu só o apelido- diz ser "difícil encontrar a pessoa certa". Então, está ali para isso. "Acabei de sair de uma relação. Ainda sinto falta dela", confessa. "Art" -mesma política sobre o nome-, sem camisa e com tatuagem, revela que foi casado por 28 anos e que está "fora do circuito social há muito tempo".
Coby, 34, diz que é "freqüentadora". "Aqui eu posso ser eu mesma, não há julgamentos."
Mihalko explica as regras: é preciso perguntar -"verbalmente", ele reitera- se a outra pessoa concorda, antes de tentar beijar. Em caso de dúvida, negar. É melhor do que forçar a barra, diz. Também não vale ficar se esfregando -conta como sexo, e sexo não pode.
Mihalko explica que é preciso ter cuidado. "Há pessoas que não foram tocadas por anos. Então, quando acontece, todo tipo de emoção aparece", diz.
Enquanto a turma se embaralha no carpete, massageia o pé alheio ou alivia as tensões do pescoço do colega, o inventor da festa ainda filosofa sobre as diferenças entre EUA e Brasil.


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