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A FESTA DO CARINHO
Nova onda em Nova York é festa em que, vestidos a caráter, participantes se abraçam no chão
De pijama, americanos trocam afagos
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
Deve ter algo a ver com duas
décadas de pedagogia pelo sexo seguro, ou então é o café
sem cafeína que tomam de manhã, mas os americanos acabaram de inventar a festa em que,
vestidos de pijama, se esparramam pelo chão, abraçando estranhos, fazendo carinho, cafuné -só não vale passar disso.
Devidamente trajada, a reportagem da Folha participou
da mãe de todas as "cuddle
parties" (algo como "festa do
carinho/abraço"), inventada
pelo terapeuta corporal Reid
Mihalko, 36. "Participar" é modo de dizer. O repórter observou a festa. A seguir, o relato.
"Eu e meus amigos massagistas nos reuníamos e fazíamos a
festa da massagem. Alguns
amigos, não-massagistas, pediram para participar e resolvemos inventar a "festa do abraço'", explicou Mihalko, enquanto os participantes, naquele domingo de manhã nublada, formavam a rodinha de
bate-papo que antecede a ação.
Sentados no chão do apartamento do terapeuta, cada participante havia deixado US$ 20
num pote ao lado da porta. Entre ela e o tapete, um aquário
com uma jibóia de dois metros.
Debaixo de um quadro onde
se lê "o diabo era uma lésbica",
começam as apresentações.
Primeiro a falar, "Ed" -deu só
o apelido- diz ser "difícil encontrar a pessoa certa". Então,
está ali para isso. "Acabei de
sair de uma relação. Ainda sinto falta dela", confessa. "Art"
-mesma política sobre o nome-, sem camisa e com tatuagem, revela que foi casado por
28 anos e que está "fora do circuito social há muito tempo".
Coby, 34, diz que é "freqüentadora". "Aqui eu posso ser eu
mesma, não há julgamentos."
Mihalko explica as regras: é
preciso perguntar -"verbalmente", ele reitera- se a outra
pessoa concorda, antes de tentar beijar. Em caso de dúvida,
negar. É melhor do que forçar a
barra, diz. Também não vale ficar se esfregando -conta como sexo, e sexo não pode.
Mihalko explica que é preciso
ter cuidado. "Há pessoas que
não foram tocadas por anos.
Então, quando acontece, todo
tipo de emoção aparece", diz.
Enquanto a turma se embaralha no carpete, massageia o
pé alheio ou alivia as tensões do
pescoço do colega, o inventor
da festa ainda filosofa sobre as
diferenças entre EUA e Brasil.
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