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Bispos argentinos criticam terra em mãos estrangeiras
Segundo o Exército, 10% das terras já são de magnatas ou de grandes grupos
Movimento de bispos e livro sobre a Patagônia alertam para a internacionalização crescente e "indiscriminada de grandes extensões"
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
Os bispos argentinos expressaram na semana passada sua
preocupação com o processo de
concentração de terras do país
nas mãos de estrangeiros ou de
grandes grupos, em detrimento
dos pequenos produtores.
Segundo estimativa do Exército, 10% do território da Argentina -270 mil km2- pertencem a estrangeiros. Haveria
outros 32 milhões de hectares
de terras em processo de venda
a investidores internacionais.
A Conferência Episcopal Argentina afirmou que há "venda
indiscriminada de grandes extensões" e um processo de "estrangeirização da terra", com
danos sociais e ambientais, e
questionou a responsabilidade
do Estado. A entidade divulgou
o estudo "Uma Terra para Todos", em parceria com a Universidade Católica Argentina,
que destaca ainda que as áreas
vendidas abrigam importantes
reservatórios de água.
O movimento dos bispos
ocorre enquanto se discute na
Argentina uma polêmica proposta do piqueteiro Luis d'Elia,
atual subsecretário de terras do
governo do presidente Néstor
Kirchner, para expropriar terras de estrangeiros.
No início de agosto, D'Elia
invadiu a propriedade do empresário americano Douglas
Rainsford Tompkins, na Província de Corrientes. O piqueteiro sustenta que as terras são
improdutivas e guardam um
"enorme reservatório de água".
Em seguida, chegou ao Congresso projeto de lei assinado
por uma deputada kirchnerista
para desapropriar 300 mil hectares de Tompkins e criar ali
uma reserva nacional.
O mal-estar foi tanto que a
Casa Rosada chegou a dizer
que não apoiava expropriações.
Porém, o governo se aproveitou da ação de D'Elia para mostrar que não está alinhado com
o "imperialismo" dos EUA.
Tompkins, 63, diz comprar
terras para preservá-las.
Ao saber das declarações dos
bispos, D'Elia elogiou os religiosos. Os bispos, entretanto,
reagiram dizendo não defender
a expropriação de terras, apenas a implementação de uma
"política governamental mais
responsável".
Surpreendentemente, em
nota, Tompkins também elogiou os bispos. Disse que tem
"pontos de vista similares", que
a concentração de terras é fruto do "capitalismo de livre comércio desenfreado" e que pretende doar a área a uma reserva
nacional "após recuperar o
ecossistema".
Frisou, porém, que não comprou terras de pequenos produtores em dificuldade, mas de
grandes proprietários.
Magnatas
A Argentina não possui lei federal para regular a venda de
terras a estrangeiros -todos os
projetos relacionados ao tema
estão parados no Congresso. O
ex-presidente Carlos Menem é
apontado como o responsável
por acelerar o processo de "estrangeirização de terras" nos
anos 90.
Um livro-reportagem sobre
quem são os magnatas donos
de terras na Patagônia -onde
fica Santa Cruz, a Província natal do presidente Néstor Kirchner- acaba de ser lançado na
Argentina. "Patagônia Vendida", escrito pelo jornalista
Gonzalo Sánchez, da revista semanal "Notícias", descreve os
motivos e os caprichos de alguns desses milionários, cujas
fortunas, juntas, superam o
PIB da Bolívia.
Entre eles está a família Benetton, a maior proprietária
privada de terras na Argentina,
que está na mira de Luis d'Elia;
Ted Turner, o fundador da rede
CNN, que teria comprado uma
grande área apenas para pescar
trutas; e Joseph Lewis, o sexto
homem mais rico da Inglaterra,
dono de um império que inclui
o Hard Rock Café e o Planet
Hollywood.
Na semana passada, a CNN
exibiu uma reportagem criticando Luis d'Elia e a "instabilidade" existente na Argentina.
Bill Gates, o homem mais rico do mundo, também investirá na Patagônia, mas em uma mina de prata: serão cerca de US$ 120 milhões.
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