São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 2006

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Presidente uruguaio se divide entre mandato e consultório em hospital

LARRY ROHTER
DO "NEW YORK TIMES", EM MONTEVIDÉU

Como outros chefes de Estado em todo o mundo, Tabaré Vazquez passa a maior parte de seus dias de trabalho em reuniões no gabinete presidencial, lendo relatórios ou fazendo discursos. Mas em uma manhã por semana, em um luxo que talvez só seja possível ao presidente de um país de 3,3 milhões de habitantes, ele retoma a sua carreira inicial e se dirige a uma clínica para praticar a medicina.
Todas as terças-feiras, das 9h às 12h, o doutor Vazquez, 66, oncologista especializado em câncer de mama, pode ser encontrado no Centro de Diagnósticos Mamários, na capital uruguaia, onde mais de 23 mil pacientes são atendidas. Seu envolvimento com a clínica começou há 36 anos, e ele não pretende abandonar esse trabalho apenas porque outros deveres agora disputam lugar em sua agenda.
"Praticar a medicina não é só minha vocação. Também me oferece uma oportunidade de continuar em contato direto com o povo, conversar com as pessoas e ouvir sobre suas necessidades", declarou o presidente Vazquez em entrevista. "As pacientes raramente mencionam questões políticas durante as consultas. Mas me sentiria vazio e isolado se não pudesse praticar minha profissão e tivesse de abrir mão desse tipo de contato."
Eleito em 2004 para um mandato de cinco anos, com 51% dos votos, depois de fracassar em duas tentativas anteriores de conquistar a presidência, Vazquez é o primeiro presidente de esquerda do Uruguai.
Membro do Partido Socialista, ele comanda uma coalizão indisciplinada e abalada por freqüentes disputas, conhecida como Frente Ampla, que inclui facções que variam do Partido Comunista e de antigos guerrilheiros tupamaros, na extrema esquerda, a sociais democratas à maneira européia, bem perto do centro.
Quando ele assumiu, a principal questão parecia ser "Vazquez será Lula ou Chávez?", ou seja, ele adotaria abordagem moderada ou radical? A resposta já se tornou clara. Vazquez rejeitou o comportamento provocante e belicoso do presidente venezuelano em favor de medidas favoráveis ao livre mercado, mas até agora sem os casos de corrupção que macularam a reputação do presidente brasileiro.


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