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Consumo na China enriquece marcas internacionais
Nova classe média, maior beneficiária do crescimento econômico, gasta em um dia salário de trabalhador migrante
Café da Starbucks, roupas Zara, móveis Ikea e carros BMW estão na lista de objetos cobiçados em shoppings de Pequim
CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM
A julgar pelo discurso do presidente Hu Jintao na abertura
do 17º Congresso do Partido
Comunista, na segunda-feira, a
construção do "socialismo com
características chinesas" depende do mais capitalista de todos os hábitos: o consumo. Os
chineses desembolsam parcelas cada vez maiores de sua renda nos shoppings que se multiplicam nas grandes cidades.
O "desenvolvimento científico" defendido por Hu pressupõe o aumento do peso do consumo interno no crescimento,
dependente de investimentos e
das exportações. O objetivo está longe de ser alcançado, mas é
crescente o número de chineses dispostos a gastar somas
consideráveis em imóveis, cosméticos, roupas, carros, computadores, celulares e relógios.
O fenômeno se concentra
nos centros urbanos da costa
leste. Beneficiados pelo crescimento anual de dois dígitos, os
novos-ricos abrem o bolso e
cultivam hábitos até há pouco
estranhos à cultura chinesa.
Concebido pelo designer
francês Philippe Starck, o restaurante e bar Lan, na principal
avenida de Pequim, é uma extravagância de vários ambientes decorados com quadros no
teto, poltronas de espaldar alto,
lustres de cristal e cabeças de
rinocerontes. No Lan, os chineses endinheirados tomam vinho, fumam charuto, escutam
jazz e pagam contas que rondam os US$ 100, o equivalente
a 740 yuans-mais do que o salário mensal dos migrantes rurais que trabalham nas construções da cidade.
No The Place, um dos shoppings recém-inaugurados de
Pequim, a chinesa Hu Rong, 40,
gastou 800 yuans na tarde de
quarta-feira na compra de roupas na rede espanhola Zara.
Depois, foi a uma das 230 lojas
Starbucks espalhadas em 22 cidades chinesas, onde uma xícara de café custa 18 yuans (R$
4,4) -preço de uma refeição
em um restaurante popular.
Hu Rong dirige uma empresa
de arquitetura, é casada com
um empresário e tem uma filha
de um ano e sete meses. A família mora em uma das vilas de luxo que se multiplicam em Pequim e tem na garagem um
BMW e um Land Rover.
Além de bens de consumo, é
capaz de comprar o direito de
ter outro filho, em um país que
impõe um estrito controle de
natalidade. Hu está grávida e
diz que pagará ao governo a
multa cobrada das famílias que
desrespeitam a política de filho
único -neste ano, um casal foi
obrigado a pagar US$ 77 mil por
ter um segundo filho.
Apesar de muitos shoppings
de Pequim serem ocupados por
grifes de luxo, são as marcas de
preços mais acessíveis, como
Zara, que realmente fazem sucesso. A única loja da rede,
aberta neste ano, parecia estar
promovendo uma grande liquidação no domingo, com filas
nos provadores e nos caixas.
"Eu não ligo muito para grifes, mas gosto de produtos de
qualidade", afirma Zheng Hua,
30, que acabava de comprar
uma blusa por 400 yuans. Dona
de uma fábrica de alimentos,
Zheng é divorciada e vive em
um apartamento próprio de
400 metros quadrados.
As amigas Shi Jing, 30, e Yu
Li Sha, 27, gastam em média de
2.000 yuans a 4.000 yuans (R$
490 a R$ 970) em roupas e cosméticos por mês. Saem para
jantar fora a cada dois ou três
dias. "O nosso conceito de consumo mudou e passou a ser influenciado pelo Ocidente. Estamos muito mais preocupadas com a aparência", diz Shi, que
trabalha no setor imobiliário.
A rede sueca de móveis Ikea é
outra marca de preços acessíveis que encontrou seu caminho na China. Pequim é a sede
de sua maior loja fora da Suécia,
com 43 mil m2 e estacionamento para 1.200 carros.
Os supermercados Wal-Mart
e Carrefour se espalham pelas
zonas urbanas. A rede norte-americana se instalou na China
em 1996 e hoje tem 86 lojas,
nas quais diz atender 5 milhões
de consumidores por semana.
O concorrente francês chegou
em 1995 e já possui 345 filiais.
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