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Compras são privilégio de 10% dos chineses
População com renda anual de US$ 6.000 está em torno de 150 milhões
Segundo consultoria de Pequim, competição no país é feroz e margem de lucro, ainda pequena; segredo é vender muito a preço baixo
DA ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM
O universo das compras ainda é habitado por uma pequena
parcela do 1,3 bilhão de chineses, 57% dos quais vivem na
empobrecida zona rural.
As estimativas do número de
pessoas com renda suficiente
para gastar em bens de consumo varia de 100 milhões a 250
milhões, dependendo da fonte.
É um patamar baixo em relação
à população total, mas expressivo em termos absolutos.
Arthur Kroeber, diretor da
consultoria Dragonomics, com
sede em Pequim, acredita que
existem cerca de 45 milhões de
famílias no país com renda disponível (depois do pagamento
de impostos) de US$ 6.000
anuais, comparados a US$ 45
mil nos EUA.
O gasto desse universo de
quase 150 milhões de pessoas
ronda os US$ 250 bilhões por
ano, o equivalente a cerca de
5% do mercado consumidor
norte-americano.
Dentro de dez anos, esse grupo deverá incluir 300 milhões
de pessoas, com renda disponível de US$ 10 mil ao ano, prevê
Kroeber, o que representará
entre 18% e 20% do mercado de
consumo dos Estados Unidos, o
maior do mundo.
O crescimento econômico e o
aumento da renda mudaram de
maneira radical a vida das famílias chinesas. Há uma década, o
país tinha apenas 10 milhões de
celulares. Hoje, são 500 milhões, mais que qualquer outro
país. O número de internautas
já está em 160 milhões e é superado apenas pelo dos Estados
Unidos.
As cidades que eram dominadas por bicicletas 20 anos atrás
hoje vivem uma explosão no
número de carros em suas ruas,
o que levou a China ao posto de
segundo maior mercado automobilístico do mundo, à frente
do Japão.
A venda de veículos decolou
depois de 2001, quando o país
entrou na Organização Mundial do Comércio, e cresce a
uma velocidade próxima de
25% ao ano desde 2004. Em
agosto, o índice de expansão foi
de 42%, segundo o escritório
nacional de estatísticas.
A cidade de Pequim já tem 3
milhões de carros, comparados
a 80 mil em 1978, ano em que o
Partido Comunista aprovou a
política de reforma econômica
e abertura ao exterior proposta
por Deng Xiaoping.
Mas o mercado consumidor
com características chinesas
não é fácil de ser conquistado.
Kroeber afirma que a competição é feroz e a margem de lucro
das empresas, pequena. Para
serem viáveis, elas precisam
vender enormes quantidades a
preços baixos.
As lojas das grandes grifes internacionais estão nos shoppings, mas permanecem vazias.
Segundo o consultor, estar na
China é uma forma barata de
publicidade, mas não significa
vendas. Quando quer comprar
marcas como Louis Vuitton ou
Armani, a maioria dos chineses
prefere as lojas de Hong Kong,
onde os impostos sobre esse tipo de produto são bem mais
baixos do que na China continental, diz Kroeber.
O aumento do turismo é outra face do crescente poder de
compra chinês. No ano passado, 34,5 milhões de pessoas, alta de 11,3% em relação a 2005.
A Organização Mundial de Turismo estima que em uma década os chineses serão o segundo
maior grupo de turistas do
mundo, atrás apenas dos norte-americanos.
(CLÁUDIA TREVISAN)
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