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VENEZUELA
Enchentes e deslizamentos mataram mais de 200 pessoas nos últimos três dias, segundo o governo
Chuvas deixam 7.000 desaparecidos
JOÃO BATISTA NATALI
enviado especial a Caracas
Pelo menos 7.000 pessoas estão
desaparecidas e 200 morreram na
Venezuela nos últimos três dias
em razão das mais fortes chuvas
que caíram sobre seu litoral caribenho desde 1951, segundo o
chanceler venezuelano, José Vicente Rangel.
Segundo cifras não-oficiais, os
desabrigados poderiam chegar a
mais de 100 mil.
O Ministério do Interior não
conseguiu ainda mapear com
precisão as possíveis vítimas dos
deslizamentos, apesar dos poderes de que dispõe com o estado de
emergência, decretado anteontem em 5 dos 23 Estados venezuelanos, e do estado de alarme para
todo o país, decretado pela Assembléia Constituinte.
A assembléia substitui o Congresso depois da aprovação do
projeto da nova Constituição em
referendo realizado na última
quarta, até as novas eleições, em
fevereiro.
O Conselho Nacional Eleitoral
suspendeu ontem a totalização
manual dos votos do referendo de
quarta-feira sobre a nova Constituição. Com isso a promulgação
da nova Carta foi adiada por, no
mínimo, cinco dias, criando para
o país um vazio jurídico.
O presidente Hugo Chávez, em
cadeia nacional de TV anteontem
às 23h40 (1h40 de ontem em Brasília), vestido de oficial pára-quedista, disse não poder fazer um
balanço preciso das mortes.
Hernán Gruber, governador do
Distrito Federal, disse que em Caracas havia cem mortos. Mas, às
14h locais de ontem, só 27 corpos
esperavam identificação no necrotério central.
O Estado mais atingido é o de
Vargas, 20 km ao norte de Caracas, onde os desabrigados seriam
60 mil. Ainda não havia estimativa do número de mortos. A Vigilância Sanitária começou ontem a
alertar para os riscos de epidemia.
É em Vargas que se encontra o
Aeroporto Internacional Simón
Bolívar, que está fechado ao tráfego desde quarta-feira à noite.
A estação de passageiros, transformada em centro de desabrigados, está sem energia elétrica.
Uma das quatro pistas da estrada
Caracas-Guaira, que leva ao aeroporto, foi reaberta ao tráfego só
ontem de madrugada.
O morticínio não foi provocado
só pelas chuvas, mas sobretudo
pela falta de modelo de urbanização, o que leva a população mais
pobre a construir barracos sem
fiscalização pública em morros
suscetíveis de deslizamentos.
Os petrodólares que a Venezuela recebeu durante todo o século
não foram transformados em habitações populares ou num planejamento urbano decente. O país é
o 10º produtor de petróleo da
Opep (Organização dos Países
Exportadores de Petróleo).
As inundações põem a nu a inexistência de uma estrutura oficial
de assistência. Apesar da mobilização dos bombeiros e das Forças
Armadas, os recursos são tão parcos que Hugo Chávez, o presidente da República, apelou para que
se doem colchões, cobertores e
medicamentos.
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