São Paulo, Sábado, 18 de Dezembro de 1999


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VENEZUELA
Enchentes e deslizamentos mataram mais de 200 pessoas nos últimos três dias, segundo o governo
Chuvas deixam 7.000 desaparecidos

JOÃO BATISTA NATALI
enviado especial a Caracas

Pelo menos 7.000 pessoas estão desaparecidas e 200 morreram na Venezuela nos últimos três dias em razão das mais fortes chuvas que caíram sobre seu litoral caribenho desde 1951, segundo o chanceler venezuelano, José Vicente Rangel.
Segundo cifras não-oficiais, os desabrigados poderiam chegar a mais de 100 mil.
O Ministério do Interior não conseguiu ainda mapear com precisão as possíveis vítimas dos deslizamentos, apesar dos poderes de que dispõe com o estado de emergência, decretado anteontem em 5 dos 23 Estados venezuelanos, e do estado de alarme para todo o país, decretado pela Assembléia Constituinte.
A assembléia substitui o Congresso depois da aprovação do projeto da nova Constituição em referendo realizado na última quarta, até as novas eleições, em fevereiro.
O Conselho Nacional Eleitoral suspendeu ontem a totalização manual dos votos do referendo de quarta-feira sobre a nova Constituição. Com isso a promulgação da nova Carta foi adiada por, no mínimo, cinco dias, criando para o país um vazio jurídico.
O presidente Hugo Chávez, em cadeia nacional de TV anteontem às 23h40 (1h40 de ontem em Brasília), vestido de oficial pára-quedista, disse não poder fazer um balanço preciso das mortes.
Hernán Gruber, governador do Distrito Federal, disse que em Caracas havia cem mortos. Mas, às 14h locais de ontem, só 27 corpos esperavam identificação no necrotério central.
O Estado mais atingido é o de Vargas, 20 km ao norte de Caracas, onde os desabrigados seriam 60 mil. Ainda não havia estimativa do número de mortos. A Vigilância Sanitária começou ontem a alertar para os riscos de epidemia.
É em Vargas que se encontra o Aeroporto Internacional Simón Bolívar, que está fechado ao tráfego desde quarta-feira à noite.
A estação de passageiros, transformada em centro de desabrigados, está sem energia elétrica. Uma das quatro pistas da estrada Caracas-Guaira, que leva ao aeroporto, foi reaberta ao tráfego só ontem de madrugada.
O morticínio não foi provocado só pelas chuvas, mas sobretudo pela falta de modelo de urbanização, o que leva a população mais pobre a construir barracos sem fiscalização pública em morros suscetíveis de deslizamentos.
Os petrodólares que a Venezuela recebeu durante todo o século não foram transformados em habitações populares ou num planejamento urbano decente. O país é o 10º produtor de petróleo da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).
As inundações põem a nu a inexistência de uma estrutura oficial de assistência. Apesar da mobilização dos bombeiros e das Forças Armadas, os recursos são tão parcos que Hugo Chávez, o presidente da República, apelou para que se doem colchões, cobertores e medicamentos.


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