São Paulo, Sábado, 18 de Dezembro de 1999


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GUERRA NO CÁUCASO
Países-membros do grupo pediram que Moscou negocie imediato cessar-fogo na Tchetchênia
G-8 ameaça excluir Rússia do grupo

CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Berlim

O G-7, o clube dos sete países mais ricos do mundo, insinuou ontem que a Rússia poderia ser excluída do grupo, no qual ingressou há apenas dois anos, o que o levou a ser rebatizado para G-8.
A ameaça, como é óbvio, deve-se aos bombardeios que a Rússia está fazendo contra objetivos civis e militares na Tchetchênia.
"Essa guerra é uma séria ameaça à parceria e cooperação entre a Rússia e todos nós", disse o ministro alemão de Relações Exteriores, Joschka Fischer, em uma entrevista coletiva após a reunião de ministros do Exterior do G-8, realizada ontem em Berlim.
A entrevista, aliás, foi uma evidência física do desacordo entre a Rússia e os membros do G-7: embora todos devessem comparecer, só apareceram os ministros da Alemanha, a anfitriã, e do Japão, que assume a presidência do G-7 (ou G-8) no ano que vem.
Os ministros do G-7 exigiram da Rússia um "imediato e duradouro cessar-fogo" na Tchetchênia, mas não anunciaram nenhum tipo de sanção se a exigência não for atendida.
Por isso mesmo, o ministro britânico de Relações Exteriores, Robin Cook, foi mais franco do que o comunicado no qual se pede o imediato cessar-fogo:
"Não posso fingir que saio daqui com alguma confiança em que haverá um fim imediato da luta na Tchetchênia", admitiu.
Já o ministro russo do Exterior, Igor Ivanov, deixou Berlim como chegara: acusando os países ocidentais de tentar intervir em assuntos internos da Rússia.
Ivanov já havia feito a queixa em entrevista publicada ontem pelo jornal "Frankfurter Allgemeine" e repetiu-a no encontro com seus pares do G-7 e também nos encontros bilaterais com Madeleine Albright, a secretária norte-americana de Estado, e com o alemão Fischer.
A Rússia iniciou a ofensiva no território (que é formalmente russo e tem maioria muçulmana) em setembro, com argumento de combater guerrilhas islâmicas acusadas de terrorismo.
O pedido de imediato cessar-fogo foi feito após os ministros terem ouvido exposição de Knut Vollebaek, presidente da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), principal instrumento para a segurança da Europa Ocidental.
Vollebaek acaba de voltar de visita de inspeção à Tchetchênia, que o fez chegar à conclusão, de resto óbvia, de que ou há um imediato cessar-fogo ou "haverá um banho de sangue, porque ocorrerá uma luta intensa". O presidente da OSCE disse também que Grozni, a capital tchetchena, "não cairá facilmente".
Antes do encontro dos ministros, o britânico Robin Cook desfiou uma lista de reivindicações à Rússia que iam além do cessar-fogo. Incluíam também a retirada dos civis de Grozni e o início de um diálogo com vistas a uma solução não-militar do conflito.
Ivanov, o chanceler russo, descartou uma vez mais qualquer hipótese de um diálogo político. "Não haverá solução política até que o território tenha sido expurgado dos bandidos e terroristas que, por muito tempo, cevaram o desrespeito à lei e a anarquia", disparou Ivanov mal chegou a Berlim.
O irônico é que o objetivo original da reunião do G-8, ao ser convocada, era o de discutir como prevenir conflitos. Em meio a um deles, os ministros se limitaram à retórica para tentar encerrá-lo ou, ao menos, suspendê-lo.


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