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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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AMÉRICA LATINA

Para analistas, ao assumir a liderança da negociação sobre a crise, presidente entra em terreno de grande risco

Ação do Brasil ameaça relações com EUA

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Ao assumir papel de líder nas negociações para pôr fim à crise política na Venezuela, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceita um desafio que poderá consagrá-lo internacionalmente ou colocar em risco sua credibilidade externa e as relações com os EUA.
Essa é a análise de comentaristas políticos em Washington e do próprio governo americano, que acompanha as gestões de Lula com doses de cautela e surpresa.
"A crise na Venezuela é como areia movediça", diz Miguel Diaz, diretor do CSIS (Centro para Estudos Internacionais e Estratégicos), de Washington. "Líderes estrangeiros e diretores de organizações multilaterais podem ingressar facilmente nessa novela, mas sair dela sem feridas é muito mais difícil do que pode parecer."
O Departamento de Estado americano compartilha da mesma opinião, embora sua análise fria dos fatos misture-se a interesses americanos e ao desejo de que Lula alinhe-se integralmente à política externa dos EUA.
Duas autoridades americanas disseram à Folha que interessa aos EUA que o Brasil assuma uma posição mais ativa na América do Sul. Citando a crise no Peru em 2001 e a guerra civil na Colômbia, eles lembraram que essa foi a maior crítica dos EUA à política externa brasileira na era FHC.
Sob esse aspecto, Lula estaria corrigindo uma "deficiência" que, segundo os americanos, retardou a evolução das relações bilaterais nos últimos oito anos. No entanto as duas autoridades ressalvaram que Lula parece não ter ainda experiência externa necessária (como líder eleito) para intrometer-se numa crise tão complicada.
Os problemas enfrentados em Caracas pelo secretário-geral da OEA, César Gaviria, seriam exemplos dos riscos que Lula aceitou correr ao agir na Venezuela. Há um ano, Gaviria era odiado pela oposição e elogiado pelos chavistas por suas críticas à ruptura da ordem constitucional. Desde então, Gaviria criticou a intolerância de Chávez e acabou se indispondo com o próprio presidente, sem que as oposições o tivessem acolhido. O resultado não poderia ser pior: Gaviria perdeu grande parte de seu cacife com os dois lados.
No caso de Lula, lembram as autoridades americanas, o risco é similar. Ao aproximar-se de Chávez, Lula queimou parte do cacife que conquistara com sua visita ao presidente George W. Bush, no dia 10 de dezembro passado.
Além disso, como irritou as oposições venezuelanas, perde a chance de intermediar o conflito. Como resultado, o presidente brasileiro corre o risco de perder a boa vontade americana e, além disso, fracassar na Venezuela.
Para Diaz, do CSIS, Lula ganha crédito com seus vizinhos seja qual for o resultado de suas ações diplomáticas na Venezuela. "Todos querem ver o Brasil assumir sua liderança na região."



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