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AMÉRICA LATINA
Para analistas, ao assumir a liderança da negociação sobre a crise, presidente entra em terreno de grande risco
Ação do Brasil ameaça relações com EUA
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Ao assumir papel de líder nas
negociações para pôr fim à crise
política na Venezuela, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceita
um desafio que poderá consagrá-lo internacionalmente ou colocar
em risco sua credibilidade externa
e as relações com os EUA.
Essa é a análise de comentaristas políticos em Washington e do
próprio governo americano, que
acompanha as gestões de Lula
com doses de cautela e surpresa.
"A crise na Venezuela é como
areia movediça", diz Miguel Diaz,
diretor do CSIS (Centro para Estudos Internacionais e Estratégicos), de Washington. "Líderes estrangeiros e diretores de organizações multilaterais podem ingressar facilmente nessa novela,
mas sair dela sem feridas é muito
mais difícil do que pode parecer."
O Departamento de Estado
americano compartilha da mesma opinião, embora sua análise
fria dos fatos misture-se a interesses americanos e ao desejo de que
Lula alinhe-se integralmente à política externa dos EUA.
Duas autoridades americanas
disseram à Folha que interessa
aos EUA que o Brasil assuma uma
posição mais ativa na América do
Sul. Citando a crise no Peru em
2001 e a guerra civil na Colômbia,
eles lembraram que essa foi a
maior crítica dos EUA à política
externa brasileira na era FHC.
Sob esse aspecto, Lula estaria
corrigindo uma "deficiência" que,
segundo os americanos, retardou
a evolução das relações bilaterais
nos últimos oito anos. No entanto
as duas autoridades ressalvaram
que Lula parece não ter ainda experiência externa necessária (como líder eleito) para intrometer-se numa crise tão complicada.
Os problemas enfrentados em
Caracas pelo secretário-geral da
OEA, César Gaviria, seriam exemplos dos riscos que Lula aceitou
correr ao agir na Venezuela. Há
um ano, Gaviria era odiado pela
oposição e elogiado pelos chavistas por suas críticas à ruptura da
ordem constitucional. Desde então, Gaviria criticou a intolerância
de Chávez e acabou se indispondo
com o próprio presidente, sem
que as oposições o tivessem acolhido. O resultado não poderia ser
pior: Gaviria perdeu grande parte
de seu cacife com os dois lados.
No caso de Lula, lembram as autoridades americanas, o risco é similar. Ao aproximar-se de Chávez, Lula queimou parte do cacife
que conquistara com sua visita ao
presidente George W. Bush, no
dia 10 de dezembro passado.
Além disso, como irritou as
oposições venezuelanas, perde a
chance de intermediar o conflito.
Como resultado, o presidente
brasileiro corre o risco de perder a
boa vontade americana e, além
disso, fracassar na Venezuela.
Para Diaz, do CSIS, Lula ganha
crédito com seus vizinhos seja
qual for o resultado de suas ações
diplomáticas na Venezuela. "Todos querem ver o Brasil assumir
sua liderança na região."
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