São Paulo, terça-feira, 19 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

UE promete 422 milhões de euros

Bloco cobra mais coordenação no uso dos fundos em campo, ecoando preocupação externada pela ONU

Indicada para comissária de ajuda humanitária sofre resistência no Parlamento Europeu, e cargo pode ficar vago ou com um interino

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

A União Europeia anunciou ontem que elevará para 122 milhões sua contribuição para os esforços humanitários no Haiti, incluídas as doações de seus 27 integrantes, e prometeu dar 300 milhões para a reconstrução do país.
O bloco foi especialmente duro na exigência de mais coordenação na utilização dos fundos em campo, ecoando preocupações manifestadas pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pelas agências humanitárias envolvidas e por analistas e observadores.
Mas não acatou, a princípio, declarações de um ministro francês que criticou os EUA por deslocarem 10 mil militares para o Haiti e assumirem o controle do aeroporto da capital -a pedido de autoridades haitianas, segundo a ONU.
Alain Joyandet, ministro da Cooperação, teve seu momento Hugo Chávez ao dizer que se tratava de "ajudar o Haiti, não de ocupá-lo", segundo a agência Associated Press. O chanceler Bernard Kouchner pôs panos quentes afirmando que os países e agências não deveriam disputar a entrega de ajuda.
Buscando um papel maior na operação, os europeus pediram para participar da coordenação das ações com a ONU e os EUA e anunciaram que enviarão 150 policiais para reforçar a segurança em Porto Príncipe. O bloco quer ainda uma conferência sobre a reconstrução.
Especialistas ouvidos pela Folha alertam para o risco de a operação virar uma briga de vaidades em que doadores perdem tempo disputando holofotes para aparecer em ação. "O lógico seria a ONU coordenar os esforços, mas nem sempre isso acontece, pois cada agência e doador quer se distinguir", diz Paolo de Renzio, da Universidade de Oxford.
A descoordenação tem prejudicado o trabalho em campo de agências da ONU e ONGs. Elisabeth Byrs, porta-voz do braço de ajuda humanitária do organismo internacional (Ocha), lamentou em Genebra a dificuldade logística e alertou que o combustível começa a ser racionado, agravando o quadro.
A nova chanceler da UE, a britânica Catherine Ashton, discordou de que "o trabalho das ONGs seja prejudicado pelo excesso de visitantes e contribuintes ilustres". Ainda assim, o bloco esperará alguns dias para enviar sua missão.
O atual comissário para ajuda humanitária e desenvolvimento, Karel de Gucht, deve chegar ao Haiti amanhã. Mas De Gucht está prestes a deixar o cargo, e a conservadora romena Rumiana Jeleva, indicada como substituta, encontra forte resistência no Parlamento Europeu. Um veto pode deixar o posto vago por semanas ou nas mãos de um interino.
As decisões foram tomadas em reunião extraordinária ontem para organizar os esforços da UE -seus membros haviam feito ofertas desconjuntadas.
Do dinheiro a ser doado para a reconstrução, 100 milhões devem ser liberados em breve. Outros 200 milhões são fundos de longo e médio prazo para reerguer o país, que aguardam ainda a apresentação de projetos específicos.
A ONU informava que até ontem arrecadara 19% dos US$ 560 milhões que pediu para os esforços emergenciais no Haiti. Se considerado o que está sendo administrado pelos próprios países doadores e por ONGs, a arrecadação chega a US$ 273 milhões, e as promessas de donativos somam outros US$ 413 milhões, segundo a Ocha. O saldo ainda não incluía o novo anúncio europeu.


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