São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2000


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IMIGRAÇÃO
Estado torna-se preferido dos ilegais com o aumento da segurança na fronteira com o Texas e com a Califórnia
Fazendeiros caçam mexicanos no Arizona


JAN McGIRK
DO "THE INDEPENDENT", NO MÉXICO

Os irmãos Barnett nunca perdem uma oportunidade de sair para caçar no rancho de quase 9.000 hectares onde o mais velho deles cria gado, situado em Sierra Vista, ao longo da fronteira entre o México e o Arizona. Há mais de um ano o esporte dominical preferido deles e de dezenas de outros fazendeiros da região do árido condado de Cochise tem sido a caça a imigrantes ilegais.
Com a ajuda de cães treinados, os fazendeiros caçam e encurralam os apavorados mexicanos sob a mira de armas e os entregam à patrulha de fronteira norte-americana mais próxima.
"Gente para caçar não falta", diz Donald Barnett, 54. Apenas durante o mês de março cerca de 72 mil mexicanos à procura de trabalho tentaram atravessar as terras áridas e planas que separam Água Prieta, no México, de Douglas, no Arizona -mais que o triplo das estatísticas normais.
Pelo menos três mexicanos já foram mortos nessas circunstâncias, o que levou o governo norte-americano a prometer combater as caçadas (leia texto abaixo).

Fronteiras vigiadas
Desde que as fronteiras do Texas e da Califórnia ganharam vigilância mais eficiente, explica o prefeito de Douglas, Ray Borane, os imigrantes ilegais vêm invadindo o sudeste do Arizona em números recordes, usando rotas seculares abertas por bandidos, traficantes de armas e de bebidas.
"A coisa está saindo de controle. Circulam folhetos por aí convidando turistas a vir caçar mexicanos por diversão. Lazer ao sol. Traga seu jipe e venha ajudar um fazendeiro americano. Os folhetos incluem até uma lista das coisas que o turista não deve deixar de trazer: binóculos infravermelhos, cães, munição, filtro solar. É uma afronta aos direitos humanos", afirma Borane.
O governo mexicano recentemente denunciou como "xenófobos" esses pelotões de "cidadãos privados armados" e amadores que operam ao longo dos 133 quilômetros da fronteira do condado de Cochise. Foram convocadas reuniões de urgência entre o embaixador mexicano, Jesus Reyes Heroles, e o vice-secretário da Justiça dos EUA, Eric Holder.
Dos 25 confrontos documentados citados na reunião, pelo menos 14 tiveram o envolvimento dos irmãos Barnett.
"Não me arrependo de nada", reafirmou Donald Barnett. "A fazenda do meu irmão fica parecendo um lixão depois da passagem desses ilegais. Eles deixam toneladas de lixo por onde passam -fraldas sujas e o conteúdo das fraldas. Seria preciso ter cem caminhões, e mesmo assim não daria para levar tudo embora. As pessoas nos param na rua para perguntar o que se pode fazer."
"O governo Clinton defende as fronteiras de Kosovo, da Bósnia -todas menos a nossa. Eu me considero um patriota. Está acontecendo uma invasão mexicana em câmara lenta, e é preciso fazer alguma coisa para acabar com ela. Precisamos de tropas lá fora."


Tradução de Clara Allain


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