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AMÉRICA LATINA
Ação se refere a massacre de 22 pessoas durante a ditadura; constitucionalidade da medida é estudada
Juiz manda prender 10 militares argentinos
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
O juiz federal Carlos Skidelsky
pediu a prisão de dez militares
acusados de terem sequestrado,
torturado e matado 22 presos políticos em dezembro de 1976 na
Província do Chaco, norte da Argentina.
O caso, que ficou conhecido como massacre de Margarita Belén,
também teria contado com a participação do general Ricardo
Brinzoni, afastado da chefia do
Exército na primeira semana de
mandato do presidente Néstor
Kirchner. Na época, ele era secretário-geral do governo do Chaco.
Skidelsky ordenou a prisão com
base em uma declaração de inconstitucionalidade das leis de
Ponto Final e de Obediência Devida, sancionadas durante o governo de Raúl Alfonsín (1983-1989).
As leis permitiram a suspensão de
processos contra militares envolvidos em casos de violação de direitos humanos durante a ditadura militar de 1976 a 1983, também
conhecido como o período da
"guerra suja".
A Lei de Obediência Devida entrou em vigor em 1987. Determina que os militares que praticaram tortura o fizeram obedecendo a ordens superiores, o que os
inocenta de responsabilidades.
Com isso, muitos torturadores se
livraram de processos. Por essa
lei, apenas militares de alta patente poderiam ser condenados.
Há casos, ainda, de militares
que foram condenados por sequestros de crianças, o que não é
considerado crime político. Além
disso, na Argentina, sequestro é
um crime que não prescreve enquanto a pessoa sequestrada permanece desaparecida. Isso possibilitou que entidades de direitos
humanos dessem andamento aos
pedidos de prisão de alguns militares.
Ambas as leis -Ponto Final e
Obediência Devida- foram declaradas inconstitucionais em
março de 2001 pelo juiz federal
Gabriel Cavallo. No entanto só
deixarão de vigorar definitivamente com o aval da Corte Suprema de Justiça. Kirchner já pediu
urgência para a análise dessas leis
na corte.
Os pedidos de prisão reforçam a
atitude que Kirchner adotou desde a posse, em 25 de maio, de cobrar ações mais concretas da Justiça com relação aos casos de militares acusados de participar da "guerra suja".
O afastamento de Brinzoni e de
outros comandantes das Forças
Armadas ligados à ditadura foi o
primeiro passo. O governo deu o
consentimento à extradição, para
a Espanha, do general argentino
Ricardo Cavallo, preso há dois
anos e meio no México. Cavallo
será julgado na Espanha sob acusação de violação de direitos humanos de cidadãos espanhóis que
viviam na Argentina.
"Isso [o pedido de prisão] é resultado de anos de luta e trabalho.
Mas é claro que a presença de um
presidente que apóia a causa e cobra ações mais rígidas ajuda a
apressar as coisas", afirma Maria
José Guembe, do Cels (Centro de
Estudos Legais e Sociais), entidade que iniciou os pedidos de investigação contra militares.
"É como dar um caramelo a um
criança. Isso [os pedidos de prisão] nos enchem de esperança",
disse Hugo Argente, do grupo Familiares de Desaparecidos Políticos.
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