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AMÉRICA DO SUL
Diminuição de US$ 14 mi se deve à resistência boliviana, ao fracasso de projetos e à instabilidade institucional
EUA cortam ajuda à Bolívia em plena crise
IURI DANTAS
DE WASHINGTON
Em meio à turbulência política e
a instabilidade institucional da
Bolívia, os EUA pretendem diminuir nos próximos meses a ajuda
que mantêm no país por meio de
sua agência de desenvolvimento,
a Usaid. Em números, os recursos
devem ser cortados em cerca de
US$ 14 milhões (cerca de R$ 33,4
milhões). O foco do auxílio também deve mudar do atual caráter
nacional para programas regionais, para atingir também países
que fazem fronteira com a Bolívia.
De acordo com dados da OEA
(Organização dos Estados Americanos), cerca de 88% dos recursos
utilizados no combate às drogas
no país são verbas internacionais
de apoio, sendo os EUA os principais patrocinadores de alternativas para os chamados cocaleiros
-população pobre que planta folha de coca no interior.
Segundo a Folha apurou, pesaram na decisão dos EUA a resistência da sociedade boliviana às
iniciativas da Usaid e o fracasso de
alguns projetos, como o de deixar
nas mãos dos cocaleiros a erradicação de plantações.
A equipe americana quer alvejar agora países vizinhos, investindo em infra-estrutura e projetos sociais na fronteira para dificultar a passagem da droga.
Outro fator complicador é que o
cenário institucional ainda não
está sedimentado no país, que vive um intervalo entre a queda de
Carlos Mesa, há duas semanas, e
as próximas eleições, que devem
ser convocadas pelo atual presidente, Eduardo Rodríguez, dentro de no máximo seis meses.
Coca
Durante os últimos 15 anos, a
Bolívia ocupou um lugar importante nas preocupações do Departamento de Estado americano.
Pobre, o país teve sua dívida com
organismos internacionais perdoada por duas vezes nesse período, sendo a última na semana
passada.
A coca produzida lá, principalmente na região de Chapare,
transformada em pasta de coca e
depois refinada em cocaína, é
consumida principalmente nos
EUA. Por razões climáticas, a coca
boliviana possui maior qualidade
que a colombiana, sendo conseqüentemente mais cara e mais
procurada pelos consumidores.
Na semana passada, dados da
ONU (Organização das Nações
Unidas) mostraram um crescimento de 17% na produção da coca na Bolívia. O país se tornou, assim, o segundo maior produtor
mundial da droga, atrás apenas
da Colômbia, onde a Casa Branca
possui maior influência e acompanhamento por meio do Plano
Colômbia de combate ao tráfico e
às guerrilhas marxistas.
A Bolívia também possui seu
plano de combate às drogas, mas
por anos discute com Washington para convencer os americanos a investir mais em projetos
sociais, em vez de levar em conta
apenas a contenção do tráfico de
drogas.
Vizinhos
Para Peter De Shazo, do CSIS
(Centro de Estudos Estratégicos e
Internacionais), "os EUA querem
ver o fortalecimento da democracia na Bolívia, e esse fortalecimento também é importante para os
vizinhos".
Segundo o especialista, a participação dos países vizinhos nesse
processo deve se dar também em
relação ao combate às drogas. "A
produção da coca e o tráfico da
cocaína pelo Brasil não devem ser
motivo para preocupação apenas
para a Bolívia, mas também para
seus vizinhos".
O papel do Itamaraty, nesse caso, deveria ser o de acompanhar o
processo e auxiliar na estabilização do país. "[As próximas eleições] vão ser um desafio muito difícil. Em vez de apenas ir às urnas
em 180 dias, deveriam dar oportunidade aos mais diversos grupos de mostrar suas idéias à sociedade. O governo brasileiro acompanha cuidadosamente e deve se
esforçar para a estabilização do
país", disse De Shazo.
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