São Paulo, domingo, 19 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AMÉRICA DO SUL

Diminuição de US$ 14 mi se deve à resistência boliviana, ao fracasso de projetos e à instabilidade institucional

EUA cortam ajuda à Bolívia em plena crise

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

Em meio à turbulência política e a instabilidade institucional da Bolívia, os EUA pretendem diminuir nos próximos meses a ajuda que mantêm no país por meio de sua agência de desenvolvimento, a Usaid. Em números, os recursos devem ser cortados em cerca de US$ 14 milhões (cerca de R$ 33,4 milhões). O foco do auxílio também deve mudar do atual caráter nacional para programas regionais, para atingir também países que fazem fronteira com a Bolívia.
De acordo com dados da OEA (Organização dos Estados Americanos), cerca de 88% dos recursos utilizados no combate às drogas no país são verbas internacionais de apoio, sendo os EUA os principais patrocinadores de alternativas para os chamados cocaleiros -população pobre que planta folha de coca no interior.
Segundo a Folha apurou, pesaram na decisão dos EUA a resistência da sociedade boliviana às iniciativas da Usaid e o fracasso de alguns projetos, como o de deixar nas mãos dos cocaleiros a erradicação de plantações.
A equipe americana quer alvejar agora países vizinhos, investindo em infra-estrutura e projetos sociais na fronteira para dificultar a passagem da droga.
Outro fator complicador é que o cenário institucional ainda não está sedimentado no país, que vive um intervalo entre a queda de Carlos Mesa, há duas semanas, e as próximas eleições, que devem ser convocadas pelo atual presidente, Eduardo Rodríguez, dentro de no máximo seis meses.

Coca
Durante os últimos 15 anos, a Bolívia ocupou um lugar importante nas preocupações do Departamento de Estado americano. Pobre, o país teve sua dívida com organismos internacionais perdoada por duas vezes nesse período, sendo a última na semana passada.
A coca produzida lá, principalmente na região de Chapare, transformada em pasta de coca e depois refinada em cocaína, é consumida principalmente nos EUA. Por razões climáticas, a coca boliviana possui maior qualidade que a colombiana, sendo conseqüentemente mais cara e mais procurada pelos consumidores.
Na semana passada, dados da ONU (Organização das Nações Unidas) mostraram um crescimento de 17% na produção da coca na Bolívia. O país se tornou, assim, o segundo maior produtor mundial da droga, atrás apenas da Colômbia, onde a Casa Branca possui maior influência e acompanhamento por meio do Plano Colômbia de combate ao tráfico e às guerrilhas marxistas.
A Bolívia também possui seu plano de combate às drogas, mas por anos discute com Washington para convencer os americanos a investir mais em projetos sociais, em vez de levar em conta apenas a contenção do tráfico de drogas.

Vizinhos
Para Peter De Shazo, do CSIS (Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais), "os EUA querem ver o fortalecimento da democracia na Bolívia, e esse fortalecimento também é importante para os vizinhos".
Segundo o especialista, a participação dos países vizinhos nesse processo deve se dar também em relação ao combate às drogas. "A produção da coca e o tráfico da cocaína pelo Brasil não devem ser motivo para preocupação apenas para a Bolívia, mas também para seus vizinhos".
O papel do Itamaraty, nesse caso, deveria ser o de acompanhar o processo e auxiliar na estabilização do país. "[As próximas eleições] vão ser um desafio muito difícil. Em vez de apenas ir às urnas em 180 dias, deveriam dar oportunidade aos mais diversos grupos de mostrar suas idéias à sociedade. O governo brasileiro acompanha cuidadosamente e deve se esforçar para a estabilização do país", disse De Shazo.


Texto Anterior: Perfil: Argentino estuda formas de lidar com globalização
Próximo Texto: Guerra sem limites: Governo Bush lança ofensiva para ampliar pacote de leis antiterror
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.