São Paulo, domingo, 19 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA SEM LIMITES

Esboço de plano prevê prisões secretas

Governo Bush lança ofensiva para ampliar pacote de leis antiterror

DE WASHINGTON

Sob críticas cada vez mais intensas e freqüentes sobre a condução de sua guerra ao terrorismo, o presidente americano, George W. Bush, prepara uma nova batalha doméstica para conseguir manter e ampliar o chamado Patriot Act, um conjunto de leis que permite investigações, vigilâncias, interceptações telefônicas e outras medidas sem autorização da Justiça.
Para tornar a tarefa ainda mais difícil, a aprovação à invasão do Iraque pela população vem caindo, e a divulgação do modo de tratamento dos suspeitos detidos na base americana de Guantánamo, em Cuba, esquentou os debates no Congresso sobre a extinção da unidade. O cenário obrigou a Casa Branca a mudar sua estratégia. A partir de agora, Bush deverá reforçar o papel dos EUA no Iraque em seus discursos.
O secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, concedeu entrevista na semana passada para assegurar que Guantánamo é a única instalação militar com estrutura capaz de aprisionar suspeitos de terrorismo. E a secretária de Estado, Condoleezza Rice, voltou a pedir "paciência" aos americanos com os resultados da guerra.
Em relação ao Patriot Act, a discussão tem data, ao menos teoricamente, para terminar: no final do ano vencem cerca de 10% dos dispositivos previstos na lei, duramente criticada por grupos de direitos civis por limitar as liberdades e permitir que o governo espione cidadãos comuns sem o seu consentimento ou mesmo conhecimento do fato. Nos EUA, o prazo é chamado de "crepúsculo" de 15 itens da lei.
Entre eles está a possibilidade de fazer buscas em residências sem o conhecimento do morador, monitorar e-mails e páginas que os cidadãos visitam na internet e interceptar linhas com base em mandados que não possuem o nome do detentor do telefone.
Bush ironiza a questão em seus discursos, dizendo que o "crepúsculo" deixará as autoridades "no escuro" para investigar suspeitos de terrorismo. Enquanto isso, a Casa Branca prepara um documento que dará ainda mais poder ao FBI (uma das polícias federais dos EUA) e à CIA (Agência Central de Inteligência).
Divulgado na semana passada pelo CPI (Centro pela Integridade Pública), o rascunho do que seria um Patriot Act 2 prevê, por exemplo: 1) construção de prisões "secretas", para os suspeitos e condenados por terrorismo; 2) a regulamentação de novas penas de morte federais; 3) a perda de cidadania para os americanos que realizem atos de terrorismo ou apóiem grupos classificados como terroristas.
A Casa Branca não confirma oficialmente o rascunho. Segundo o CPI, o documento foi elaborado pelo Advogado Geral dos EUA e enviado para recebimento de sugestões de outros departamentos do governo federal.
O governo partiu para a defensiva sobre Guantánamo na segunda-feira, depois que a revista "Time" divulgou a rotina dos detentos na unidade. Segundo a publicação, o prisioneiro de número 63 seria um dos seqüestradores dos aviões que derrubaram as torres do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001.
Em entrevista coletiva no Pentágono, Rumsfeld, insistiu que os depoimentos colhidos em Guantánamo fornecem informações vitais no combate ao terrorismo. E que todos os suspeitos recebem tratamento adequado.
Porém a bancada do Partido Democrata, que faz oposição aos republicanos do partido de Bush, elevou o tom das críticas, depois que o Departamento da Justiça afirmou, em carta a congressistas, que os suspeitos poderiam ficar em Guantánamo para sempre, mesmo sem acusações formais.


Texto Anterior: América do Sul: EUA cortam ajuda à Bolívia em plena crise
Próximo Texto: Imigrante ganha cartilha nos EUA
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.