São Paulo, sexta-feira, 19 de julho de 2002

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REINO UNIDO

Mês de julho vê recrudescimento das reivindicações trabalhistas; greve no metrô paralisou Londres ontem

Greves trazem dificuldades para Blair

Reuters
Londrina observa trilho vazio na estação de metrô de Upminster


MARC ROCHE
DO ""LE MONDE", EM LONDRES

O mês de julho está sendo marcado por um recrudescimento das reivindicações trabalhistas nos serviços públicos britânicos.
Uma greve de condutores do metrô, protestando contra o plano de semiprivatização da rede, paralisou Londres ontem. Anteontem, 1 milhão de servidores públicos municipais pararam, em sua maior greve desde o ""inverno do descontentamento" que levou à queda do governo trabalhista em 1979 (leia texto abaixo).
O premiê trabalhista Tony Blair pensava ter conquistado o apoio dos sindicatos com suas reformas, como a criação do salário mínimo e a assinatura da carta social européia sobre a jornada de trabalho. Seu ministro da Fazenda, Gordon Brown, apresentou nesta semana um programa ambicioso de gastos públicos de 95 milhões em três anos, boa parte dos quais destinados à educação.
Os setores da saúde e dos transportes, dois outros pontos negros da ação do governo, já tinham recebido a parte do leão do Orçamento para 2002-2003, anunciado há poucos meses. Quanto ao ""milagre econômico" do qual Brown se orgulha, vai bem, obrigado: crescimento sólido, as menores taxas de inflação e juros até agora, desemprego mínimo, produtividade em alta.
Apesar disso, os conflitos sociais se multiplicam no setor público, lembrando, embora em escala menor, as grandes greves que marcaram o Reino Unido dos conservadores, em 1989 e 1996. Os sindicatos não pedem só salários melhores. A filosofia de reestruturação do setor público adotada pelo "novo trabalhismo", que visa associá-lo ao setor privado, também está sendo contestada.
A crise corre solta entre o governo e a confederação sindical Trade Union Congress (TUC). Crescem os atritos em relação ao plano que visaria especialmente escolas, correios, metrô e ferrovias. As deficiências do setor público, dilapidado após 18 anos de austeridade dos conservadores e quatro de rigor econômico trabalhista, alimentam a insatisfação.
É justamente a restauração dos serviços públicos, com a qual Blair se comprometeu em seu segundo mandato, que deve determinar os resultados da próxima eleição. A única boa notícia para o governo britânico é que a Comissão Européia aprovou, anteontem, o auxílio de 37,5 milhões que Londres quer conceder à Network Rail, empresa recém-criada para garantir a exploração da malha ferroviária nacional.
O índice de sindicalização dos funcionários públicos volta a aumentar, após as décadas de vacas magras de 1980 e 1990. Esse ligeiro avanço da TUC é acompanhado pelo surgimento de uma nova geração de líderes sindicais mais radicais em setores-chave como o ferroviário, os serviços públicos municipais e os correios.
Com a recente saída do presidente da TUC, o moderado John Monks, Blair perdeu um aliado precioso. A polêmica em torno dos altos salários pagos a dirigentes de grandes corporações intensifica as exigências trabalhistas.
Pela primeira vez desde a sua reeleição, no ano passado, Blair se vê na defensiva. Apesar de uma ligeira retomada nas pesquisas, o Partido Conservador continua exilado no deserto. Mas os escândalos ligados ao financiamento do Partido Trabalhista, o autoritarismo de Blair e as manipulações da opinião pública por seus marqueteiros acabaram por enfraquecê-lo.

Tradução de Clara Allain


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