São Paulo, sexta-feira, 19 de julho de 2002

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ALEMANHA

Chanceler, que está atrás nas pesquisas eleitorais, enfrenta escândalo político 2 meses antes do pleito legislativo

Schröder demite ministro da Defesa para estancar crise

TONY PATERSON
DO "THE INDEPENDENT", EM BERLIM

O chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, anunciou ontem a destituição de seu ministro da Defesa, Rudolf Scharping, 54, em meio à chuva de acusações de que ele recebera dezenas de milhares de dólares de uma empresa de relações públicas que representa fabricantes de armas.
Num caso que foi visto como um grande revés para os social-democratas, pois ocorreu pouco mais de dois meses antes da eleição legislativa, Schröder foi forçado a anunciar a demissão de Scharping menos de 24 horas após o início do escândalo. Ele se tornou o nono ministro demitido desde que Schröder chegou ao poder, no final de 1998.
"A base necessária para que haja cooperação e confiança no governo não existe mais. Pedi ao presidente alemão [Johannes Rau" que dispense o ministro da Defesa", declarou Schröder após interromper uma visita ao festival de música de Bayreuth para tratar da crise governamental.
Textos publicados anteontem pela revista alemã "Stern" afirmam que Scharping recebeu o equivalente a mais de US$ 70 mil da empresa de relações públicas Hunzinger -que representa fabricantes de armas- como pagamento por palestras dadas.
A "Stern" sustenta que cerca de US$ 30 mil foram recebidos por Scharping quando ele já era ministro da Defesa do país. Isso seria uma violação à lei alemã, já que ela proíbe que os ministros recebam qualquer tipo de pagamento além do salário.
A revista também publicou fotografias de recibos de um dos alfaiates mais caros de Frankfurt. Segundo a "Stern", a Hunzinger pode ter dado mais de US$ 25 mil a Scharping para pagar ternos, paletós e camisas. "Isso enfureceu muitos membros do partido", afirmou um assessor dos social-democratas alemães.
Irritado, Scharping refutou as acusações. "Os textos da "Stern" têm todas as características de uma campanha especificamente direcionada contra mim. Deixo o governo de cabeça erguida e farei tudo o que puder para limpar meu nome", afirmou Scharping.
Os democrata-cristãos, que lideram as pesquisas relacionadas ao pleito de setembro, quase não conseguiram esconder sua alegria com a destituição do ministro da Defesa. "Percebemos que o governo atravessa um processo de decomposição. Se Scharping tivesse um pouco de coragem, já teria renunciado há muito tempo", declarou Edmund Stoiber, candidato a chanceler contra Schröder.
Scharping já tivera seu nome envolvido em outros escândalos anteriormente. No ano passado, por exemplo, quase perdeu seu posto após concordar em ser fotografado nadando nu com sua namorada em Mallorca (Espanha).
Ele foi candidato a chanceler em 1994, mas foi derrotado pelo democrata-cristão Helmut Kohl. Sua carreira política ganhou novo alento quando ele foi indicado para o Ministério da Defesa. Seu substituto será Peter Struck, líder social-democrata no Parlamento.


Com agências internacionais


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