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Premiê tem disputa com rede BBC
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Se confirmada, a morte de David Kelly, cientista e conselheiro
do Ministério da Defesa britânico,
além de complicar os problemas
políticos do governo, agravará a
polêmica em curso sobre o papel
da mídia no Reino Unido e o desempenho da rede BBC.
O cientista esteve no centro de
uma disputa entre a BBC, que tem
a maior parte de seu orçamento
financiado por recursos públicos,
e o governo de Tony Blair.
A BBC vem sustentando uma
dura disputa com o governo há
um mês e meio. Numa reportagem, o governo foi acusado de ter
superestimado informações dos
serviços de inteligência na preparação do dossiê que formou a base dos argumentos de Blair de que
a Guerra do Iraque era necessária.
Não é a primeira disputa entre a
BBC e um governo britânico, e as
tentativas do poder central britânico de influenciar na cobertura
da BBC são registradas em livros
sobre a mídia no Reino Unido.
A grande diferença entre ela e
redes públicas de TV em outros
países é o financiamento. Do total
de seu orçamento, 2 bilhões de libras (cerca de US$ 3,2 bilhões) são
recursos de uma taxa de 116 libras
por ano, paga diretamente por
qualquer pessoa que tenha um
aparelho de TV a cores em casa
para a BBC. Por esse dinheiro, o
britânico tem o direito de assistir
a oito canais de TV e de captar oito emissoras de rádio da rede.
Isso quer dizer que a receita maciça da BBC vem de uma taxa que
o usuário paga, e não é parte de
um bolo de receitas de impostos
cobrados e administrados pelo
governo. Assim, a rede considera
que seu compromisso é com o
público e não com o ocupante do
poder. Mas houve tentativas de
controlar o orçamento da rede.
Uma delas foi no governo da ex-primeira-ministra conservadora
Margaret Thatcher, em que os
reajustes da taxa paga à BBC eram
muitas vezes inferiores à inflação,
para que a rede fosse obrigada a
depender de recursos públicos.
Na atual disputa com o governo, a BBC vem sendo acusada por
integrantes do primeiro escalão
da administração de ter sido tendenciosa na cobertura da Guerra
do Iraque. E a reportagem sobre o
dossiê seria o caso mais grave. A
rede tem se defendido, apontando uma longa lista de argumentos
e reportagens que provariam a
sua imparcialidade.
Até agora, a rede tem resistido a
pressões para recuar ou mesmo
tirar o apoio ao repórter Andrew
Gilligan, autor da reportagem sobre o dossiê. O diretor de notícias
da BBC, Richard Sambrook, tem
o respaldo do conselho administrativo da rede até agora.
Entretanto o episódio pôs no
centro das discussões os padrões
de jornalismo da rede. Também
começa a ser questionado o papel
do governo. O conselho administrativo da BBC determinou que
seja feita uma auditoria independente sobre a imparcialidade da
rede.
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