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São Paulo, sábado, 19 de julho de 2003

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Premiê tem disputa com rede BBC

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Se confirmada, a morte de David Kelly, cientista e conselheiro do Ministério da Defesa britânico, além de complicar os problemas políticos do governo, agravará a polêmica em curso sobre o papel da mídia no Reino Unido e o desempenho da rede BBC.
O cientista esteve no centro de uma disputa entre a BBC, que tem a maior parte de seu orçamento financiado por recursos públicos, e o governo de Tony Blair.
A BBC vem sustentando uma dura disputa com o governo há um mês e meio. Numa reportagem, o governo foi acusado de ter superestimado informações dos serviços de inteligência na preparação do dossiê que formou a base dos argumentos de Blair de que a Guerra do Iraque era necessária.
Não é a primeira disputa entre a BBC e um governo britânico, e as tentativas do poder central britânico de influenciar na cobertura da BBC são registradas em livros sobre a mídia no Reino Unido.
A grande diferença entre ela e redes públicas de TV em outros países é o financiamento. Do total de seu orçamento, 2 bilhões de libras (cerca de US$ 3,2 bilhões) são recursos de uma taxa de 116 libras por ano, paga diretamente por qualquer pessoa que tenha um aparelho de TV a cores em casa para a BBC. Por esse dinheiro, o britânico tem o direito de assistir a oito canais de TV e de captar oito emissoras de rádio da rede.
Isso quer dizer que a receita maciça da BBC vem de uma taxa que o usuário paga, e não é parte de um bolo de receitas de impostos cobrados e administrados pelo governo. Assim, a rede considera que seu compromisso é com o público e não com o ocupante do poder. Mas houve tentativas de controlar o orçamento da rede.
Uma delas foi no governo da ex-primeira-ministra conservadora Margaret Thatcher, em que os reajustes da taxa paga à BBC eram muitas vezes inferiores à inflação, para que a rede fosse obrigada a depender de recursos públicos.
Na atual disputa com o governo, a BBC vem sendo acusada por integrantes do primeiro escalão da administração de ter sido tendenciosa na cobertura da Guerra do Iraque. E a reportagem sobre o dossiê seria o caso mais grave. A rede tem se defendido, apontando uma longa lista de argumentos e reportagens que provariam a sua imparcialidade.
Até agora, a rede tem resistido a pressões para recuar ou mesmo tirar o apoio ao repórter Andrew Gilligan, autor da reportagem sobre o dossiê. O diretor de notícias da BBC, Richard Sambrook, tem o respaldo do conselho administrativo da rede até agora.
Entretanto o episódio pôs no centro das discussões os padrões de jornalismo da rede. Também começa a ser questionado o papel do governo. O conselho administrativo da BBC determinou que seja feita uma auditoria independente sobre a imparcialidade da rede.


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