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DIPLOMACIA
Afastamento de Bustani da Opaq foi ilegal, diz corte
Destituição de diplomata brasileiro de órgão da ONU é considerada nula
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LONDRES
A destituição do embaixador
brasileiro José Maurício Bustani,
57, do cargo de diretor-geral da
Organização para a Proscrição
das Armas Químicas (Opaq),
ocorrida em 2002 por pressão dos
EUA, foi considerada ilegal por
um tribunal da Organização das
Nações Unidas (ONU) que julga
ações trabalhistas de funcionários
de organismos internacionais.
Além de anular o ato -o que
poderia levar à recondução de
Bustani ao cargo, embora isso não
deva ocorrer- o tribunal, com
sede na Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, determinou que a Opaq pague uma indenização por danos
morais de 55 mil (R$ 179 mil) a
Bustani, atualmente embaixador
do Brasil em Londres.
Criada em 1997 no âmbito da
ONU, a Opaq busca colocar em
prática uma convenção internacional de 1994 que proibiu o desenvolvimento de armas químicas no mundo. O brasileiro dirigia
o órgão desde o início e havia sido
reeleito por unanimidade. Mas,
no início de 2002, os EUA o pressionaram a renunciar.
Diante de sua negativa, o governo George W. Bush iniciou uma
campanha entre os 145 países que
integram a Opaq pela demissão
de Bustani, o que ocorreu em abril
daquele ano numa votação realizada especialmente para tal fim.
Os EUA acusaram Bustani de
má gestão, de possuir um estilo
autoritário e de defender papéis
inapropriados para a Opaq. Segundo Bustani, a administração
Bush queria controlar a Opaq.
Um dos pontos de atrito teria sido o empenho do diplomata em
atrair o Iraque para a Opaq, o que
abriria caminho para que o suposto arsenal iraquiano de armas
químicas fosse monitorado pela
entidade. Isso não interessava aos
EUA, que preparavam sua ofensiva diplomática -e militar- contra o regime de Saddam Hussein,
deposto pela guerra.
Bustani iniciou o processo na
OIT há um ano. Argumentou que
o diretor de uma organização internacional não poderia ser demitido sem um julgamento de seus
atos, com direito a defesa.
Informado da vitória, ele divulgou uma nota à imprensa, na qual
diz que não pretendia recuperar o
cargo, mas que agiu pela "convicção de que o fato constituiu precedente extremamente danoso aos
princípios essenciais do direito
dos organismos internacionais e
do multilateralismo".
"A jurisprudência do tribunal
administrativo da OIT, ao condenar o afastamento, por motivos
políticos, de dirigentes de organizações internacionais eleitos de
maneira legítima, constitui importante referência com vistas a
preservar a independência e a imparcialidade desses organismos."
Ele pretende doar a indenização
a programas de apoio a países em
desenvolvimento da Opaq.
O resultado da sentença já foi
transmitido à Opaq, com sede em
Haia (Holanda), hoje dirigida pelo argentino Rogélio Pfirter. Mas
qualquer reação da entidade não
deve ocorrer antes de setembro
devido às férias de verão no hemisfério Norte.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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