São Paulo, sexta-feira, 19 de outubro de 2001

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ESTRATÉGIA

"Balanço Militar" prevê aumento de despesa com defesa na nova realidade internacional

Ação vai incentivar gasto militar

MARCELO STAROBINAS
EM LONDRES

Os atentados de 11 de setembro inauguraram uma nova era nas relações internacionais, em que o combate ao terrorismo será elemento essencial na formação de alianças diplomáticas e no aumento dos gastos militares.
Essa é uma das principais conclusões do "Balanço Militar 2000-2001" do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), com sede em Londres.
Pela primeira vez, a publicação anual, que monitora a capacidade militar de 168 países e registra a compra e a venda de armamentos, inclui um capítulo para grupos armados que não sejam Estados, entre eles, é claro, a rede terrorista Al Qaeda.
"Uma nova era estratégica acaba de nascer", disse comunicado do IISS, entidade independente fundada em 1958 e uma das mais prestigiosas do ramo.
"Os EUA têm um novo inimigo definido, que não é nem a velha União Soviética nem uma potencialmente ressurgente China, mas o terrorismo internacional, sobretudo o terrorismo capaz de "sequestrar" Estados para operar a partir deles."
Talvez ainda seja cedo para fazer grandes projeções sobre os efeitos do 11 de setembro, mas o IISS aponta a presente cooperação entre os EUA e a Rússia na atual campanha no Afeganistão como um exemplo de que a luta antiterrorismo é capaz de colocar lado a lado até mesmo ex-rivais.
John Chipman, diretor do IISS, disse ontem que o livro traz um alerta sobre "a enormidade dos desafios políticos, financeiros e diplomáticos que acompanharão a campanha contra o terrorismo".
Um dos primeiros reflexos práticos dos atentados a Nova York e Washington, segundo o IISS, deve ser um aumento nas cifras que os países gastam com defesa. No ano passado, um total de US$ 804 bilhões foram designados para tais fins, quantia que deve ser superada em 2001.
Isso deverá alterar a tendência decrescente de novas entregas de armas. Em 1999, o comércio de armas movimentou US$ 37,2 bilhões -no ano seguinte, o número caiu para US$ 29,3 bilhões, com os EUA dominando 50% do mercado.
O instituto acredita também numa abrupta mudança de curso no planejamento estratégico-militar norte-americano. A cúpula militar em Washington começava a se convencer de que, com o fim da ameaça comunista, não fazia mais sentido a ideia fundamental de que os EUA deveriam manter a sua capacidade de travar dois grandes conflitos armados simultaneamente.
Essa concepção militar deveria ser revista este ano, o que possivelmente levaria a alguma redução no número de soldados e nos gastos dos EUA para defesa.
Agora, observa o IISS, as autoridades americanas devem preparar suas forças para "atuar em um grande conflito e participar de uma série de operações especiais simultaneamente".
A variedade de iniciativas que o presidente George W. Bush terá de tomar na tentativa de reduzir a ameaça terrorista inclui a criação de um novo regime no Afeganistão, o apoio ao Paquistão e o relançamento do processo de paz entre Israel e os palestinos, o que deve levar os EUA a uma posição internacional mais intervencionista, segundo o IISS.
Chipman afirmou que Washington e seus aliados serão obrigados a se envolver com a política mundial "de uma forma que não se via desde os mais duros dias da Guerra Fria" -contrariamente ao que o candidato Bush pregava.
Segundo o novo "Balanço Militar", até o final de agosto 31 conflitos armados (22 guerras civis e 9 enfrentamentos internacionais) haviam sido travados no mundo, uma queda em relação aos 37 do ano anterior. Pelo menos 60 mil pessoas morreram em guerras entre agosto de 2000 e agosto de 2001.


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