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ESTRATÉGIA
"Balanço Militar" prevê aumento de despesa com defesa na nova realidade internacional
Ação vai incentivar gasto militar
MARCELO STAROBINAS
EM LONDRES
Os atentados de 11 de setembro
inauguraram uma nova era nas
relações internacionais, em que o
combate ao terrorismo será elemento essencial na formação de
alianças diplomáticas e no aumento dos gastos militares.
Essa é uma das principais conclusões do "Balanço Militar 2000-2001" do Instituto Internacional
de Estudos Estratégicos (IISS, na
sigla em inglês), com sede em
Londres.
Pela primeira vez, a publicação
anual, que monitora a capacidade
militar de 168 países e registra a
compra e a venda de armamentos, inclui um capítulo para grupos armados que não sejam Estados, entre eles, é claro, a rede terrorista Al Qaeda.
"Uma nova era estratégica acaba de nascer", disse comunicado
do IISS, entidade independente
fundada em 1958 e uma das mais
prestigiosas do ramo.
"Os EUA têm um novo inimigo
definido, que não é nem a velha
União Soviética nem uma potencialmente ressurgente China, mas
o terrorismo internacional, sobretudo o terrorismo capaz de "sequestrar" Estados para operar a
partir deles."
Talvez ainda seja cedo para fazer grandes projeções sobre os
efeitos do 11 de setembro, mas o
IISS aponta a presente cooperação entre os EUA e a Rússia na
atual campanha no Afeganistão
como um exemplo de que a luta
antiterrorismo é capaz de colocar
lado a lado até mesmo ex-rivais.
John Chipman, diretor do IISS,
disse ontem que o livro traz um
alerta sobre "a enormidade dos
desafios políticos, financeiros e
diplomáticos que acompanharão
a campanha contra o terrorismo".
Um dos primeiros reflexos práticos dos atentados a Nova York e
Washington, segundo o IISS, deve
ser um aumento nas cifras que os
países gastam com defesa. No ano
passado, um total de US$ 804 bilhões foram designados para tais
fins, quantia que deve ser superada em 2001.
Isso deverá alterar a tendência
decrescente de novas entregas de
armas. Em 1999, o comércio de
armas movimentou US$ 37,2 bilhões -no ano seguinte, o número caiu para US$ 29,3 bilhões,
com os EUA dominando 50% do
mercado.
O instituto acredita também
numa abrupta mudança de curso
no planejamento estratégico-militar norte-americano. A cúpula
militar em Washington começava
a se convencer de que, com o fim
da ameaça comunista, não fazia
mais sentido a ideia fundamental
de que os EUA deveriam manter a
sua capacidade de travar dois
grandes conflitos armados simultaneamente.
Essa concepção militar deveria
ser revista este ano, o que possivelmente levaria a alguma redução no número de soldados e nos
gastos dos EUA para defesa.
Agora, observa o IISS, as autoridades americanas devem preparar suas forças para "atuar em um
grande conflito e participar de
uma série de operações especiais
simultaneamente".
A variedade de iniciativas que o
presidente George W. Bush terá
de tomar na tentativa de reduzir a
ameaça terrorista inclui a criação
de um novo regime no Afeganistão, o apoio ao Paquistão e o relançamento do processo de paz
entre Israel e os palestinos, o que
deve levar os EUA a uma posição
internacional mais intervencionista, segundo o IISS.
Chipman afirmou que Washington e seus aliados serão obrigados a se envolver com a política
mundial "de uma forma que não
se via desde os mais duros dias da
Guerra Fria" -contrariamente
ao que o candidato Bush pregava.
Segundo o novo "Balanço Militar", até o final de agosto 31 conflitos armados (22 guerras civis e 9
enfrentamentos internacionais)
haviam sido travados no mundo,
uma queda em relação aos 37 do
ano anterior. Pelo menos 60 mil
pessoas morreram em guerras
entre agosto de 2000 e agosto de
2001.
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