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Ataque é ruim para Ocidente, diz francês
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Os bombardeios no Afeganistão
são "extremamente negativos"
para a imagem do Ocidente, diz o
almirante da reserva francês Pierre Lacoste, autor de "A Revolução
dos Serviços Secretos" (Ed. Flammarion). "Se me colocasse na cabeça de um muçulmano, mesmo
moderado, ficaria horrorizado
que estivessem bombardeando
um país islâmico."
Os bombardeios, segundo ele,
resultam de um modelo de combate que vem sendo adotado desde a Guerra do Golfo (91) e está
hoje revelando suas limitações
diante de formas inéditas de ataque. No lugar do combate feito
com amplos recursos tecnológicos, será preciso preparar as forças humanas para agir com mais
agilidade, reforçar os serviços de
informação e estar apto para enfrentar a guerra midiática.
O almirante Lacoste, 77, participou da Resistência francesa. Foi
comandante da Escola Superior
de Guerra Naval e chefe do gabinete militar do primeiro-ministro
Raymond Barre, nos anos 70. Na
década de 80, atuou como chefe
da Esquadra do Mediterrâneo e
como diretor-geral de Segurança
Externa do governo François Mitterrand. Na reserva, mantém intensa atividade como professor.
Folha - O sr. acha que as forças
americanas e britânicas farão ataques por terra no Afeganistão?
Pierre Lacoste - Tomando as lições do passado, penso que os
americanos vão fazer de tudo para evitar serem pegos nas armadilhas de uma guerra no solo.
Folha - Armadilhas?
Lacoste - Falo de maneira mais
histórica. Estou certo de que um
homem como o general Colin Powell guardou a lembrança do
Vietnã. E, entre os responsáveis
militares americanos, ele será
aquele que falará aos políticos:
"Vietnã, nunca mais". Ele já agiu
assim na Guerra do Golfo, e acho
tranquilizador para os EUA que
seja hoje o secretário de Estado.
Folha - O que há de comum com o
Vietnã? Os EUA não podem ganhar?
Lacoste - O que há de comum é
tão velho quanto a história. É a
mesma coisa que se passou com
Napoleão na Espanha e nas guerras de colonização. Não é o enfrentamento de duas armas equivalentes que vemos, mas de uma
estratégia de guerrilha contra forças armadas organizadas. No Afeganistão, tudo se complica mais
ainda devido ao terreno difícil do
país. Faço apenas uma comparação histórica, pois não sou oficial
da armada de terra.
Folha - Como vencer a guerra?
Lacoste - Quando da tomada de
poder pelo Taleban, houve o lado
espetacular das armas, da batalha
contra as outras facções no Afeganistão, mas houve outra coisa,
menos espetacular, que foi a batalha do dólar. Dando somas consideráveis aos chefes de clãs do país,
o Taleban fez com que eles se ligassem a sua causa. Penso que hoje deveria ser utilizada a mesma
estratégia, num outro sentido.
Folha - Quer dizer, os EUA deveriam dar dólares aos chefes de clãs?
Lacoste - Não os EUA diretamente. Como nas guerras na Europa e na Renascença, é sempre
com muito dinheiro que elas são
ganhas. Penso que a melhor coisa
a fazer é usar estratégias indiretas.
Folha - A captura de Bin Laden é
realmente importante?
Lacoste - Ela é sobretudo importante para a opinião pública americana. Acho que é preciso considerar o que se passa hoje como
uma guerra de informações. E, no
teatro da guerra da informação, é
preciso reconhecer que os extremistas islâmicos ganharam uma
grande vitória. Provocaram um
choque midiático extraordinário,
mundial. Quem poderia sonhar
com uma publicidade tão eficaz?
Folha - O que deveria mudar no
modelo dos EUA de fazer guerras?
Lacoste - É preciso tirar lições de
todos os conflitos de depois da
Guerra Fria. É preciso ter forças
muito mais ágeis. É preciso reforçar tudo que é informação humana. É preciso ter aproximações
multivariadas. Tudo isso coloca o
modelo em questão.
Folha - Por que a França está tendo participação discreta na guerra?
Lacoste - Não sei exatamente.
Minha opinião pessoal é que estou feliz que não haja aviões franceses bombardeando o Afeganistão. Esses bombardeios são extremamente negativos para a imagem do Ocidente. Se eu me colocasse na cabeça de um muçulmano, mesmo moderado, hoje -isso está nos jornais-, eu ficaria
horrorizado que estivessem bombardeando um país islâmico. Eu
sei disso, porque foi a mesma coisa na Sérvia: hoje, as vítimas desse
tipo de combate e bombardeios
são formadas em 80% por civis.
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