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Em Teerã, iranianos exprimem desilusão e crítica
MOUNA NAIM
DO "LE MONDE", EM TEERÃ
Fazia muito frio no mercado de
Tajrish, na zona norte de Teerã,
na segunda-feira, 16 de fevereiro.
Mas o mau tempo não desanimava uma multidão de fregueses que
buscavam objetos de todo o tipo,
desde roupas baratas até artigos
de mercearia finos.
Não fosse por dois ou três adolescentes perdidos na multidão,
distribuindo folhetos em favor de
alguns candidatos, não haveria
indício nenhum das eleições legislativas de hoje.
Comerciantes e compradores
estão ocupados com seus afazeres, indiferentes a qualquer distração. Nesse microcosmo de pelo
menos uma parte da sociedade de
Teerã, onde jovens e velhos, ricos
e pequenos burgueses se movimentam lado a lado, é difícil encontrar um eleitor que se diga disposto a ir às urnas.
Elas são três garotas adolescentes usando a roupa vista como
ideal, "correta", envoltas num
chador negro que arredonda seus
rostos jovens e esconde seus corpos. A julgar por sua aparência,
elas devem corresponder à imagem estereotipada que se tem das
mulheres favoráveis aos conservadores. Ledo engano.
Uma delas, Elham, diz que vai
votar, sim: "Esse é um direito
meu, e um dos candidatos é satisfatório. Meu pai e minha mãe,
meus irmãos e minhas irmãs vão
fazer o mesmo". A explicação é
convincente, mas há um problema: o candidato é seu futuro cunhado. Sem que lhe perguntemos
mais nada, Elham acrescenta:
"No meu colégio, nenhum jovem
com idade para votar vai fazê-lo".
Somayé, 23, que a acompanha,
acrescenta: "Se não me pagarem,
eu não voto. Nada neste país vale
a pena se não formos pagos em
troca. Eu votei nas duas últimas
eleições legislativas, mas cheguei
à conclusão de que o esforço não
vale a pena".
"Amor" pelos EUA
Ali perto, a jovem estudante de
línguas Somaz, 20, faz uma avaliação diferente, mas também audaciosa da classe política de seu país.
Ela diz que não vai votar porque
não está satisfeita nem com o presidente nem com o país, porque
estes não atendem às suas aspirações, especialmente no que diz
respeito "à liberdade de expressão
e de viver".
Nas últimas eleições, Somaz
imaginava que os reformistas fossem melhorar as coisas. "Mas,
desde que chegaram ao poder,
eles passaram a pensar apenas neles mesmos, e as coisas foram de
mal e pior", assinalou, com veemência, como que desejosa de aliviar uma raiva que a oprimia.
No dia da eleição, Somaz pretende assistir à televisão -às redes nacionais, à BBC e também à
CNN - "sim, as antenas parabólicas são proibidas, mas todo
mundo tem"- e diz que vai continuar a sonhar com os Estados
Unidos, país que ela "ama", embora nunca tenha posto os pés nele. Mas seu pai já foi, e, "lá, o governo governa realmente o país".
Tradução de Clara Allain
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