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A CRISE ATUAL VAI MUDAR O IRÃ?
SIM
Repressão dá força aos oposicionistas
DA REDAÇÃO
A provável vitória da linha dura
na eleição legislativa iraniana de
hoje será curta, e o recrudescimento de seu controle sobre a cena política acabará fortalecendo
os liberais. Impedindo uma reforma gradual do sistema político,
ela alimenta as forças que buscam
uma mudança radical no Irã.
A avaliação é de Shireen Hunter, diretora do programa sobre o
islã do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (EUA) e
autora de "Iran and the World:
Continuity in a Revolutionary Decade" (Irã e o mundo: continuidade numa década revolucionária).
Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha.
(MSM)
Folha - Um escritório do maior
partido reformista iraniano foi fechado hoje [ontem]. O mesmo ocorreu com dois jornais independentes ontem [anteontem]. O que significam essas medidas?
Shireen Hunter - Trata-se de
uma demonstração de força que
tem como pano de fundo a eleição
legislativa. Tudo indica que ela será vencida pela linha dura. Contudo essa vitória será curta, já que o
recrudescimento do controle dos
conservadores sobre a cena política acabará fortalecendo o movimento oposicionista. A linha dura
iraniana está, portanto, cometendo um grande erro.
Afinal, impedindo uma reforma
gradual do sistema político iraniano, ela está alimentando as forças que buscam uma mudança radical. É impossível prever o desfecho da crise atual, mas a vitória
dos conservadores não resolverá
o verdadeiro problema.
Folha - A participação ativa dos
jovens, principalmente dos estudantes, nos protestos poderia ser o
ponto de inflexão da crise?
Hunter - Sim, mas apenas porque eles poderiam servir de catalisadores, não porque sejam extremamente influentes na cena política do Irã. Uma coisa é certa: a
partir da próxima semana, haverá
mais casos de resistência pacífica
ao regime dentro do país e críticas
da comunidade internacional ao
poder central do Irã.
Por outro lado, não podemos
descartar a possibilidade da ocorrência de uma disputa pelo poder
entre os conservadores. Com isso,
se conseguir inserir certas reformas na agenda do Legislativo
após a eleição, a ala mais pragmática da linha dura poderá controlar todo o processo de reforma
política. Essa não é a visão de Ali
Khamenei [o líder supremo], mas
pode estar ganhando força.
Folha - Assistimos hoje ao início
do fim do regime islâmico do Irã?
Hunter - Ele começou a ruir logo
depois da morte de Khomeini [líder da Revolução Islâmica de
1979, morto em 1989]. O fenômeno foi interrompido, no início dos
anos 90, pelo colapso da URSS,
pelo fim do confronto bipolar da
Guerra Fria e pela Guerra do Golfo [1991]. Se tudo isso não tivesse
acontecido, talvez a queda do regime iraniano já tivesse ocorrido.
Há uma contradição básica na
República Islâmica do Irã. Trata-se de uma antinomia, pois os valores republicanos privilegiam o
povo e as instituições, enquanto
os valores que a linha dura chama
de "islâmicos" têm estruturas que
não permitem a existência de instituições republicanas fortes, como órgãos poderosos cujos membros não são eleitos pelo povo.
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