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A CRISE ATUAL VAI MUDAR O IRÃ?
NÃO
Democracia islâmica sai fortalecida
DA REDAÇÃO
As ações recentes das duas correntes políticas existentes no Irã
fazem parte das práticas democráticas. A chamada "crise", que
foi desencadeada pelos reformistas -que buscavam divulgar seus
candidatos-, é, na realidade,
uma dura competição entre as
duas correntes políticas do país.
A análise é de Saeid Zahed, doutor em sociologia política, professor na Universidade de Shiraz
(Irã) e especialista em movimentos sociais iranianos. Leia a seguir
trechos de sua entrevista, por e-mail, à Folha.
(MSM)
Folha - Como o sr. vê a exacerbação da crise política que opõe reformistas a conservadores?
Saeid Zahed - Não creio que seja
acurado dividir as forças políticas
iranianas entre reformistas e conservadores. De qualquer modo,
contudo, as ações recentes das
duas correntes políticas fazem
parte das práticas democráticas.
A chamada "crise" é, na realidade, uma dura competição entre as
duas correntes políticas. Ela fez
com que as forças da segunda corrente política [a dos reformistas]
perdessem sua reputação aos
olhos da população, já que elas
criaram o impasse. Lançando a
crise, essas forças tentaram fazer
uma onda de propaganda a favor
de seus candidatos a postos no
Parlamento. Porém, por ora, sua
aposta não surtiu efeito positivo.
Folha - Isso complica a situação
do presidente Mohammad Khatami, um reformista moderado?
Zahed - Não acredito que Khatami faça parte dos "radicais da segunda corrente política". No jogo
político atual, foram exatamente
esses radicais que perderam sua
boa reputação, não Khatami.
Assim, sem dúvida, aqueles que
concordam com o que defendem
os "radicais da segunda corrente
política" estão gradualmente se
afastando do presidente.
Contudo vale lembrar que essas
pessoas não são muito numerosas, o que faz com que esse fenômeno não mine a legitimidade de
Khatami. Há inúmeros jovens iranianos com tendências reformistas (em ambas as correntes políticas) que ainda o apóiam.
Folha - Essa situação poderá minar os alicerces da República Islâmica do Irã no futuro próximo?
Zahed - Não creio nessa possibilidade. A democracia islâmica está se tornando ainda mais forte
graças aos altos e baixos da cena
política do país. De alguma forma, o povo iraniano pratica a democracia nesses eventos.
Folha - Por que os jovens, sobretudo os estudantes, ainda não se
engajaram no jogo político?
Zahed - Como disse anteriormente, a ala radical da segunda
corrente política deu início à crise
atual para divulgar seus candidatos a postos no Parlamento. Os estudantes e os jovens em geral perceberam que não se tratava de um
movimento original e verdadeiro.
É por isso que eles estão calmos.
Folha - Há divisões entre os conservadores iranianos?
Zahed - É claro que há diferentes
modos de pensar na primeira corrente política. O Conselho de
Guardiães tomou uma atitude extrema nesse caso. Todavia não se
trata de uma cisão definitiva entre
seus membros e o líder supremo
[Ali Khamenei]. Este só tenta moderar todas as forças extremistas
de ambos os grupos políticos.
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