UOL


São Paulo, domingo, 20 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ORIENTE MÉDIO

De acordo com relatório americano, país construiu arsenal com ajuda da Rússia

Síria teria armas químicas desde 73

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Síria desenvolve desde 1973 um complexo projeto de produção e estocagem de armas químicas. Os gases mostarda, VX e sarin são sigilosamente processados nas imediações de Damasco, pelo Cers (Centro de Estudos e Pesquisas Científicas), e por duas outras usinas, localizadas nas cidades de Homs e Saffirah.
Entre 1993 e 1994, o país importou 600 kg de gás nervoso da Rússia, com a intermediação do general Anatoly Kuntsevich, assessor do então presidente Boris Ieltsin (1991-2000).
As ligações privilegiadas entre Moscou e Damasco também permitiram mudanças nos Scud-B e Scud-C. Esses mísseis, dos quais existiriam entre 50 e 80 unidades, têm um alcance de até 300 km e têm agora ogivas capacitadas a transportar 985 kg de carga útil.
Essas informações estão no relatório sobre o programa sírio de armas de destruição em massa elaborado há dois anos pelo CSIS (Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais), em Washington.
O coordenador do trabalho, Anthony H. Cordesman, não menciona em nenhum momento a possibilidade de a Síria atacar alvos norte-americanos. O programa teria outros objetivos: ameaçar seus vizinhos mais próximos ou dissuadir operações contra seu território e que tenham por origem o Iraque ou Israel.
Síria e Iraque têm altos e baixos no histórico de suas relações. Na Guerra do Golfo (1991), Damasco se alinhou à coalizão liderada pelos EUA para forçar Saddam Hussein a desocupar o Kuait.
Israel é um "inimigo histórico". Em 1973, durante a terceira das guerras contra os israelenses, a Síria perdeu num único dia 13 de seus caças Mig-21. Para compensar essa inferioridade, passou a desenvolver mísseis terra-terra.

Opção barata
Sem fôlego para desenvolver um programa nuclear que compensasse as ogivas atômicas que acusa Israel de possuir, a Síria teria partido então para a opção mais barata de arsenais químicos e bacteriológicos.
Não chega a ser propriamente um segredo. Em 1999, o ministro sírio da Defesa, general Mustafá Tlas, publicou um artigo intitulado "Guerra Biológica, um Novo e Eficaz Método de Guerra".
Detalhe importante: o texto não foi editado em árabe. Foi traduzido para o persa e publicado por uma revista militar no Irã. Maneira de dar um recado indireto a israelenses e iraquianos. Com Israel, além do Golã (ocupado em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias), a Síria tem como periódico contencioso o Líbano, que se tornou oficiosamente seu "protetorado" como forma de pôr fim à longa guerra civil (1975-1989).
Cordesman não entra em todos esses detalhes, que no entanto permitem compreender que hoje os EUA, ao pressionarem a Síria, emitem uma advertência cifrada sobre qualquer ação contra suas tropas estacionadas no Iraque e também sobre a integridade de seus aliados israelenses.
O estudo de Cordesman menciona operações fechadas ou abortadas para a compra de mísseis SS-21, da Rússia, e M9, da China, que também forneceu pequenas instalações nucleares, inspecionadas pela ONU desde 1992.
Há, por fim, as armas bacteriológicas, sobre as quais há mais especulações do que certezas. Boa parte das desconfianças se baseiam em informações de um dirigente sírio não identificado, que rompeu com o regime local e se exilou no Ocidente em 1995.

Texto Anterior: Bush parte agora para ataque na frente doméstica
Próximo Texto: Após guerra, cisão no Partido Trabalhista desafia Blair
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.