São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2004

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ANÁLISE

Premiê indiano terá de mudar

LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO

O dilema resultante de um crescimento econômico voluptuoso numa sociedade fortemente estratificada, em que emerge uma classe média urbana beneficiada pelo boom da indústria tecnológica, deve ser o maior desafio do premiê indiano, Atal Behari Vajpayee, 79, em seu novo mandato caso as pesquisas se confirmem na votação que começa hoje.
Mesmo com a reeleição, analistas consultados pela Folha esperam mudanças do novo governo, ainda que ele siga encabeçado pelo longevo Vajpayee. Na agenda política, precisam ganhar espaço a consolidação do secularismo e a busca de um maior equilíbrio social -temas catapultados ao status de prioridade entre as reivindicações da sociedade civil pelas recentes mudanças econômicas.
"Ele [Vajpayee] terá de ser mais moderado. Outras mudanças vão depender da composição da aliança que o BJP [partido de Vajpayee] formar", afirma Sunanda Sen, da Academia de Estudos do Terceiro Mundo da Universidade Jamia Milia, em Nova Déli.
Buscar moderação, explica Sen, inclui flexibilizar a rígida linha nacionalista hindu seguida pelo BJP, ao qual a oposição acusa de ter dividido a sociedade indiana. "Os muçulmanos constituem quase 14% da população e o BJP tem conseguido mantê-los afastados do poder", diz.
Seu colega Kirit Parikh, do Instituto Indira Gandhi de Pesquisa sobre Desenvolvimento, afirma que essa reconfiguração já começou, com o BJP tentando fortemente afastar sua imagem do radical Vishwa Hindu Parishad (VHP), grupo alinhado à coalizão governista. Mas as reformas, diz o professor, devem ser "perseguidas com maior vigor". "O mais importante é que todos sejam tratados de forma igual, independentemente de seu sexo, religião ou casta", afirma.
Num país onde a divisão por castas ainda vigora na prática, embora banida oficialmente, o crescimento econômico e a revolução tecnológica fortaleceram a demanda por oportunidades mais equilibradas e forçaram os políticos a reverem plataformas.
"Mais oportunidades de trabalho, menos desigualdade econômica e social e a proteção ambiental se tornaram prioridades para o eleitorado, além da economia", afirma a professora Sen.
O processo incipiente deve ganhar força em um novo mandato de Vajpayee. "O governo ainda não tem feito muita coisa além de priorizar a construção de estradas por todo o país e a educação -essa última, não suficientemente", afirma Parikh.
Até agora, a revolução tecnológica e o boom econômico estão criando uma classe média urbana inexistente há alguns anos, dona de força política. "Mas a influência do crescimento econômico entre os setores mais pobres é mínima", diz Sen.
"O problema", conclui ela, "é que eu não acho que nem o governo nem a oposição tenham a igualdade social e econômica como prioridade."


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