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ANÁLISE
Premiê indiano terá de mudar
LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO
O dilema resultante de um crescimento econômico voluptuoso
numa sociedade fortemente estratificada, em que emerge uma
classe média urbana beneficiada
pelo boom da indústria tecnológica, deve ser o maior desafio do
premiê indiano, Atal Behari Vajpayee, 79, em seu novo mandato
caso as pesquisas se confirmem
na votação que começa hoje.
Mesmo com a reeleição, analistas consultados pela Folha esperam mudanças do novo governo,
ainda que ele siga encabeçado pelo longevo Vajpayee. Na agenda
política, precisam ganhar espaço
a consolidação do secularismo e a
busca de um maior equilíbrio social -temas catapultados ao status de prioridade entre as reivindicações da sociedade civil pelas
recentes mudanças econômicas.
"Ele [Vajpayee] terá de ser mais
moderado. Outras mudanças vão
depender da composição da
aliança que o BJP [partido de Vajpayee] formar", afirma Sunanda
Sen, da Academia de Estudos do
Terceiro Mundo da Universidade
Jamia Milia, em Nova Déli.
Buscar moderação, explica Sen,
inclui flexibilizar a rígida linha nacionalista hindu seguida pelo BJP,
ao qual a oposição acusa de ter dividido a sociedade indiana. "Os
muçulmanos constituem quase
14% da população e o BJP tem
conseguido mantê-los afastados
do poder", diz.
Seu colega Kirit Parikh, do Instituto Indira Gandhi de Pesquisa
sobre Desenvolvimento, afirma
que essa reconfiguração já começou, com o BJP tentando fortemente afastar sua imagem do radical Vishwa Hindu Parishad
(VHP), grupo alinhado à coalizão
governista. Mas as reformas, diz o
professor, devem ser "perseguidas com maior vigor". "O mais
importante é que todos sejam tratados de forma igual, independentemente de seu sexo, religião
ou casta", afirma.
Num país onde a divisão por
castas ainda vigora na prática,
embora banida oficialmente, o
crescimento econômico e a revolução tecnológica fortaleceram a
demanda por oportunidades
mais equilibradas e forçaram os
políticos a reverem plataformas.
"Mais oportunidades de trabalho, menos desigualdade econômica e social e a proteção ambiental se tornaram prioridades para o
eleitorado, além da economia",
afirma a professora Sen.
O processo incipiente deve ganhar força em um novo mandato
de Vajpayee. "O governo ainda
não tem feito muita coisa além de
priorizar a construção de estradas
por todo o país e a educação -essa última, não suficientemente",
afirma Parikh.
Até agora, a revolução tecnológica e o boom econômico estão
criando uma classe média urbana
inexistente há alguns anos, dona
de força política. "Mas a influência do crescimento econômico
entre os setores mais pobres é mínima", diz Sen.
"O problema", conclui ela, "é
que eu não acho que nem o governo nem a oposição tenham a
igualdade social e econômica como prioridade."
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