São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 2005

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O NOVO PAPA

BIOGRAFIA

Na Alemanha, de soldado a teólogo

Ratzinger, que foi obrigado a fazer parte da Juventude Nazista e do Exército, desertando mais tarde, entrou no seminário aos 12 anos

DA REDAÇÃO

Os cardeais escolheram o alemão Joseph Ratzinger, 78, que foi o braço direito de João Paulo 2º e um estrito defensor da ortodoxia da Igreja Católica nos últimos 23 anos, para ser o novo papa, apesar das afirmações de que ele é idoso ou controverso demais para ocupar o trono de são Pedro.
Ratzinger começou a ganhar atenção ao chegar a Roma, em 1962, como teólogo e conselheiro do cardeal Joseph Frings, de Colônia, na Alemanha, no Concílio Vaticano 2º. Aos 35 anos, ele se converteu numa espécie de referência da teologia e ganhou ainda mais destaque em 1968, quando travou uma luta ferrenha contra o marxismo e o ateísmo.
Em várias ocasiões, Ratzinger declarou que gostaria de se aposentar na Baviera e se dedicar a escrever livros. Mas, recentemente, disse que estava pronto para "aceitar qualquer responsabilidade que Deus colocasse sobre ele".
Ratzinger, agora Bento 16, nasceu na Alemanha pré-nazista em 16 de abril de 1927, em Marktl am Inn, na Baviera. Mas seu pai, Josef, que era policial, mudava de cidade com freqüência, e a família deixou a cidade dois anos depois.
Sua família assistiu à ascensão do nazismo. Seu pai, que tinha fortes crenças antinazistas, foi obrigado a mudar de cidade ao menos uma vez por conta de atritos com simpatizantes do partido. Sua mãe se chamava Maria.
Nos anos 30, depois da aposentadoria do pai, a família de Ratzinger se mudou para Hufschlag, nos arredores da cidade de Traunstein, também na Baviera, na qual Joseph Ratzinger passou a maior parte de sua infância.
Ele começou a estudar latim e grego ainda na adolescência e fala atualmente dez línguas. Em 1939, aos 12 anos, deu o primeiro passo de sua carreira religiosa, entrando no seminário de Traunstein.
Em 1941, Ratzinger, então com 14 anos, e Georg, 17, seu irmão, foram convocados para a Juventude Nazista, pois isso tinha se tornado compulsório para todos os jovens alemães. Pouco depois, como ele ressalta em seu livro "O Sal da Terra" -um dos mais de 40 de sua autoria-, foi dispensado do movimento por causa de sua intenção de se tornar padre.
Em 1943, como diversos outros adolescentes, foi chamado a trabalhar como ajudante na Flak, que era responsável por defesa antiaérea -que defendeu a fábrica da BMW nos arredores de Munique, ainda na Baviera.
Antes de chegar aos 18 anos de idade, Ratzinger seguiu o treinamento básico do Exército alemão (Wehrmacht) ao lado de homens de ao menos 30 anos, que foram convocados pouco antes da queda do Terceiro Reich.
Ele ficou "à disposição" perto de sua cidade natal (não diz onde exatamente), mas não viu sinal de combates com as tropas americanas, que se aproximavam rapidamente, e acabou desertando.
Depois que ele voltou para casa, os americanos finalmente chegaram e fizeram de uma propriedade de seus pais seu quartel-general local. Neste momento, Ratzinger foi identificado como soldado nazista e tornou-se prisioneiro de guerra, vivendo preso num cercado ao ar livre durante semanas.
Ele foi libertado pelos americanos, em junho, porque não havia provas contra ele e retornou a Traunstein, onde ainda viviam seus pais. Em julho de 1945, Georg também voltou ao lar familiar. Ambos os irmãos voltaram, em seguida, ao seminário.
Ratzinger disse em entrevistas subseqüentes que, embora fosse contrário ao nazismo, ele não pôde se opor ao regime abertamente -uma afirmação contestada por alguns especialistas em Segunda Guerra Mundial.
Em 1947, Ratzinger entrou no Herzogliches Georgianum, um instituto teológico associado à Universidade de Munique, também na Baviera. Paralelamente, estudou filosofia e teologia na Universidade de Munique e na Escola Superior de Freising.
Ratzinger foi ordenado padre, ao lado de seu irmão, em 1951. Passou, em seguida, diversos anos estudando e lecionando teologia. Terminou seu doutorado aos 26 anos na Universidade de Munique. Em 1977, tornou-se arcebispo de Munique e de Freising, tendo sido nomeado cardeal meses depois pelo papa Paulo 6º.
Ratzinger era considerado aliado dos liberais da igreja até 1968, quando se disse confuso com os "desvios nihilistas" do movimento estudantil. Tornou-se, então, um ferrenho defensor da ortodoxia católica. João Paulo 2º o nomeou prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé em 1981.
Pianista de talento, Ratzinger se diz fã de Mozart e de Beethoven.


Com agências internacionais

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