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O NOVO PAPA
BIOGRAFIA
Na Alemanha, de soldado a teólogo
Ratzinger, que foi obrigado a fazer parte da Juventude Nazista e do Exército, desertando mais tarde, entrou no seminário aos 12 anos
DA REDAÇÃO
Os cardeais escolheram o alemão Joseph Ratzinger, 78, que foi
o braço direito de João Paulo 2º e
um estrito defensor da ortodoxia
da Igreja Católica nos últimos 23
anos, para ser o novo papa, apesar
das afirmações de que ele é idoso
ou controverso demais para ocupar o trono de são Pedro.
Ratzinger começou a ganhar
atenção ao chegar a Roma, em
1962, como teólogo e conselheiro
do cardeal Joseph Frings, de Colônia, na Alemanha, no Concílio
Vaticano 2º. Aos 35 anos, ele se
converteu numa espécie de referência da teologia e ganhou ainda
mais destaque em 1968, quando
travou uma luta ferrenha contra o
marxismo e o ateísmo.
Em várias ocasiões, Ratzinger
declarou que gostaria de se aposentar na Baviera e se dedicar a escrever livros. Mas, recentemente,
disse que estava pronto para
"aceitar qualquer responsabilidade que Deus colocasse sobre ele".
Ratzinger, agora Bento 16, nasceu na Alemanha pré-nazista em
16 de abril de 1927, em Marktl am
Inn, na Baviera. Mas seu pai, Josef, que era policial, mudava de cidade com freqüência, e a família
deixou a cidade dois anos depois.
Sua família assistiu à ascensão
do nazismo. Seu pai, que tinha
fortes crenças antinazistas, foi
obrigado a mudar de cidade ao
menos uma vez por conta de atritos com simpatizantes do partido.
Sua mãe se chamava Maria.
Nos anos 30, depois da aposentadoria do pai, a família de Ratzinger se mudou para Hufschlag,
nos arredores da cidade de
Traunstein, também na Baviera,
na qual Joseph Ratzinger passou a
maior parte de sua infância.
Ele começou a estudar latim e
grego ainda na adolescência e fala
atualmente dez línguas. Em 1939,
aos 12 anos, deu o primeiro passo
de sua carreira religiosa, entrando
no seminário de Traunstein.
Em 1941, Ratzinger, então com
14 anos, e Georg, 17, seu irmão, foram convocados para a Juventude
Nazista, pois isso tinha se tornado
compulsório para todos os jovens
alemães. Pouco depois, como ele
ressalta em seu livro "O Sal da
Terra" -um dos mais de 40 de
sua autoria-, foi dispensado do
movimento por causa de sua intenção de se tornar padre.
Em 1943, como diversos outros
adolescentes, foi chamado a trabalhar como ajudante na Flak,
que era responsável por defesa
antiaérea -que defendeu a fábrica da BMW nos arredores de Munique, ainda na Baviera.
Antes de chegar aos 18 anos de
idade, Ratzinger seguiu o treinamento básico do Exército alemão
(Wehrmacht) ao lado de homens
de ao menos 30 anos, que foram
convocados pouco antes da queda do Terceiro Reich.
Ele ficou "à disposição" perto de
sua cidade natal (não diz onde
exatamente), mas não viu sinal de
combates com as tropas americanas, que se aproximavam rapidamente, e acabou desertando.
Depois que ele voltou para casa,
os americanos finalmente chegaram e fizeram de uma propriedade de seus pais seu quartel-general local. Neste momento, Ratzinger foi identificado como soldado
nazista e tornou-se prisioneiro de
guerra, vivendo preso num cercado ao ar livre durante semanas.
Ele foi libertado pelos americanos, em junho, porque não havia
provas contra ele e retornou a
Traunstein, onde ainda viviam
seus pais. Em julho de 1945, Georg
também voltou ao lar familiar.
Ambos os irmãos voltaram, em
seguida, ao seminário.
Ratzinger disse em entrevistas
subseqüentes que, embora fosse
contrário ao nazismo, ele não pôde se opor ao regime abertamente
-uma afirmação contestada por
alguns especialistas em Segunda
Guerra Mundial.
Em 1947, Ratzinger entrou no
Herzogliches Georgianum, um
instituto teológico associado à
Universidade de Munique, também na Baviera. Paralelamente,
estudou filosofia e teologia na
Universidade de Munique e na
Escola Superior de Freising.
Ratzinger foi ordenado padre,
ao lado de seu irmão, em 1951.
Passou, em seguida, diversos anos
estudando e lecionando teologia.
Terminou seu doutorado aos 26
anos na Universidade de Munique. Em 1977, tornou-se arcebispo de Munique e de Freising, tendo sido nomeado cardeal meses
depois pelo papa Paulo 6º.
Ratzinger era considerado aliado dos liberais da igreja até 1968,
quando se disse confuso com os
"desvios nihilistas" do movimento estudantil. Tornou-se, então,
um ferrenho defensor da ortodoxia católica. João Paulo 2º o nomeou prefeito da Congregação
para a Doutrina da Fé em 1981.
Pianista de talento, Ratzinger se
diz fã de Mozart e de Beethoven.
Com agências internacionais
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